Hotéis do RN se adaptam, com atraso, a sistema de classificação

18 de fevereiro de 2013

Notícia publicada no caderno de Economia do Novo Jornal:

A rede hoteleira potiguar, uma das maiores do país, será reavaliada a partir de agora. Oitenta e quatro hotéis, 59 pousadas, nove resorts, quatro albergues, sete flats/apart-hotéis e um condomínio-hotel terão que passar por um criterioso processo de avaliação para ter acesso à nova classificação do Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem (SBClass), criado em 2011 pelo Ministério do Turismo. Obter o novo status ainda não é obrigatório, mas quem não realizar o processo fica proibido de usar a classificação antiga de estrelas em sua divulgação. Até o fim deste semestre, a Secretaria Estadual de Turismo passará a fiscalizar cada estabelecimento.

Rede hoteleira de Natal é uma das maiores do país e foi fator importante para garantir a cidade entre as sedes da Copa do Mundo Fifa 2014. (Foto: pacotesviagensnordeste.com)

Rede hoteleira de Natal é uma das maiores do país e foi fator importante para garantir a cidade entre as sedes da Copa do Mundo Fifa 2014. (Foto: pacotesviagensnordeste.com)

A classificação tem como objetivo enquadrar a rede hoteleira brasileira nos padrões internacionais, com vistas à Copa do Mundo de 2014. Mas não vai ser tão fácil. Antes de solicitarem a avaliação e posterior classificação, os hotéis terão que se inscrever no Cadastur – o cadastro oficial do Ministério do Turismo para todos os produtos e serviços relacionados à cadeia, inclusive meios de hospedagem. Há pelo menos dois estabelecimentos potiguares que estão em situação irregular, não cadastrados no sistema.

No Rio Grande do Norte, caberá ao Instituto de Pesos e Medidas (Ipem), realizar a fiscalização. Na semana passada o órgão lançou oficialmente o sistema. Um hotel da Via Costeira, que pediu para não ter o nome divulgado, já deu entrada no processo. O Ipem fez a primeira visita e em até 45 dias terá concluído a avaliação. O empreendimento é um resort cinco estrelas segundo a classificação antiga (a ABIH/RN tem quatro afiliados desse nível), e que almeja se manter no mesmo padrão. “O SBClass será uma segurança maior para o hóspede e trará mais credibilidade para o hotel”, diz o diretor do Ipem/RN, Carlson Gomes.

Tida como uma das responsáveis pela vinda da Copa do Mundo para Natal, a rede hoteleira potiguar conta hoje com nove resorts, dos quais quatro estão em Natal, mais precisamente na Via Costeira: Marsol Beach Resort, Ocean Palace, Pestana e Serhs. Juntos, os resorts dispõem de 2.750 leitos. Mas será que esses hotéis estão preparados para receber os turistas internacionais que virão para a Copa? As novas exigências não obrigarão os estabelecimentos a fazerem muitas adequações? Será que eles estão preparados para realizar as mudanças?

Estas foram algumas das questões levantadas pelo NOVO JORNAL junto aos próprios empresários do trade, Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) e Secretaria Estadual de Turismo. Segundo as fontes ouvidas, Natal está, sim, pronta pra Copa. “Não teremos problema para receber o turista internacional”, garante o diretor junto à ABIH Nacional, George Gosson. A única dificuldade ainda existente é relacionada ao idioma; é incipiente a quantidade de mão de obra potiguar que possui a segunda língua. “Ainda está muito aquém do que precisamos.
Estamos sempre pedindo a ampliação na oferta de vagas dos projetos do Minitério do Turismo em parceria com o Senac, porque precisamos capacitar o máximo de pessoas possível na segunda língua”, diz Gosson.

O número de leitos também promete não ser uma dificuldade. Segundo levantamento da Secretaria Estadual de Turismo de outubro de 2012, a capital potiguar possui 27.490 leitos. Outros 1.634 estão em implantação. Até 2014 serão implantados mais 3.068 e, no ano da Copa, Natal terá 32.192 leitos para 214 meios de hospedagem. Atualmente, segundo o Cadastur, existem 164 meios de hospedagem no Rio Grande do Norte.

SBClass exige mais dos hotéis

O Sistema Brasileiro de Classificação dos Meios de Hospedagem (SBClass) foi criado em 2011, mas só agora foi implantado no Rio Grande do Norte. O novo sistema extingue definitivamente a classificação antiga por estrelas dos estabelecimentos; agora, para obter as estrelas, eles terão que preencher outros requisitos. Segundo George Gosson, na classificação antiga havia muitos critérios subjetivos, que dessa vez foram retirados pelo Ministério do Turismo.

Agora, para um hotel ser considerado três estrelas, precisa ter serviço de recepção aberto por 18 horas e acessível por telefone durante 24 horas; banheiros com três metros quadrados, troca de roupas de cama em dias alternados, serviço de lavanderia, sala de estar com televisão e canais de TV por assinatura em 100% dos apartamentos. Um quatro estrelas, por sua vez, deve ter serviço de recepção aberto 24 horas, café da manhã no apartamento, troca de roupas de cama e de banho diariamente e acesso à internet nas áreas sociais e nos apartamentos.

Um hotel para ser considerado cinco estrelas (atualmente, quatro filiados à ABIH/RN têm esse padrão) precisa ter banheiros com quatro metros quadrados, disponibilidade de apartamentos com banheira, salão de eventos, restaurante, bar e área de estacionamento com serviço de manobrista. Segundo a coordenadora regional de serviços turísticos da Setur, Graça Pessoa, para pedir a classificação, o hotel precisa estar inscrito regularmente no Cadastur e enviar uma solicitação ao Ministério do Turismo. Essa solicitação é, por sua vez, encaminhada à secretaria local, que repassa para o Ipem. O órgão, então, procura o hotel e agenda a primeira visita. Todo o processo é pago pelo empresário e pode variar de R$ 838,64 a R$ 5.031,34, de acordo com o porte do estabelecimento.

Conforme ela enfatiza, hoje os estabelecimentos não podem mais divulgar que possuem estrelas e a partir de uma portaria que o MTur irá baixar até o fim do semestre, a Setur poderá fiscalizar e punir as empresas que estão fazendo a divulgação indevidamente. Hoje a fiscalização funciona “mais ou menos”, como ela define, exatamente porque não existe uma legislação que embase o processo. “Agora, quem não aderir ao SBClass, não vai poder usar a classificação. Vamos ser treinados e acreditamos que ainda neste semestre começaremos a fiscalização”, emenda.

Novo sistema vai coibir a propaganda enganosa

O Ocean Palace, eleito o hotel oficial da Copa do Mundo de 2014, já está de olho nas mudanças que terá que fazer depois do SBClass. O gerente geral Lauri Pivoto explica que os ajustes irão versar, principalmente, na comunicação interna do resort, que passará a incluir indicações também em espanhol – além do inglês e português. Os formulários de preenchimento do hotel também terão que ser modificados. Considerado um resort cinco estrelas pela classificação antiga, a idéia do estabelecimento é permanecer no mesmo patamar.

Pivoto defende a nova classificação como sendo importante para o mercado hoteleiro, já que muita gente hoje divulga ser cinco estrelas, quando na prática não oferece todos os serviços exigidos pelo status. “É importante para a indústria hoteleira, para os hóspedes, para o agente de viagens e as operadoras. Passamos a ter um padrão e a comparar estabelecimentos iguais”, acrescenta. A classificação dos produtos e divulgação dos preços se tornarão mais fáceis e claras, na opinião do gerente.

O impacto maior será, porém, para o mercado internacional, que segundo Pivoto, valoriza demais a classificação de um hotel antes de escolhê-lo para se hospedar. O padrão que o Brasil está adotando agora já é seguido em toda Europa. No Ocean, os 315 apartamentos já estão oficialmente habilitados para hospedar os turistas que virão para o Mundial da Fifa.

Dono de um dos hotéis mais antigos da Via Costeira, o Natal Mar Hotel, o empresário Ramzi Elali diz que o SBClass irá proporcionar ao Ministério do Turismo ter informações atualizadas sobre a cadeia hoteleira potiguar, o que hoje não acontece. A ferramenta servirá, também, como um balizador do padrão dos hotéis, já que muitos proprietários atribuem o status com determinadas estrelas sem sequer saber as exigências para tal. As operadoras de viagem, por sua vez, fazem a própria classificação, o que torna o mercado confuso para Elali.

Na visão do empresário, a hotelaria potiguar está bem preparada para a Copa do Mundo, até porque sempre teve tradição de receber turistas internacionais, embora neste momento esse turismo esteja enfraquecido. “Temos hotéis de padrão internacional que podem atender a turistas de todas as classes sociais”, defende. No caso do Natal Mar Hotel, classificado como de quatro estrelas, Elali diz que já está de olho nas adequações que terá que fazer. Serão apenas algumas atualizações no atendimento e treinamento de pessoas.

“As adaptações são muito poucas porque eu sempre tentei manter o hotel dentro do padrão quatro estrelas de nível internacional”, declara. Na opinião de Ramzi Elali, a maioria dos hotéis localizados na Via Costeira, Ponta Negra e Praia do Meio já está dentro das normas exigidas pelo MTur, faltando apenas oficializar junto ao SBClass. O que ele acredita que acontecerá cedo ou tarde, independente de ser opcional ou obrigatório.

Classificação define quem poderá usar ‘selo de qualidade’ 

O novo sistema de classificação do MTur não irá avaliar a qualidade dos hotéis brasileiros, mas apenas classificá-los conforme a estrutura disponível. É o que explica o diretor junto à ABIH Nacional, George Gosson. O empresário acrescenta que, para ter acesso ao SBClass, é preciso estar regularizado no Cadastur. Este sim é obrigatório, enquanto o primeiro ainda é opcional. O que não exime os hoteleiros da responsabilidade de investir no novo sistema, mas é preciso haver incentivos, na opinião de Gosson.

“É voluntário, mas tem que ter algum incentivo para que as empresas façam a adesão. Como a concorrência vai fazendo, todo mundo vai querer fazer também, isso é natural. Mais cedo ou mais tarde todo mundo vai ter a sua”, acredita o diretor. Ainda segundo George, depois da classificação, o próximo passo do MTur é criar um sistema para avaliar a qualidade dos serviços oferecidos. Uma espécie de selo de qualidade que será emitido para os meios de hospedagem, mas isso ainda não tem data para acontecer.

Mesmo que os estabelecimentos hoje não possam usar a classificação em estrelas, George Gosson define como “muito bom” o nível de hospedagem existente no Rio Grande do Norte atualmente. Se comparado com outros estados brasileiros e até outros destinos turísticos internacionais, o RN não fica atrás. Por ser relativamente nova, construída em média dez anos atrás, o diretor da ABIH acredita que a hotelaria potiguar não terá que fazer muitas adequações para entrar no SBClass.

“Não tem muito que ser feito, porque várias melhorias foram sendo feitas ao longo dos anos por exigência do próprio mercado e dos consumidores”, opina. Outros programas de qualidade implantados no estado também ajudaram nessa melhoria, como o Turismo Melhor do Sebrae, o ISO 9000 e o Programa de Alimento Seguro do Senac, que já certificaram vários hotéis ao redor do Estado.

Setur acredita que rede não encontrará dificuldades

O secretário estadual de Turismo, Renato Fernandes, diz que a rede hoteleira potiguar é um dos maiores orgulhos do estado e uma das responsáveis por trazer a Copa do Mundo para Natal. Por isso mesmo ele acredita que os 164 meios de hospedagem existentes hoje no RN não encontrarão dificuldades em responder aos critérios estabelecidos pelo novo sistema de classificação. De acordo com ele alguns estabelecimentos já estariam buscando uma qualificação maior dos produtos e serviços, antes mesmo de o processo começar.

“Alguns hotéis já estão adequando a estrutura para estar dentro dos padrões internacionais exigidos por essa classificação. Eu tenho certeza que não vamos encontrar muitas dificuldades”, aposta Fernandes. Segunda maior rede hoteleira em quantidade de leitos do país e primeira em proporcionalidade (leitos por habitantes) de acordo com o secretário, os estabelecimentos já estão fazendo as adequações exigidas pela Fifa para deixar a rede hoteleira dentro dos padrões mundiais.

“Estamos mais do que preparados para a Copa”, garante o gestor. Apesar de a ABIH/RN reclamar que ainda há uma necessidade latente pelo segundo idioma, o secretário destaca que muitos hotéis saíram na frente e não esperaram o poder público para qualificar seu pessoal. Mas destacou, também, os investimentos que o governo do estado vem fazendo na qualificação dos artesãos, taxistas, Polícias Militar e Civil e Corpo de Bombeiros (os cursos começam agora em março), idiomas – inglês, espanhol e italiano e informática. “O que temos hoje atende tranquilamente as exigências do turista internacional e da Fifa”, garante.

O Governo do Estado pretende retomar em breve as conversas com o Banco do Nordeste sobre uma linha de crédito especial para a modernização dos hotéis do Estado. O diálogo começou ano passado, ainda na gestão de José Maria Vilar, e Renato Fernandes esperava o fim do Carnaval para retomar a negociação com o atual superintendente, João Nilton Castro Martins. Apesar de a adesão ao SBClass por enquanto ser voluntária, o secretário não acredita que isso trará prejuízo para o trade potiguar.

“Se toda rede brasileira está se adequando a isso, os nossos hotéis também irão fazer. Não faz sentido não ter a classificação, todo mundo vai querer investir nisso. E quem não puder, terá a possibilidade dessa linha de crédito com juros mais baixos que estamos negociando. É um padrão mundial, então a rede hoteleira vai querer ser vendida internacionalmente com essa qualificação”, acredita.

164 é o número de meios de hospedagem existentes hoje no RN

84 hotéis

59 pousadas

9 resorts

4 albergues

7 flats/apart-hotéis

1 condo-hotel

27.490 leitos em Natal atualmente

32.192 leitos em Natal em 2014

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