Deu na Folha de São Paulo:
A seca que devasta lavouras e rebanhos no sertão nordestino avança sobre as áreas urbanas, provocando racionamento ou falta de água potável em 158 cidades, segundo levantamento da Folha nos nove Estados da região.
Dezenas de reservatórios que abastecem as cidades entraram em colapso. Carros-pipa, que até então atendiam apenas a zona rural, são vistos agora no centro de pequenos e médios municípios.
O Exército, que controla a distribuição de água em oito dos nove Estados nordestinos -além do norte de Minas Gerais-, socorre cerca de 2,84 milhões de pessoas. Só o Maranhão, com uma cidade em situação de emergência, não consta da lista dos militares.
Sem previsão de chuva para os próximos meses, 997 dos 1.794 municípios do Nordeste decretaram estado de emergência. A Secretaria Nacional de Defesa Civil já reconheceu 813 pedidos.
Em situação de emergência, o prefeito de um município atingido pela seca recebe de maneira mais fácil recursos do governo federal.
GRAVIDADE
A Bahia enfrenta a situação mais grave. Das 417 prefeituras do Estado, 244 decretaram emergência.
Em 57 cidades há racionamento de água para consumo humano nas áreas urbanas. O abastecimento em outros 22 municípios deverá ser reduzido ainda neste mês.
“A distribuição de água nesse regime é a única forma de garantir a continuidade do serviço, até que volte a chover”, disse o presidente da Embasa (Empresa Baiana de Águas e Saneamento), Abelardo de Oliveira Filho.
Em Pernambuco, 93 municípios (de 185) decretaram emergência; 20 dos 100 reservatórios monitorados pelo governo entraram em colapso. Outros 18 estão com menos de 30% da capacidade.
Segundo a Compesa (Companhia Pernambucana de Saneamento), há racionamento ou deficit no fornecimento de água em 14 cidades.
Em Lajedo (196 km de Recife), o agravamento da seca obriga a população a conviver com apenas dois dias de água nas torneiras e 20 sem.
A cidade de Cedro (481 km de Recife) está sendo abastecida por cinco poços artesianos, mas a capacidade de produção deles representa apenas 60% do consumo. A barragem Barrinha, que atendia o município, entrou em colapso há dois meses.
Na Paraíba, onde 77% dos 223 municípios estão em emergência, o nível dos reservatórios está, em média, entre 52% e 55% da capacidade. Segundo o governo do Estado, esse percentual deveria ser superior a 90% nesta época do ano. Na zona rural, a situação já é crítica: 101 municípios dependem hoje dos carros-pipa.
No Rio Grande do Norte, o governo afirma gastar R$ 200 mil por mês para levar todos os dias 160 mil litros de água às áreas urbanas de Luís Gomes (442 km de Natal) e Antônio Martins (375 km de Natal). Os reservatórios da região secaram, e as cidades dependem dos carros-pipa.
Em Luís Gomes, onde vivem 9.610 pessoas, há quem ainda pague por mais água. Para garantir o abastecimento da sua pizzaria, Raimundo Fernandes compra de mil a 2.000 litros por semana.
“Desde novembro a situação está assim. Antes, a gente tinha água na torneira.” O microempresário paga R$ 20 por mil litros. No final do mês, o gasto extra chega a R$ 160.
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