Notícia publicada na Tribuna do Norte:
Mossoró – Condições climáticas adversas sempre caminharam lado a lado com os produtores do semiárido nordestino. Com a estiagem prolongada dos últimos dois anos, as dificuldades ficaram mais evidentes e os prejuízos, especialmente junto à agricultura familiar, também. Mas no Projeto de Assentamento Oziel Alves, localizado na zona rural do município de Mossoró, um grupo de agricultores familiares dedicado à fruticultura mostra que é possível produzir e colher frutas de qualidade, mesmo com o cenário desfavorável. Somente o cultivo do melão representa uma produção média anual de 180 toneladas por produtor.
Lázaro Mota, que usa irrigação por gotejamento, alterna cultivo do melão com outras culturas. (Foto: Fred Veras)
O solo arenoso, de características inférteis, predomina na região. Mesmo assim, com o auxílio de poços com profundidade média de 300 metros, aliado a consultorias desenvolvidas pelo Projeto de Fruticultura do Sebrae no Rio Grande do Norte, fazem da produção do Oziel Alves uma das mais exitosas, mesmo em período de seca. Ao todo, 12 pequenos produtores se dedicam à fruticultura no assentamento.
“Desenvolvemos um trabalho concentrado em consultorias, com o objetivo de capacitar os pequenos produtores para uma atividade importante na região e que gere emprego e renda. Os resultados são muito significativos, e estamos otimistas com as expectativas futuras”, destaca gestor de Fruticultura do Sebrae-RN, Franco Marinho.
Mesmo com ênfase no cultivo do melão Cantalupe, carro-chefe da produção, os assentados de Oziel Alves investem em outras culturas, do tipo perene, a exemplo da banana e do mamão. A ideia é garantir renda nos períodos do ano em que a produção do melão está paralisada. “A gente sempre sentia dificuldades quando a colheita de melão passava, foi aí que veio a orientação do Sebrae para diversificar as plantações, com a banana e o mamão. As consultorias tem ajudado muito, e estamos bem satisfeitos”, ressalta o produtor Lázaro Mota.
A técnica de irrigação por gotejamento é adotada em praticamente toda a área de produção. Apenas nos pomares de banana é utilizado o método da microaspersão, que por meio da pressurização, irriga a área desejada. “Trabalhamos ao longo dos últimos anos ações relativas à análise e ao preparo nutricional do solo, e, em outra frente, capacitamos os produtores com técnicas de manejo das culturas. O trabalho reflete diretamente na qualidade das frutas produzidas, que nada deixa a desejar frente à produção de grandes fruticultores”, assegura Vercélio Lima, consultor do Sebrae-RN.
A produção do Assentamentos Oziel Alves está voltada para o mercado interno, em cidades próximas a Mossoró, como Natal e Fortaleza. Mas também já existe comercialização com o mercado paraibano, principalmente na capital João Pessoa.
Com dois hectares destinados ao plantio da banana, a expectativa é de que sejam colhidas, em média, 120 toneladas do produto ao longo do ano, que compreende duas safras.
Novos nichos mostram que é possível inovar no campo
O auxílio das consultorias e capacitações ofertadas pelo Sebrae-RN aliado a uma visão de mercado aguçada, mostra que é, sim possível, inovar também no campo. Prova disso é que, mesmo de difícil manejo e não sendo uma cultura tradicional na região, o tomate começa a ganhar espaço em meio a pomares de banana e extensas áreas, antes dedicadas ao cultivo do melão.
A explicação para a mudança de comportamento não está diante dos olhos de quem visita a plantação, mas, sim, na elevada demanda existente no mercado, que se mantém aquecido e oferece bons resultados ao longo de todo o ano. “O cultivo do tomate ocorre, geralmente, em ambientes com temperaturas amenas, diferente do que ocorre em nossa região. Mas apesar disso, com o manejo feito de maneira correta é possível alcançar resultados muito positivos”, garante o consultor.
Com 10 mil mudas plantadas, Antônio Elias aguarda, ansioso, a primeira colheita do tomate. A produção pode chegar a uma média de 300 caixas por cada mil mudas plantadas.“Garanto que fácil não é, mas acredito numa boa colheita. A expectativa é que no mês de junho a gente esteja colhendo e enviando para o mercado”, prevê.
O investimento em plantios de culturas perenes não é a única aposta dos agricultores familiares do Oziel Alves para obter produtividade e renda em variados períodos do ano. Atentos às necessidades de produzir frutas cada vez melhores e livres de pragas, os produtores investem também em novas variedades de alguns dos produtos já cultivados. Numa área inferior a um hectare pertencente ao seu Antônio Elias de Sousa, por exemplo, uma parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) garante experimentos com quatro novos tipos de banana.
A ideia é encontrar, entre as variedades Princesa, Grand Nane (Nanica), Prata e Pratinha, uma substituta para a banana maçã, altamente susceptível a pragas, como o Mal do Panamá, que facilmente destrói os pomares. Apesar de ainda está em fase de testes, o agricultor assegura que os resultados apresentados pela Grand Nane, variedade mais exportada em todo o mundo, são estimulantes.
“Apesar da dificuldade de encontrar mercado aqui na região, estou muito satisfeito com a produção da banana conhecida por nós como nanica, e pretendo investir nesta variedade”, atesta. Parte da produção já está sendo comercializada com mercados do interior da Paraíba, onde a aceitação do produto encontra menos resistência.
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