Deu no caderno de Economia do Novo Jornal:
Não é de hoje que Pernambuco é considerado a “pedra no sapato” do Rio Grande do Norte. Que o diga a história da refinaria. Agora, o quase vizinho novamente sai na frente. Esta semana foi anunciado que o estado vai concretizar em breve a instalação de duas fábricas de equipamentos eólicos. A informação casa com outra: a de que até o final da semana que vem, a Alstom, gigante francesa na produção de equipamentos do tipo, anunciará a localização de sua nova fábrica no Brasil. Não será surpresa se ao invés do Rio Grande do Norte ou do Ceará, os franceses escolham os pernambucanos.
Para entender esse diferencial que tem contribuído para Pernambuco se tornar um centro atrator de empresas, o NOVO JORNAL falou com o coordenador de Desenvolvimento de Negócios do Complexo de Suape, Leonardo Cerquinho. A entrevista serve ainda para entender tudo o que falta ao RN.
O fato é que Pernambuco saiu na frente quando montou uma equipe de oito pessoas que trabalham somente voltadas para o segmento de energia eólica.
Só para dar uma ideia do nível do trabalho, o Governo de lá firmou convênio com a International Finance Corporation (IFC), um braço do Banco Mundial, para que essa equipe tivesse acesso ao know-how e treinamento para a captação de investimentos externos.
A partir daí, um braço da IBM denominado IBM – PLI foi contratado para diagnosticar a competitividade de Pernambuco na atração de investimentos no setor de energias renováveis (eólica e a solar).
Com base neste estudo, os pernambucanos traçaram um plano de ação para a captação de investimentos no setor. E colocaram o plano em prática.
Após isso, os especialistas já sentaram com mais de 100 empresas do ramo ao longo dos últimos meses e viram três negócios se concretizarem – a dinamarquesa LM Wind Power investirá R$ 100 milhões em uma fábrica de pás; e a espanhola Gestamp, fabricante de torres presente desde 2009, vai ampliar suas operações com mais duas plantas industriais e investimentos de R$ 65 milhões; e a Impsa, que já está produzindo aerogeradores em solo pernambucano.
Além disso, segundo Leonardo Cerquinho, ter um porto bem estruturado é fundamental. “Um componente muito importante é a questão portuária. Eu diria que é fundamental para a indústria eólica. Por outro lado tem a questão do suporte do governo, que montou uma equipe especializada na área para dar suporte aos empreendimentos”, destaca. Ele destaca que a equipe conhece desde os maiores gargalos até as principais necessidades do setor.
Mais diferenciais
Ele observa que os maiores diferenciais do Complexo de Suape se resumem à localização, central em relação ao Nordeste; à estrutura portuária existente (a profundidade do terminal é de 15,5 metros – três metros a mais que o Porto de Natal); e ao suporte governamental.
“É um porto planejado, com boa profundidade, tem as vias internas largas e planejadas, e não sofre interferência urbana. Os equipamentos podem transitar tranquilamente”, enumera. O Porto de Suape fica a 35 quilômetros da capital Recife e conta com área disponível para abrigar todas as indústrias de eólica. Esta semana o governo de Pernambuco anunciou mais dois empreendimentos: a fábrica de pás da LM Wind Power e mais duas plantas da Gestamp, uma de corte e molde das peças, que tem inauguração prevista para outubro, e uma produtora de flanges – anéis que fazem a união dos grandes cilindros que formam as torres -, com início das operações previsto para o final de 2013.
A Além do incentivo nacional do Confaz, que zera o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) na saída dos equipamentos, Pernambuco foi além e zerou o ICMS das empresas que fornecem para os fabricantes de aerogeradores, medida que incluiu toda a cadeia produtiva.
Agora, duas novas grandes empresas do setor serão anunciadas em breve pelo governo de Pernambuco. Os nomes, porém, permanecem em sigilo. “Só divulgamos qualquer negociação quando chegamos à conclusão de que a empresa está vindo e ela permite qualquer tipo de divulgação. Para ser bem sincero, não tenho nada para falar da Alstom. As negociações estão bem avançadas com dois grandes investidores”, disse Leonardo Cerquinho.
Falta de estrutura exclui o RN
Até cinco anos atrás o mercado de equipamentos eólicos praticamente inexistia no Brasil. Segundo o diretor-presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne) e ex-secretário estadual de Energia, Jean-Paul Prates, a evolução desse mercado ainda está em curso, mas muito já se caminhou. O Brasil tem hoje fábricas de naceles e turbinas da Alstom (Bahia), Wobben (CE e SP), Impsa (PE), Weg (SC), Gamesa (BA), General Electric (SP e BA), Vestas (CE), Furhlander (CE), além de indústrias de torres em São Paulo, Paraná, Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Sul e RN e de pás – anunciadas ou instaladas – em SP, CE e PE.
Como o BNDES tem colocado restrições ao financiamento de projetos que não adquiram equipamentos e materiais fabricados no Brasil ”as fábricas começaram a buscar se estabelecer em locais onde conciliem proximidade das áreas de destinação e instalação final, com logística adequada para importação de componentes e eventual exportação da produção”.
Segundo Prates atrair investidores de equipamentos eólicos não era um trabalho de política energética, mas sim de política industrial e de planejamento logístico do Estado.
Segundo ele, por conta da ausência de uma solução portuária adequada, combinada à falta de infraestrutura de acesso terrestre fazem com que as fábricas de equipamentos sequer cogitem o RN como alternativa de instalação.
“Elas preferem analisar as alternativas no Ceará próximas a Pecém; em Pernambuco próximas a Suape; e na Bahia próximas a Camaçari”, explica.
Na opinião do ex-gestor, o Estado tem que definir de uma vez qual modelo de desenvolvimento deseja seguir. “Tal modelo não passa necessariamente pelos mesmos atributos de PE e CE, até porque a solução portuária adequada inexiste e, pelo jeito, continuará assim por muito tempo. Há soluções para sair deste ‘labirinto logístico-industrial’, e o governo já deve conhecê-las, uma vez que prenuncia tornar-se um pólo industrial do setor”, conclui.
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Benito Gama, foi procurado para falar sobre o assunto e explicar o que o RN anda fazendo para atrair empresas . Por meio de sua assessoria, ele informou que não tinha tempo para atender à reportagem.
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