Transporte alternativo passa por nova crise em Natal

24 de agosto de 2012

Deu na editoria cotidiano do Diário de Natal:

A exemplo da empresa Riograndense, que cerrou definitivamente as portas no último dia 12, o sistema de transporte opcional de Natal também está literalmente falido e dificilmente terá fôlego para concorrer no edital de licitação do transporte público que há vários meses aguarda uma lei autorizativa da Câmara Municipal de Natal (CMN) para ser publicado. O temor é dos próprios permissionários dos opcionais que, através de números, mostram que o sistema pode estar com os dias contados, devido principalmente à incapacidade de renovação da frota, à escassez de passageiros nos itinerários impostos pela Semob, às multas freqüentes impostas aos motoristas e ao sistema de bilhetagem eletrônica, que só favoreceria o sistema convencional de transporte urbano.

Foto: nominuto.com

O resultado de todos esses problemas é o afundamento do sistema nos últimos anos. Das 180 permissões existentes, hoje só estão em atividade pouco mais de 90, sendo que destes 66 já devolveram a permissão. Bairros como Felipe Camarão que contavam com nove veículos hoje só tem um. Quando foi licitado, Parque dos Coqueiros era a melhor linha de Natal com 10 carros, hoje também só conta com um. O mesmo se repete no Bairro Nordeste que caiu de seis para um. Pior no Gramaré: não restou nenhum dos oito veículos. Com a desistência dos permissionários, o sistema que empregava diretamente 800 funcionários, despencou para 230 trabalhadores. Cada carro empregava pelo menos quatro pessoas, hoje caiu para dois ou até um funcionário que na maioria das vezes é o próprio permissionário.

Atualmente, as linhas de Ponta Negra, Parque das Dunas e Nova Natal que eram consideradas as melhores, não conseguem ultrapassar a casa dos 200 passageiros nas seis viagens diárias. Antes elas chegavam a 500 passageiros, enquanto que as linhas de percurso menor chegavam a 350 passagens. Segundo dados da Coppetur, para colocar um carro para rodar, um permissionário gasta aproximadamente R$ 18 mil por mês. Como o sistema não está correspondendo, os carros estão envelhecendo e os problemas vão se acumulando. “A maioria dos permissionários está acumulando prejuízos e tirando do próprio bolso para poder rodar”, informa Edileusa Queiroz, presidente da Transcoop Natal.

“Estamos a todo instante esperando a última pá de cal que sepulte vez o sistema de transporte alternativo. É só o que falta acontecer. Descapitalizados como estamos, como vamos poder concorrer numa licitação pública?”, questiona o permissionário Franklin Alves. Ele é o único sobrevivente dos seis opcionais que faziam a linha do Bairro Nordeste e só não parou porque dá emprego a três pessoas da própria família. Franklin também dirige o opcional. Diz que a situação está insustentável e, se não houver mudanças rápidas, poderá também parar com a atividade.

Bilhetagem

A principal reclamação dos permissionários é a redução drástica no número de passageiros, decorrente da falta de uma bilhetagem eletrônica unificada que dê o direito ao passageiro de poder escolher o próprio destino e como usar seus créditos. “O chip com duas janelas não correspondeu, a parceria foi uma tentativa já desesperada de fazer sobreviver o sistema e só firmamos porque já estávamos falidos. Para se ter um ideia, recebemos um repasse do Seturn de cerca de R$ 83 mil para dividir com 97 associados, o que dá em torno de R$ 850 para cada um. Hoje não é mais vantagem ter o equipamento. Se nada acontecer a tendência da categoria é retirar o equipamento passando a rodar como era antes”, disse Edileusa Queiroz. A bilhetagem dos opcionais é feita pela Fijitec, a mesma do transporte convencional, sendo que os ônibus transportam diariamente cerca de mil passageiros, enquanto o alternativo não leva 200, mas paga o mesmo valor de R$ 230 pelo uso do equipamento.

Além disso, o permissionário Franklin Alves diz que o sistema de bilhetagem é uma verdadeira caixa preta, direcionada para favorecer ao Seturn. “Um trabalhador normal que recebe o Natal Card já vem creditados valores para serem usados apenas nos ônibus. Para mudar e colocar também o opcional tem que enfrentar uma burocracia muito grande que normalmente faz desistir. Se ele pedir um extrato de sua utilização é também outra via crucis, exigem um login e uma senha que só quem tem acesso é a empresa e, normalmente, não se consegue. É só fazer um teste e verificar”, disse ele.

Atuação em nicho de mercado

“Eles também ainda podem atuar em um nicho especial de tarifas diferenciadas que não venham a competir com o ônibus, oferecendo um veículo diferenciado e mais confortável para determinados locais” – Augusto Maranhão -diretor do Seturn
Se depender do diretor do Seturn, Augusto Maranhão,o sistema de transporte opcional de Natal será reduzido a um nicho de mercado com itinerários diferentes dos ônibus, sem concorrer diretamente com o sistema convencional. Para ele, o sistema opcional tem duas alternativas: ser alimentador do sistema de ônibus convencional ou fazer um serviço diferenciado, mais confortável, organizado e com horário a ser cumprido. “Essa ideia nunca foi trabalhada pelos permissionários dos opcionais, porque eles resolveram ir pelo caminho mais fácil, concorrendo com os ônibus”.

Para Augusto Maranhão, a tendência moderna do transporte mundial é que veículos de grande porte sejam alimentados por veículo de menor porte. Os estudos que estão sendo divulgados prevêem corredores de ônibus alongados na Hermes da Fonseca, Prudente de Morais e Bernardo Vieira. “Defendemos que esses veículos sejam alimentados por outros de pequeno porte que podem ser os alternativos. Eles também ainda podem atuar em um nicho especial de tarifas diferenciadas que não venham a competir com o ônibus, oferecendo um veículo diferenciado e mais confortável para determinados locais”.

“O sistema de ônibus regular investiu R$ 10 milhões no seu processo de bilhetagem eletrônica e ainda ofereceu a possibilidade do sistema opcional se agregar a bilhetagem através do cartão com dois créditos, sem haver mistura de receita entre os dois serviços”, explica Maranhão, dizendo ainda defender o processo licitatório que vai regulamentar e distribuir o papel de cada sistema.

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