A água fornecida pela Companhia de Águas e Esgoto do Rio Grande do Norte (Caern) sofreu alteração na cor, em alguns bairros da capital, nos últimos dias. O problema foi ocasionado pelo carreamento de barro e assoreamento do córrego que desagua na lagoa do Jiqui. O material foi levado para a lagoa, através do rio Pitimbu, com a força das chuvas que caíram nos últimos dias e é proveniente da construção de dois empreendimentos imobiliários localizados nas imediações da rua Mahatma Gandhi em Nova Parnamirim. Apesar das impurezas no líquido, a Caern afirma que a água está própria para consumo humano.
De acordo com a Caern, cerca de 35% da população foi atingida com o problema. Os índices de cor e turbidez na água bruta da lagoa, divulgados na última segunda-feira, estavam 71,8 e 19,5, respectivamente. Após tratamento, os números passaram para 31,9 de cor e 13,7 de turbidez. Nessas condições, a água da lagoa é misturada com a água de poços tubulares e ficam com valores acima do que é recomendado pelo Ministério da Saúde (MS) que é 15 para cor e 5 para turbidez.
O gerente de Qualidade da Água e Meio Ambiente da Caern, Afonso Holanda, explicou que a empresa realiza exames diversas vezes ao dia para avaliar a qualidade do líquido. Mesmo com os índices acima do recomendado pelo MS, Holanda afirmou que a água pode ser consumida normalmente sem causar dano à saúde “porque passou por todas as fases do tratamento. A ressalva é para lavagem de roupas brancas que podem ficar com a cor amarelada”.
O controle da qualidade da água deve ser acompanhado pela Secretaria Municipal de Saúde. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE tentou contato com a titular da SMS, mas não obteve êxito. O presidente da Agência Reguladora de Serviços de Saneamento Básico do Município do Natal (Arsban), Elias Nunes, também foi procurado, mas ninguém atendeu as ligações telefônicas na Agência.
O professor de engenharia hidráulica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Lúcio Flávio Moreira, discorda da recomendação da Caern com relação ao uso da água. “Se os índices estão acima do permitido pelo MS, não é recomendado o uso humano”, disse. O professor alertou ainda para a necessidade das autoridades tomarem providências para preservação do rio. “O que ocorre com o rio Pitimbu é que, quando chove, abre-se uma ferida. Todos os problemas que existem se potencializam. É preciso um gerenciamento daquela área”, analisa Moreira.
Na última quinta-feira, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema) fez uma vistoria ao trecho do rio Pitimbu localizado às margens da avenida Olavo Montenegro após denúncia do problema feita pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pitimbu (CBH Pitimbu). “Verificamos que parte da calha do leito do Pitimbu encontra-se obstruída. Esse assoreamento é decorrente da movimentação de massas oriundas de algumas obras que estão sendo realizadas próximas ao rio”, disse o diretor geral do Idema, Gustavo Szilagyi.
O órgão constatou que as obras responsáveis pelo escoamento irregular de areia e barro são os condomínios “R1 Casarão” e “Verdes Mares”. Segundo o Idema, as construtoras serão notificadas. “Elas não estão cumprindo uma exigência que está expressa no licenciamento ambiental que diz respeito ao barroamento de materiais”, explicou a assessoria do Instituto. O Idema afirmou ainda que a obra de duplicação da avenida Olavo Montenegro, feita pelo Departamento Estadual de Estradas e Rodagem (DER/RN), não está prejudicando o rio.
“Constatamos que o material que está obstruindo as calhas do rio não é proveniente da obra de duplicação, mas sim das dunas e loteamentos do entorno. Todavia, por já estarmos mobilizados aqui, e por sermos todos órgãos do Estado, colocaremos nossos equipamentos à disposição para o desassoreamento desse material, evitando que o fornecimento de água da Caern seja interrompido”, afirmou a diretora de obras e operações do DER/RN, Francine Goldone. No entanto, até ontem à tarde, nenhuma máquina havia chegado para realizar o serviço de desassoreamento.
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