Tradicional escola pública de Natal sofre com degradação, associação quer revitalizar prédio histórico

8 de novembro de 2012

Notícia publicada no caderno de Cidades do Novo Jornal:

Um patrimônio público pede socorro. Perto de completar 180 anos, a Escola Estadual Atheneu Norte-Rio-Grandense enfrenta a pior crise da sua história. Uma das primeiras instituições de ensino público do país, inaugurada em 1834, padece com uma estrutura decrépita e crescente evasão escolar. Hoje, o prédio de arquitetura moderna e arrojada – tombado pelo patrimônio histórico estadual em 1991 – nem de longe se parece com o que já abrigou personagens ilustres da história potiguar e nacional, como o folclorista Câmara Cascudo e o ex-presidente Café Filho.

O prédio construído tem formato de “X”. Foi inaugurado em 11 de março de 1954. (Foto: Natal de ontem.blogspot.com)

A difícil situação da escola motivou um grupo a criar a Associação de Ex-alunos do Atheneu Norte-Rio-Grandense, entidade que promete lutar para reverter esse quadro desolador. Há pouco mais de quatro meses, o grupo faz reuniões semanais em busca de soluções. O objetivo é promover ações que mobilizem a população em torno da instituição.

A primeira grande atividade vai ser realizada no próximo dia 20, às 9h, com um abraço coletivo ao prédio icônico, em forma de “X”, localizado no coração do bairro de Tirol. O evento vai contar com a participação de antigos e novos alunos, bem como de funcionários, professores e representantes da direção.

“O Atheneu não pode esperar. A escola está caindo aos pedaços e os alunos não querem mais estudar aqui”, disse  Naldemir Saraiva, servidora da escola, 49, responsável pelo acervo documental da instituição e presidente da Associação de Ex-alunos.

A estrutura deficitária, segundo ela, é a responsável por outro grave problema da escola: a evasão. Em 2002, o número de matrículas foi de 3.245. Hoje, 10 anos de depois, o número de alunos é 1.470. Antes eram 22 salas de aulas lotadas, atualmente são apenas 16.

“As pessoas dormiam nas filas de matrículas para estudar aqui. Agora, quem é que vai querer estudar numa estrututura tão precária”, analisou Saraiva. Ela estudou na escola entre os anos de 1974 e 1984.

Foto: Canindé Soares

Até o fim do ano, a associação pretende visitar entes públicos e representações da sociedade civil para buscar soluções práticas visando a recuperação da escola pública. “Vamos atrás do Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil e outros representantes da sociedade civil. Queremos fortalecer esta briga pelo Atheneu”, asseverou ela.

A principal meta de Naldemir Saraiva é mobilizar aqueles que deixaram a tradicional escola e hoje são profissionais liberais bem sucedidos.  “Temos médicos, advogados, engenheiros, juízes, técnicos de futebol, enfim, todas as profissões possíveis. Só que queremos que eles reponham parte daquilo que receberam aqui, ao longo dos anos, e de forma gratuita”, asseverou.

Ela quer criar uma lista com ex-alunos propensos a ajudar. A ideia é utilizar a força de trabalho deles na melhoria da escola e, até mesmo, em ações de atendimento aos atual corpo discente. O grande empecilho, agora, é que a associação não possui sede própria. A presidente espera que a direção ceda um espaço para a abertura dos trabalhos. “Não temos um lugar para exercer nossas atividades.

Queremos uma sala para que possamos fazer reuniões, guardar documentos e fazer atendimentos aos novos e velhos alunos”, apontou ela.

Tristeza

Ao lado de Naldemir Saraiva, também em busca de melhorias estruturais para aquele espaço, está o fotógrafo Esdras Rebouças, 58.

Atualmente, prédio da escola encontra-se em má conservação. (Foto: Eliana Lima)

Ele perdeu as contas de quantos telefonemas fez para antigos estudantes do colégio. “Só quero chamar a atenção daqueles que estudaram aqui. Para mim, sempre é uma grande emoção passar pelo portão de entrada”, apontou ele, que estudou no colégio entre os anos de 1969 e 1973.

“Iniciamos este movimento, sem qualquer conotação política, apenas por amor ao Atheneu Norte-Rio-Grandense. Não suporto ver um patrimônio ser abandonado deste jeito”, destacou Rebouças. “As janelas das salas de aula são as mesmas desde o tempo que estudei aqui”, comentou.

Também saído daqueles bancos escolares, o atual secretário de Comunicação de Natal, Gerson de Castro, mostrou-se desolado com o deplorável estado de conservação do prédio histórico. “Estudei aqui por três anos (1978, 1980 e 1981). Foi um período da minha vida que nunca vou esquecer. Saí daqui direto para a universidade. Sou do tempo em que esta escola ainda era a melhor do Rio Grande do Norte”, lembrou Castro.

A jornalista Ana Lúcia Araújo, outra profissional que passou pelo colégio entre os anos de 1975 e 1983, reforçou os votos para que antigos alunos participem do resgate do “patrimônio cultural do Rio Grande do Norte”, como fez questão de frisar. “Fez parte da  minha história e de tantas outras pessoas. Temos de buscar soluções  para manter esta escola ativa”, ressaltou.

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