Deu no caderno Natal do Tribuna do Norte:
O local só abre às 18h, mas bem antes disso, por volta do meio-dia, algumas pessoas já estão aguardando do lado de fora. Na hora esperada, a coordenadora abre o portão e começa uma chamada oral. É assim todos os dias. No único albergue noturno municipal da cidade, a rotina começa ao anoitecer e termina no dia seguinte. Atualmente, cerca de 70 pessoas procuram o abrigo todas as noites para descansar o corpo e relaxar a mente dos problemas enfrentados na rua. No espaço, além de banho e cama, eles recebem atenção e a oportunidade de mudar de vida.
É o caso do desempregado Denilson Nascimento de Souza, 23 anos. Há pouco mais de uma semana, ele frequenta o Albergue Municipal José Augusto da Costa. Aos 8 anos, Denilson fugiu de casa e foi perambular pelas ruas. Conheceu as drogas – inicialmente cheirava cola de sapateiro – e por causa delas começou a mendigar. Poucos anos depois, recebeu ajuda de alguns familiares. Mas o retorno às ruas não demorou muito. “Não me aguentaram dentro de casa e me mandaram embora. Fui abandona e na rua estou até hoje”, afirmou.
No albergue, Denilson percebeu que o futuro pode ser diferente do passado de sofrimento. Com ajuda dos funcionários do local, começou a estudar e já pensa em conseguir algum trabalho. “O pessoal me ajuda. Estou começando a aprender a ler e escrever e faz mais de uma semana que não uso drogas”, disse.
Não estar drogado ou alcoolizado é regra básica para entrar no albergue. A pedagoga Juliana da Silva, coordenadora do espaço, é quem recepciona os usuários. “Eles já sabem que não podem chegar bêbados ou drogados. Isso é bom, porque acabo afastando-os de problemas”, ponderou. Não há espaço também para a ociosidade. Diariamente, um calendário de atividades é elaborado. Aulas de português, italiano, leituras, cultos evangélicos e palestras espíritas fazem parte do roteiro.
O ex-carreteiro José Rodrigues Silva, 66 anos, frequenta o espaço desde sua inauguração, em 23 de dezembro do ano passado. O agora morador de rua, contou que a família mora no Rio de Janeiro-RJ. Sem familiares na capital potiguar, acabou largado à própria sorte. “Mas me sinto bem assim. Passo o dia na rua, conheço muitas pessoas e à noite venho para cá. É muito bom, sou bem cuidado, a comida é boa. Não tem problema nenhum”, disse.
Para dar assistência aos usuários, o albergue que está localizado na rua Câmara Cascudo, conta com 28 profissionais. São educadores sociais, cozinheiras, vigias, psicólogos e pedagogos que estão aptos a recepcionar e orientar pessoas que, na maioria dos casos, não têm a quem recorrer. “Para ajudá-los, temos convênios com outras instituições que os recebem para estudar, por exemplo. Já conseguimos empregos para algumas pessoas”, avisou Juliana Silva.
O albergue é destinado aos moradores de rua e atende pessoas em situação de risco e vulnerabilidade social. Todos são maiores de 18 e com idade inferior a 60 anos. A secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (Semtas) é o órgão responsável por administrar o espaço. A acolhida é temporária e obedece princípios da “Política Nacional para a População em Situação de Rua”. São 19 quartos, sendo no máximo cinco pessoas em cada um, distribuídos em alas masculina e feminina. O horário de atendimento é das 18h às 6h do dia seguinte. São servidas duas refeições: jantar e café da manhã.
De acordo com a Pesquisa Nacional sobre População em Situação de Rua, realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), de agosto de 2007 à março de 2008, foram identificadas, em Natal, 223 pessoas em situação de rua. Dessas 83% era do sexo masculino e mais da metade, 55%, considerada adulta com faixa etária entre 25 e 44 anos.
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