A seca e as perdas no campo

16 de maio de 2012

SEJA O PEQUENO ou o grande agricultor, quem vive de lavoura ou criação animal sabe, mais do que qualquer outra pessoa, o quanto a seca já está castigando a população do campo. E os produtores começam a mudar as suas estratégias para diminuir os prejuízos com aquela que, segundo a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn) é “a maior seca das últimas décadas”.

O secretário-executivo da Associação Norte-riograndense de Criadores (Anorc), Wildon Góes, que também cria caprinos no Seridó, mais especii camente no município de Cruzeta, a 230 km de Natal, traça um cenário desolador. Para ele o Rio Grande do Norte poderá ficar com o seu rebanho reduzido pela metade no intervalo de um ano. Desta perda, metade será por falta de pasto, ou seja, de fome mesmo. A outra metade se deverá ao abate antecipado promovido pelos criadores para não incorrerem em prejuízos maiores. “Muita gente já começou a vender os animais em uma escala bem maior do que a de dois meses atrás”, fala Góes, durante o IX Expoleilão, realizado no final de semana no Parque Aristófanes Fernandes, em Parnamirim.

Atualmente com 69 anos, Góes diz ter visto dois grandes períodos de seca em sua vida. O primeiro em 1958 e o segundo em 1993. Mas os dois momentos guardam, segundo ele, uma distinção em relação à estiagem de 2012: nos dois casos havia chuvas no agreste e no litoral, coisa que não se vê agora. “Nem aqui em Natal está chovendo. Ameaça cair uma ‘aguinha’, mas chove fraca e rapidamente. Do Carnaval para cá, praticamente não choveu”, afirma. Como criador de ovelhas em Cruzeta, ele diz que a sua situação fica amenizada por os caprinos necessitarem de uma quantidade bem menor de água e pasto para sobreviverem, mas mesmo assim não deixa de sentir a condição adversa. Ele lembra que, no semi-árido, a maior parte da incidência de chuvas acontece até o final do mês de maio, época que falta pouco mais de 15 dias para chegar.

Praticamente 85% da agricultura potiguar está no semi-árido, segundo os dados da Anorc. A seca não apenas ameaça a vida dos animais como compromete a qualidade das bezerros que estão por vir. O índice de parição do rebanho bovino deve diminuir 80%, estima Góes, e os bezerros têm a forte chance de nascerem atrofiados. “Uma seca como essa requer cinco anos de bons invernos para compensar as perdas”, calcula o agricultor.

Um dos maiores criadores de bovinos no estado, João Patriota, diz que a preocupação no campo é muito grande e só vai passar sem grandes perdas pela estiagem quem conseguir manter reservas maiores de capim, cana ou milho. Ele mesmo admite não ter conseguido produzir a quantidade necessária de feno para alimentar o seu rebanho. Patriota costuma fazer silagem de milho e capim, mas ela não tem sido suficiente para suprir a demanda de alimento por parte dos animais.

“O pasto está muito baixo e não conseguimos produzir feno”, declara. A saída foi aumentar o abate, que praticamente dobrou no último mês.

“Mais uma vez o esforço do homem nordestino está à prova. Depois de dois anos de invernos normais, teremos um período difícil pela frente”. Patriota possui duas propriedades rurais em Ceará-Mirim (Litoral) e duas em Nova Cruz (Agreste). Também criador em Ceará-Mirim, Luís Sérgio Melo, diz estar gastando mais com ração por causa da estiagem. “O preço ficou exorbitante”, detona ele, citando como exemplos o saco de torta (proteinado para bovinos) que passou de R$ 30,00 para R$ 54,00 e a saca de soja, aumentando de R$ 40,00 para 60,00. “Não é exatamente o meu caso, mas quem vive exclusivamente de lavoura e pastagens está sofrendo”, fala Melo, que também trabalha com inseminação artificial.  Em tom de crítica, Melo não deixou de fulminar a Emparn, afirmando que o órgão, de início anunciou que choveriam bem nos meses de fevereiro março e abril.

“Falaram até que os reservatórios e açudes transbordariam”, comenta ele e lança uma ironia. “Eu agora começo a ficar feliz porque eles estão falando que não choveria no final de semana. É capaz de chover. O vento está até meio parado…”, ironiza.

Prejuízo causado pela seca, que já atinge a agricultura, agora ameaça o rebanho potiguar (foto: Ney Douglas)

PROGRAMAS

Wildon Góes achou “satisfatório” o programa de governo para amenizar os efeitos da seca. A primeira reunião do Comitê Estadual de Combate à Seca aconteceu na semana passada. Segundo o programa “Recontruir e Avançar”, as obras paralisadas das adutoras serão retomadas, cisternas serão construídas, subsídios para a compra do milho serão ao pequeno produtor, 720 poços estão sendo equipados, são algumas das medidas a serem tomadas.

“A compra da saca do milho a R$ 18, 00 deve ficar bastante atrativa para o pequeno produtor”, diz Góes. Uma saca de 20 kg custa, sem o subsídio, R$ 32,00. Góes informa que qualquer produtor pode ser beneficiado pelo programa, bastando apresentar a escritura de sua propriedade ou mesmo algum contrato de arrendamento e inscrever-se na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para receber os incentivos.

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