RN – Quase 20 mil casos suspeitos de dengue em seis meses

5 de julho de 2012

Nos primeiros seis meses do ano, quase 20 mil casos suspeitos de dengue já foram notificados pela Secretaria de Saúde Pública do Rio Grande do Norte. Os últimos dados apresentados pelo Programa de Controle da Dengue são referentes à Semana Epidemiológica 24, que corresponde até o dia 16 de junho deste ano. São 19.486 casos suspeitos de dengue em todo o Estado, com 5.154 casos confirmados. Setenta e nove municípios apresentam alta incidência da doença. Natal lidera esse ranking com 7.257 casos. Bairros como Alecrim, Felipe Camarão e Potengi são os que concentram os maiores índices da doença. Mossoró, com 1.451 casos suspeitos, Parnamirim (1.043), João Câmara (728) e Ceará Mirim (595) são os municípios que apresentam os maiores números de casos suspeitos.

A Secretaria Estadual da Saúde Pública  (Sesap) divulga semanalmente o boletim. No mesmo período do ano passado, o RN registrou 13.925 casos suspeitos, sendo 4.515, o que representa um aumento de 89% no número de casos notificados no Estado.No primeiro semestre de 2012, o Rio Grande do Norte já apresenta, até o momento, 35 óbitos suspeitos de dengue, mas apenas seis foram confirmados, oito foram descartados e 21 aguardam confirmação. O grande problema é que o alto índice de letalidade, de 3,64%, contra 3,44% do mesmo período do ano passado, quando o aceitável pelo Ministério da Saúde é abaixo de 1%.

“Percebemos que este ano o número de notificações é um pouco maior que o ano passado e que o número de casos de Febre Hemorrágica de Dengue (FHD), a dengue hemorrágica vemos ela se repetindo mais pela possibilidade de reinfecção, já que temos o sorotipo quatro circulando livremente. Hoje a pessoa tem a possibilidade de ter quatro tipos da doença. A reinfecção é um indicativo da dengue hemorrágica e vemos este ano que esse número está crescendo. Temos um olhar mais criterioso este ano, por conta do D4, que aumenta o número de morbidade e mortalidade. São dois anos semelhantes. Dois anos endêmicos que a diferença está no aumento no número de casos de FHD”, afirma a subcoordenadora de Vigilência Epidemiológica da Sesap, Juliana Araújo. Ela conta que dos 167, seis municípios não repassaram as informações. “Não podemos trabalhar em cima daquilo que não estamos vendo”, afirmou.

Juliana Araújo acredita que deve ser impactado, estampando nos jornais, que o problema da saúde é na atenção primária. (Foto: Heracles Dantas)

Juliana Araújo explicou que desde a introdução do vírus no Estado, há quinze anos, é comum vivermos ano epidêmicos e não epidêmicos, mas que 2011 e 2012 foram considerados anos de epidemia da doença no RN. “A reintrodução de um sorotipo novo no ano passado, que circula esse ano e as pessoas todas susceptíveis a esse sorotipo faz com que passemos novamente pelo processo de um ano epidêmico”, disse. O que caracteriza o ano epidêmico é o número de casos da doença.

“Temos um número esperado, através de estatística e quando o número de casos da doença ultrapassa aquele limite é considerado um ano epidêmico. Esse ano, já entramoso início do ano com limite lá em cima, o que caracterizou um ano epidêmico. Quando está dentro do limite estamos vivendo a endemicidade, a doença dentro dos padrões, não é nem normal, pois o normal era nem ter”, afirma a subcoordenadora de Vigilância Epidemiológica da Sesap.

A partir do momento que se detecta que o Estado está em um ano epidêmico de dengue, Juliana Araújo explica que há uma politica diferenciada de combate, mas a utilização do carro fumacê se não for em ano epidêmico, em situação de surto, caracterizado como surto em alguns municípios, não é utilizado. No entanto, a prevenção não muda, pois desde que a doença foi inserida, tem-se padrões de critérios para o mosquito se desenvolver.

“Nós temos um clima favorável, temos uma intermitência de água em nosso estado, ou seja, a maioria dos municípios não chega agua todos os dias, temos uma coleta irregular de lixo que também propicia os criadores. Temos os pontos para desenvolver a doença no Estado. Não vai ser possível debelar 100% a doença, mas conseguimos manter o nível aceitável e trabalhamos com isso todos os anos, com capacitação de profissionais de saúde, os agentes de endemias como prioridade, pois queremos eliminar a base do problema que são os focos. Pois se não investirmos nos agentes de endemias, correndo o risco de ter que investir em coisas mais onerosas para o Estado, que é a UTI. Trabalhamos, enquanto vigilância, nas ações que possam evitar esse custo para a população, e evitar as mortes totalmente evitáveis, pois o tratamento, muitas vezes é simples e de baixo custo.”, explicou a subcoordenadora.

Juliana Araújo conta que a assistência preventiva ajuda bastante o trabalho da vigilância epidemiológica. “No momento em que chega para a vigilância de um município que há pelos três casos suspeitos de dengue em um determinado bairro, tem que cair em campo nessa região com ações educativas, com os agentes de endemias, trabalhando no foco com larvicida, e se precisar, que é o último meio a ser utilizado, o inseticida”, disse.

Segundo a subcoordenadora da Sesap, para que possa ser feito um trabalho eficaz e com resultados positivos é necessário que o gestor entenda a dengue não apenas como problema de saúde. O gestor do município precisa se empenhar e entender a importância da prevenção no combate a dengue.

“É um trabalho conjunto, e se a intersetorialidade não funcionar na dengue, não conseguimos impactar no doente nem na redução do número de casos da doença. A intersetorialidade é o gestor ter a consciência de que dengue não é só um problema de saúde. A dengue é um problema de gestão e de prioridade de governo. Se investir só na saúde para trabalhar a dengue, não vai conseguir impactar na redução de casos. Tem que trabalhar uma coleta seletiva e regular de lixo no município, tem que trabalhar com a educação, alimentando a consciência do estudante desde o início, trabalhar com as empresas que são responsáveis pela distribuição da agua no município. Infelizmente ainda é muito aquém do que queríamos que funcionasse. O papel do estado não é executor e apenas orientando quem executa”, destaca a subcoordenadora.

Juliana Araújo disse que um dos grandes problemas enfrentados no combate a doença é a questão da falta de conscientização da população. Para ela, alta complexidade é conseguir mudar a consciência das pessoas. “Se não investirmos na saúde básica, na atenção primária. Precisamos mudar a consciência de que alta complexidade está na atenção primária, que é uma caminhada, uma mudança na qualidade de vida, um medicamento de baixo custo. Esse é um trabalho de formiguinha, que vai ser impactado em longo prazo. E só com o apoio de dois pontos chaves. A gestão na consciência de que o investimento é na prevenção e a população de ter a consciência de que muitas doenças são de responsabilidade delas mesmas e o município que dê a ela uma atenção à saúde básica de qualidade”, destaca.

“Ou vamos impactar estampando nos jornais que o problema da saúde é na atenção primária, ou vamos continuar dizendo que o problema é por falta de UTI. Hoje há falta de UTI porque a atenção básica não funciona. As pessoas estão precisando hoje é de atenção básica. E a dengue está nesse contexto.  A Secretaria de Saúde Pública do Estado orienta a população para manter os cuidados básicos e ações de rotina para conter o avanço da epidemia de dengue no Rio Grande do Norte. Limpar os quintais, fazer a higienização de cozinhas e banheiros, não deixar embalagens e pneus expostos à chuva e o sol, evitar a água parada onde o mosquito da dengue se reproduz, além de não deixar caixas d’água descobertas são algumas medidas que têm um forte efeito preventivo. Uma tampa de ovo é um criadouro potencial, uma tampa de garrafa também é um criadouro potencial, pois pode alojar milhares de larvas do mosquito. Não tem outra. Juntou água, tem que eliminar”, explica Juliana Araújo.

 

Carro fumacê só deve ser usado em último caso

Apesar de liderar os índices de notificações dos casos de dengue no estado, o carro fumacê não será usado em Natal até setembro. Segundo a subcoordenadora de Vigilância Epidemiológica, Juliana Araújo, a Secretaria Estadual não vê “nesse momento nenhum critério para utilizar o carro fumacê”. O motivo é a utilização recente, em março, do mesmo artifício para tentar conter o aumento de casos de dengue na capital. Juliana afirma que, por questões técnicas, somente a cada seis meses é indicado utilizar o fumacê. Na Região Metropolitana de Natal, apenas Parnamirim está com os carros fumacê nas ruas. Mais quatro municípios do Estado, Grossos, Acari, Carnaúbas dos Dantas e Parelhas, também utilizam o inseticida.

“A utilização do carro fumacê é uma medida paliativa. É a última medida a ser tomada e quando utilizamos temos certeza que houve falha na prevenção, pois ele mata o mosquito adulto, mas não vai impactar naquele que está nascendo. Tem que ter a consciência da utilização do inseticida. O carro só vai para uma determinada região quando existe coleta de sorologia, confirmando que o paciente está doente de dengue. Então, tem-se a incidência confirmada por exames laboratoriais e quando essa incidência esta não apenas no bairro e sim na cidade. Tem os critérios, mas não vai haver negativa por parte do Estado para os municípios que precisarem, mas não podemos liberar para todo mundo que pede. Na verdade, nem em todos os anos epidêmicos vamos ver os carros circulando”, explica Juliana Araújo.

O intervalo para utilização do carro fumacê é necessário para evitar que o mosquito transmissor da dengue se torne resistente ao inseticida. De acordo com Juliana Araújo, o Governo Federal acompanha de perto a liberação do inseticida, que é controlada diretamente pela Sesap. Outro fator é o aumento do número de casos. É preciso haver uma “curva ascendente” no gráfico desse aumento, ou seja, a quantidade de novos casos precisa estar crescendo continuamente para que se utilize o carro fumacê. “A tendência que se vê em Natal é de diminuição desse número”, aponta Juliana.

Há uma distinção que precisa ser feita. Embora o carro fumacê não possa ser utilizado num intervalo menor que seis meses, o Município pode usar o inseticida em bombas portáteis, aplicado pelos agentes de endemias. “A bomba portátil é usada de forma mais focalizada, somente nos locais com alta incidência”, explica a subcoordenadora de Vigilância Epidemiológica.

Em anos anteriores, a presença dos carros fumacê pelas ruas da cidade era mais frequente. Juliana Araújo explica a necessidade da utilização do inseticida. “O impacto momentâneo é essencial. Percebemos que a curva de casos decresce depois que o carro passa, mas é um impacto momentâneo e se trabalharmos apenas o carro fumacê e esquecermos as outras ações, como era feito anteriormente, que se achava que o carro era a única forma de acabar com a doença. Mas começou a se notar a resistência do vetor a esse inseticida. Ficou num ciclo que se ficássemos usando indiscriminadamente como era usado anteriormente, chegaríamos num ponto em que não teríamos mais nem a pistola para atirar. Era jogando agua diante da resistência que o mosquito vem adquirindo”, disse.

O tempo da larva para o mosquito é de sete dias e como o inseticida afeta apenas o mosquito na fase adulta. “Não existe a resolutividade total do problema, e sim pontual. Naquele momento que se detecta o surto, o carro fumacê é importante, mas uma importância momentânea. As pessoas cobram muito o carro fumacê, mas estão preocupadas com a prevenção diária. A consciência ainda precisa mudar muito”, afirma Juliana Araújo.

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