Coluna do Barbosa

Carlos Alberto Barbosa é jornalista, natural de Natal (RN), formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desde 1984. É ainda autor do blogdobarbosa e assina uma coluna no portal Nominuto.com​

`Antes a gente passava fome, hoje não´

29 de dezembro de 2015

A declaração acima é atribuída ao Sr. Chico, não o Chico Bento da escritora cearense Rachel de Queiroz que há um século retratou a seca no sertão do Ceará em seus escritos que levava o título de O Quinze. Chico, na série de reportagens que o Jornal Nacional vem apresentando sobre a estiagem no Nordeste brasileiro só comparado a seca de 1915, disse que antes o nordestino dos rincões do sertão passava fome com a seca, hoje não porque tem o Seguro Safra e o Bolsa Escola.

Isso a elite brasileira não aceita. Chama de “vagabundo” quem não quer trabalhar para ganhar os benefícios implantados pelos governos do PT. Não se pode dizer que o Sr Chico seja um vagabundo. Apenas está desempregado, pois que trabalhava e agora ficou sem trabalho devido a seca que assola a sua cidade no CE. Mas, ao contrário de Chico Bento, que na história de Rachel de Queiroz fugiu da seca por não ter o que comer nem beber e sem trabalho para ganhar o sustento da família, o Sr. Chico hoje tem o que comer e até dinheiro para comprar água.

Publicado em 1930, o romance O Quinze, de Rachel de Queiroz, renovou a ficção regionalista. Em O Quinze, primeiro e mais popular romance de Rachel de Queiroz, a autora exprime intensa preocupação social, apoiada, contudo, na análise psicológica das personagens, especialmente o homem nordestino, sob pressão de forças atávicas que o impelem à aceitação fatalista do destino. Há uma tomada de posição temática da seca, do coronelismo e dos impulsos passionais, em que o psicológico se harmoniza com o social.

A obra apresenta a seca do Nordeste e a fome como conseqüência, não trazendo ou tentando dar uma lição, mas como imagem da vida. O título do livro evoca a terrível seca do Ceará de 1915. A própria família de Rachel foi obrigada a fugir do Ceará: foi para o Rio de Janeiro, depois para Belém do Pará. Compõe-se de 26 capítulos, sem títulos, enumerados.

A história é recheada de amarguras. Bastaria a saga da família de Chico Bento para marcar o romance com as cores negras da desgraça. A morte está por toda parte. Está no calvário da família de retirantes, está em cada parada da caminhada fatigante, está no Campo de Concentração. Morte de gente e de bichos.

Pois é, a história da seca se repete, entretanto com um script diferente. Antes, o nordestino era um retirante, pois que fugia da seca para os grandes centros urbanos para poder sobreviver. Hoje não, hoje não se pode mais falar em flagelo da seca, os programas sociais do governo federal dão suporte para que pessoas pobres e desempregadas não morram de fome. Como disse o Sr, Chico na reportagem desta terça-feira (29) no JN, “antes a gente passava fome, hoje não porque tem o Seguro Safra e o Bolsa Escola”.

A elite brasileira deve tá se mordendo de raiva.

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