A Prefeitura de Natal contratou por R$ 512 mil, mensais, duas usinas para tratamento final dos resíduos sólidos da construção civil. Por mês, 24 mil toneladas de entulho devem ser destinadas à reciclagem, segundo projeção da Companhia de Serviços Urbanos de Natal (Urbana). Desse volume, após a separação dos materiais, perto de 20 mil e 400 toneladas (85% do total) podem ser transformadas em nova matéria-prima para reutilização em obras da construção civil.
De acordo com os termos do edital, dessa produção final, a Prefeitura de Natal receberá o equivalente a 20%, ou seja, perto de 4.080 toneladas. O restante do material reciclado – algo em torno de 16,3 mil toneladas – fica com as empresas para fins de comercialização própria. A Urbana contratou as empresas RN Soluções e a Costa & Filhos (Ecobrit) para a execução do serviço.
Pela característica dos resíduos sólidos da construção civil, recolhidos pela Urbana, o processamento deve originar brita corrida, uma espécie de areia reciclada. Esse material pode substituir o piçarro ou saibro (materiais feitos de pequenas pedras e barro) na cobertura de estradas. Levando em conta preços de mercado, o volume de 4.080 toneladas de brita corrida, estimadas, por mês, custa algo em torno de R$ 32,6 mil – o equivalente a menos de 10% do valor pago pelo entulho entregue às duas empresas.
Para chegar a esses dados (de volume e valores) a TRIBUNA DO NORTE considerou a projeção global de volumes que consta no edital da licitação, a previsão do diretor-presidente da Urbana, João Bastos, de que cerca de 85% do resíduo segregado pode ser transformado, e a informação de uma das empresas de que o preço de mercado da brita corrida é de R$ 12,00, por metro cúbico (o mesmo que 1,5 tonelada). Por tonelada de entulho entregue para a reciclagem, o município vai desembolsar R$ 21,30, no caso da Ecobrit (Costa e Filhos Ltda) e de R$ 21,40, no caso da RN Soluções Ambientais.
Ao ser questionado sobre os valores, João Bastos afirmou que o município terá economia significativa, além do “ganho ambiental que é incalculável”. Bastos salientou que, ao contratar as usinas para a reciclagem, o município está cumprindo o que estabelece as Políticas nacional e municipal de Resíduos Sólidos e o programa municipal de reciclagem de resíduos da construção civil (Lei 6298/2011).
“Estou seguro quanto a esta licitação”, afirmou Bastos. “Não tenho dúvida de que, no final, vamos receber mais do que estamos pagando”. Na semana passada, o vereador Fernando Lucena anunciou que encaminhará denúncia ao Ministério Público Estadual por entender que “o município não deve pagar para que uma empresa privada tenha lucro”. No entendimento do vereador, o município deveria fazer parcerias para implantar usina própria.
Projeto dessa natureza chegou a ser discutido em 2007 com o Sindicato das Empresas da Construção Civil (Sinduscon), mas não vingou. Ao utilizar a brita corrida, segundo o diretor adjunto de Obras da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Semopi), Caio Múcio Pascoal, o município pode ter uma economia de até 50% em obras de cobertura de estradas (antes que recebam o asfalto). Nesse caso, haveria economia pela substituição da brita comum, que custa em torno de R$ 90 o metro cúbico.
“A brita corrida é um bom material para fazer base de solo, principalmente, porque o piçarro está escasso. Mas é algo que ainda está começando e não sabemos que uso realmente poderá ter”, afirmou Pascoal. Segundo ele, a partir da produção o município vai avaliar em que serviços o material pode ser utilizado.
O que muda
Para o serviço de reciclagem, a Urbana vai destinar todos os resíduos lançados em via pública ou depositados em containeres da empresa, localizados nas ruas ou nos chamados Ecopontos [Ponta Negra, Baldo e Parque dos Coqueiros]. Hoje, os resíduos sólidos da construção civil, juntamente com poda de árvores, são lançadas em uma área no loteamento Vila São Jorge, no Guajirú, município de São Gonçalo do Amarante, licenciada pelo Instituto de Desenvolvimento do Meio Ambiente (Idema).
Ao chegar nas usinas, os materiais são separados e os resíduos que podem gerar matéria-prima são triturados, em britadores. Na empresa Ecobrit, que iniciou as operações de processamento em maio deste ano, o investimento para montagem do pátio foi da ordem de R$ 4 milhões, incluindo a compra de dois britadores.
Segundo o proprietário Ubirajara Costa, a empresa tem capacidade para processar até 80 toneladas por hora de resíduos. O empresário, que tem 17 anos na coleta de resíduos sólidos em Natal, disse que o produto final, no caso da reciclagem contratada pela prefeitura, dependerá do tipo de resíduo coletado pela Urbana e que será entregue para a reciclagem. Pela experiência que tem não acredita ser possível gerar materiais nobres como a brita.
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