A Refinaria Potiguar Clara Camarão (RPCC) recebeu ontem da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a autorização para passar a processar 45 mil barris por dia de petróleo. Fica assim à frente da Refinaria de Manaus (REMAN) quanto a capacidade de processamento. Uma conquista importante para o RN e que deve ser comemorada como base para uma árdua jornada pela revitalização do setor de petróleo no Estado.
A nova capacidade representa a possibilidade de refinar 77,5% da produção de petróleo atual de toda a Bacia Potiguar (que inclui campos no Rio Grande do Norte e no Ceará).
Como Secretário de Estado de Energia à época da fundação da RPCC em 2009, tive a felicidade de ser não apenas testemunha, como partícipe direto da ampla mobilização da sociedade civil organizada do RN, do Governo do Estado e de toda a bancada parlamentar federal e estadual em uníssono, com a Petrobras e o Governo Federal. A principal meta estabelecida foi a de conseguir processar todo o petróleo produzido no Estado – historicamente um dos mais importantes para a produção nacional e ainda o maior produtor nacional de petróleo terrestre, agora em vias de começar operações em águas profundas também com perspectivas de incrementar a produção local de cru. Estamos quase lá.
Hoje, a nossa refinaria já é responsável por garantir a auto-suficiência do Estado em diesel, gás de cozinha, gasolina e querosene de aviação (QAV), e exporta estes produtos refinados para os estados vizinhos. Tudo isso com qualidade de alto padrão. A gasolina da RPCC, por exemplo, é hoje a melhor do Brasil; produzida acima das especificações exigidas pela ANP graças ao ‘blending’ apropriado entre a nafta craqueada advinda da BA e de SP combinada com a nafta de destilação direta daqui.
Vale lembrar também que a RPCC passou recentemente por uma ampliação que duplicou a sua capacidade de produção de QAV. Para isto, contou com a contribuição importante do Governo do Estado que lhe concedeu o diferimento fiscal para o combustível, e possibilitará ao Estado atrair novos empreendimentos conexos, incluindo mas não se limitando ao “hub” da TAM (centro de conexões de vôos a ser localizado no Aeroporto Internacional Aluisio Alves, em São Gonçalo do Amarante), que poderá resultar em investimentos da ordem de 4 a 6 bilhões de reais e na geração de cerca de 8 a 12 mil empregos diretos e indiretos para a região metropolitana de Natal.
Tudo isso, somado a um histórico de gestores e operadores técnicos competentes, faz com que a RPCC seja uma unidade lucrativa apesar de seu porte médio. Foi uma conquista histórica para o Estado, e um sinalizador de novos empreendimentos e investimentos no futuro, com área e pessoal para recebê-los de braços abertos.
Isso porque há nichos específicos nos quais a nossa RPCC deverá trabalhar, sem absolutamente ser sombreada ou entrar em competição direta com as suas vizinhas maiores localizadas em Pernambuco e na Bahia. Por exemplo, como a Refinaria Abreu e Lima (RNEST), de Pernambuco, produzirá apenas diesel e coque para siderúrgica, um das grandes expectativas que se pode nutrir quanto à RPCC é justamente que ela aproveite para se tornar o grande produtor e fornecedor de QAV para o Norte-Nordeste. Se hoje ela já abastece os aeroportos de Natal, João Pessoa, Campina Grande, Fortaleza e Teresina, com investimento relativamente baixo pode atender a todas as demais capitais do Norte-Nordeste uma vez que as suas unidades 260 e 270 se transformaram em ótimas fabricantes deste nobre combustível.
Quanto à sua produção de diesel, há um mercado novo que se descortina: é o diesel S-10 de teor de enxofre ultra-baixo, que hoje, mesmo apesar da produção da RNEST em Pernambuco, ainda é trazido das refinarias do Sudeste para atender as regiões Norte e Nordeste. O investimento em uma unidade de Hidrotratamento (HDT) poderia aprimorar a atual produção de diesel da RPCC, a exemplo do que está sendo feito na Refinaria de Cubatão (RBPC), justamente para atender a estes mercados, via cabotagem. Aqui estaríamos a um terço da distância.
Diante da recente suspensão das atividades de perfuração terrestre em todo o País e o fechamento da planta de biodiesel de Guamaré – que sequer rendeu muita reação entre os líderes políticos e empresariais do Estado, esta é uma boa notícia, que comprova o quão importante e acertada foi a decisão de incorporar a unidade à Área de Refino da companhia, o que permitiu que se dedicasse inteligência especializada para pensar e trabalhar especificamente na sua consolidação e expansão tanto industrial quanto comercial.
Estão de parabéns os gestores e técnicos da Refinaria Potiguar Clara Camarão, que souberam honrar os investimentos da Petrobras na sua expansão e alcançaram sucessivos recordes de processamento e aumentos de capacidade, com ótimos aprimoramentos técnicos e gestão técnica e comercial dedicada e especializada.
A Refinaria Potiguar Clara Camarão prova que tem seu lugar no Plano de Refino Nacional e, com mais esta conquista, demonstra ser a ‘caçula-prodígio’ do sistema Petrobras.