Setor eólico avança no RN, em meio a incertezas

6 de agosto de 2012

Deu no caderno Economia da Tribuna do Norte:

Eike Batista: a MPX, do empresário, comprou projetos no RN. (Foto: Tribuna do Norte)

Gigantes do setor de minério e energia, como a MPX Energia S. A., do empresário Eike Batista, estão de olho no potencial do Rio Grande do Norte para gerar energia eólica. Esta semana, a MPX adquiriu o “Projeto Ventos”, formado pelos Complexos Eólicos Jandaíra, Pedra Preta I e Pedra Preta II no estado. Antes, a Vale fechou acordo com a Pacific Hydro para explorar a energia dos ventos com investimento previsto de R$ 650 milhões em território potiguar. Em meio ao interesse cada vez maior de grandes investidores, porém, o Estado enfrenta incertezas em relação a possíveis novos projetos e para ir além da geração de energia.

Fontes do setor apontam que o estado ainda enfrenta dificuldades para atrair indústrias que abasteçam os parques eólicos. Outra dúvida é sobre quando novos empreendimentos sairão do papel, com a possibilidade de não realização de um dos leilão de energia programado para outubro e que terão entre os investidores na disputa a MPX.

Os três complexos adquiridos pela empresa, através da joint-venture com a E.ON AG., estão em fase de projetos com 158,7 MW registrados para participar dos leilões A-3 e A-5, previstos para outubro deste ano. A capacidade total do Projeto ventos é de 1.200 MW, de escala industrial. As medições de ventos nos campos, segundo especialistas no setor, iniciaram há três anos e a especulação da MPX há cerca de dois. “O grupo já vinha prospectando a entrada há tempos e agora surgiu a oportunidade, o que demonstra a realidade em eólica no Estado”, observa o presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), Jean-Paul Prates. “A atração de investidores desse porte se dá pela qualidade do portfólio dos projetos”, afirma.

Além da alta qualidade dos ventos no Estado, a escolha por projetos no Rio Grande do Norte em detrimento da Bahia e Ceará, que concentram maior número de parques instalados, de acordo com a presidente executiva da Associação Brasileira de Empresas de Energia Eólica (ABEEólica) Elbia Melo, se deve a políticas públicas. O Governo tem se empenhado em políticas de atração, que não são subsídios para empresas,  mas uma preocupação em oferecer infraestrutura, logística adequada, e o órgão ambiental bem aparelhado para analisar as licenças. “Isso explica a competitividade”, analisa.

Por ora, explica o presidente do Comitê de Energias Renováveis da Federação das Indústrias do estado (Fiern), Sérgio Azevedo, o investimento anunciado pela MPX não provoca, porém, mudança na dinâmica do mercado, uma vez que para  os complexos serem instalados e tornarem-se empreendimentos é necessário ainda que ocorra contratação, nos leilões do governo. “Estão em fase de sondagem, levantamento de dados técnicos para elaboração do projeto executivo”, disse.

O preço da aquisição dos complexos eólicos de R$ 37 mil por Megawatts (MW) instalado – o equivalente a um valor total de R$ 22,2 milhões – chega a R$ 90 por Mw (média do mercado), se for calculado o pagamento de royalties pela comercialização da energia, ao longo de 20 anos.

Para Sérgio Azevedo, a tendência do mercado é se concentrar nas mãos desses grandes grupos, que além dos leilões, se interessam pelo crescimento do mercado livre.

No caso da Vale, os parques devem iniciar operação em 2014 e terão  capacidade instalada total de aproximadamente 140 megawatts (Mw). A energia produzida deve ser consumida integralmente pela Vale durante 20 anos. Os projetos serão desenvolvidos com a australiana Pacific Hydro, que, explica Jean-Paul, não conseguiu viabilizar a compra nos leilões de energia, “não pela qualidade dos projetos, mas pelo preço”. As empresas formaram uma joint-venture para eólica. “Essa entrada da Vale no setor é bastante saudável e traz para o grupo a experiência Brasil”, acrescenta.

A TRIBUNA DO NORTE tentou contato com a MPX para detalhamento de projetos, mas, segundo informações da assessoria, por se tratar de  uma empresa de economia aberta as informações não podem ser repassadas. A Vale, por meio da assessoria, alegou não haver fonte disponível para entrevista.

Governo tenta atrair indústrias, mas há gargalos no caminho

O Rio Grande do Norte é o Estado brasileiro com o maior número de parques eólicos a caminho. Ao todo, são 362 entre  outorgados, em operação e sendo construídos. Atrair indústrias para abastecer o setor é, de acordo com  analistas, o mecanismo para aumentar o impacto positivo no mercado de trabalho. A tualmente, existe apenas uma fábrica de torres eólicas da Wobben  em operação no Estado, no município de Parazinho. As dificuldades em implantar um parque industrial passam por questões de logística que, por ora, é compensado pela proximidade com estados geradores que agregam maior número de fabricantes.

“Não chega a ser uma desvantagem. Mas para atender a geração prevista para o RN é preciso atrair mais indústria e resolver a questão de mobilidade”, observa o secretário de desenvolvimento econômico do Estado, Benito Gama,

O momento atual, analisa o secretário de desenvolvimento econômico do Estado, Benito Gama, é de atração da indústria de base. “Precisamos recuperar o tempo, um esforço que devia ter acontecido há cinco anos pelo menos”, disse.  Para isso, o governo está realizando uma série de vistas a empresas. E negocia com pelo menos três grandes fabricantes de pás eólicas e aerogeradores. Os nomes das empresas e  estratégias de atração só serão divulgadas com a assinatura de protocolo de intenção, que até agora não ocorreu.

No início de julho, A Tecsis, fabricante brasileira de pás eólicas – uma das maiores do mundo no ramo -, localizada em Sorocaba,, interior de São Paulo, recebeu a vista da governadora Rosalba Ciarlini e o convite para conhecer o Estado.

Realização de leilão não está garantida

Os leilões de energia também são importantes para viabilizar parques eólicos e atrair indústrias. Nos dois casos, os leilões ajudam a garantir mercado para os investidores. Mas um dos que estavam previstos para este ano pode não ocorrer.

A realização do leilão de energia A -3, previsto para outubro, de acordo com informações da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) -organizadora do certame –  depende de decisão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sobre o pedido do  Grupo Bertin. A Bertin pediu permissão para desistir de projetos que foram adquiridos pelo grupo em processo de leilão. O leilão tem 24.260 Mw em projetos inscritos para começar a operar em 2015. O RN inscreveu 3 Mw.

Caso a concessão seja revogada, se abre uma lacuna na demanda para 2015, uma vez que as usinas não vão ser construídas. “Não temos certeza se ocorrerá. Depende se haverá demanda, com o PIB mais baixo que  o esperado isso dificulta a demanda”, observa Elbia Melo.

Caso o leilão não se concretize, não haverá consequências sérias. “Esperamos o mesmo volume negociado e contratado em 2011,  mas com a economia não está crescendo, se não tivermos o A -3. É esperar os próximos leilões”, diz Elebia. Para 2012, explica a executiva, não há projeção para o setor. “Vivemos um ano de incertezas em termo de demandas, em todas as áreas de energia, não só eólica. E não temos como desenhar cenários. O que sabemos é que existe um grande número de investidores querendo empreender em eólica”, conclui.

Os leilões são considerados apostas também para acelerar os investimentos de fabricantes. “A cada leilão há uma sinalização maior para atração dessas indústrias, para fornecer equipamentos para construção dos parques”, observa Elbia Melo, presidente executiva da ABEEólica. Em todo país, existem 10 fabricantes de aerogeradores. A expectativa é ampliar ocorrendo o certame.

Infraestrutura é um dos “nós” no Estado

A falta de soluções pra o escoamento de granéis, avalia  o presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), Jean Paul Prates, é um dos principais entraves na instalação de parques industriais no Rio Grande do Norte. “Estamos confinados por terra. O Porto de Natal é para passageiros e containers. Precisamos de soluções oceânicas para dar vazão tanto a estruturas pesadas e de grande porte da eólica, como para granéis de minério de ferro, sal, combustível”, disse.

A infraestrutura portuária de Pecém (CE) e Suape (PE) são responsáveis pela atração de indústria pesada, para construção de grandes equipamentos usados nas usinas eólicas. O Ceará conseguiu seis fabricantes em aerogeradores, torres, pás eólicas e fundição, das quais quatro já em operação. Na Bahia são cinco empresas e em Pernambuco, três.

A escassez de estrutura de cabotagem e ferrovias não é exclusividade do Rio Grande do Norte, pondera Elbia Melo, presidente executiva da Abeeólica, mas afeta todo o País.  “Os fabricantes vão para onde tem parques. A logística no RN, em não ter um porto adequado, apesar de ter uma estrutura que poderia melhorar, é um dos gargalos”, acrescenta.

Enquanto o Porto de Natal não atende a navegação de cabotagem de grande porte, Prates indica soluções  como cooperação com os Portos dos estados vizinhos. “Chegamos a realizar encontro com o governo dos estados e dos portos, mas não foi viabilizado”.

O atraso na instalação das linhas de transmissões, os chamados linhões, que vão reforçar o sistema de transmissão de energia elétrica no Rio Grande do Norte é um outro entrave.

O parque eólico Santa Clara, em Parazinho, foi concluído mas continua com as atividades paradas devido ao  atraso na implantação de estações coletoras (ICGs) para conectar as usinas ao sistema de transmissão do governo federal. “As ICG estão 100% comprometidas e é preciso que essa terceira seja ligada e passe a operar”, observa Sérgio Azevedo. O parque Santa Clara tem capacidade de 188 MW de capacidade.

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