O Rio Grande do Norte ainda não tem nenhum atleta com participação confirmada nos Jogos Olímpicos de 2012, mas pelo menos quatro potiguares ainda mantém a esperança de que poderão estar em Londres entre 27 de julho e 12 de agosto acompanhando o Time Brasil, como é chamada a equipe brasileira que disputará o maior evento esportivo do planeta. Por enquanto, 161 atletas brasileiros divididos em 36 esportes já têm passagem garantida.
O velocista de 100 e 200 metros, Diego Cavalcanti, o maratonista da marcha atlética, Cláudio Richardson da Silva, a ginasta, Ana Cláudia Silva, e o remador Emanuel Borges, atualmente no Botafogo do Rio de Janeiro, são os potiguares que ainda podem chegar lá. Os dois primeiros só deverão ter as respectivas convocações confirmadas no mês de julho, quando as últimas provas para garantir o índice olímpico serão realizadas.
Este final de semana, o heptacampeão brasileiro Cláudio Richardson da Silva será o representante do Brasil e, conseqüentemente do Rio Grande do Norte, na prova dos 50 quilômetros de Marcha Atlética, no Campeonato Sul-Americano de Marcha, que será realizado em Guayaquil, no Equador.
Diego Cavalcanti, por outro lado, está na fase i nal dos treinamentos que antecedem o Troféu Brasil a ser realizado entre os dias 27 e 01 de julho, oportunidade em que tentará o índice. “A expectativa é boa, a meta das olimpiadas foi traçada por mim há quatro anos.
Fiz a primeira competição semana passada. O começo do ano foi melhor que os outros, me sinto mais preparado”, comentou ele que tentará vaga nos 100 e 200m, além do revezamento 4×100. “Terminei em quarto no ranking e pelo menos os seis primeiros tem condições de ir as Olímpiadas sem o índice”, conta.
Ana Cláudia, com problemas físicos, ainda não teve participação coni rmada entre as atletas brasileiras da ginástica que vão a Londres. Em Pequim, a potiguar passou longe do pódio, apesar de ter colaborado com o conjunto brasileiro para alcançar o histórico oitavo lugar. Ana Cláudia escreveu seu nome na história da ginástica brasileira ao integrar o time que conquistou a quinta e melhor colocação da história do país no Mundial, em Stuttgart, na Alemanha, no ano passado.
Entre os quatro, apenas Diego e Claudio treinam no Rio Grande do Norte. Ana Claudia deixou a capital muito cedo, com apenas oito anos, para lutar pelo sonho olímpico na cidade de Curitiba, capital do Paraná. Já o atleta do remo, Emanuel Borges se transferiu para o Botafogo, tradicional clube de remo
do país, há mais de um ano e meio.
Borges participará do Pré–Olímpico de Remo, em Tigre, na Argentina, entre os dias 22 e 25 de março para tentar assegurar a vaga brasileira na categoria Double Peso Leve. “Estou treinando bastante, duas vezes por dia, geralmente três horas e meia. Consegui entrar na seleção. Não foi nada fácil, mas estou bem coni ante de ter bom resultado nessa seletiva e conseguir a vaga para o Brasil”, comentou o remador que afirmou estar orgulhoso de ter a oportunidade de representar o estado em competições nacionais e internacionais de alto.
O ponto alto, no entanto, deverá vir com a eventual confirmação de sua participação em Londres. “Tenho orgulho, sai de baixo. A gente conseguiu superar e focar isso bem, o que importa é ter o foco e o objetivo. Sou muito agradecido ao Madruga [presidente da Federação de Remo do RN] que intermediou a minha vinda parao Botafogo e ao Esporte Clube Natal de Remo por tudo que aprendi”, disse ele, que há sete anos, treina na modalidade.
[dropcap color=”#000000″ font=”georgia” fontsize=”13″]ESPORTE AMADOR AINDA É POUCO VALORIZADO NO RN[/dropcap]
Se hoje só quato atletas do RN podem ir a Londres, em outros momentos atletas norte–riograndenses foram não apenas às Olímpiadas, mas conquistaram um papel de destaque nas suas respectivas modalidades. Virna, ex-jogadora de Vôlei, conquistou duas medalhas de bronze em Atlanta (1996) e Sidney (2000); o velocista Vicente Lenílson obteve a prata em Sidney (2000) na modalidade 4×100; Apesar de não terem ganho medalha, o jogador de basquete Oscar Schmidt com cinco Olímpiadas consecutivas (80/84/88/92/96) e a atleta Magnólia Figueiredo com quatro disputas olímpicas (88/92/96/04) se tornaram referência não apenas para o esporte nacional, mas também ganharam projeção internacional.
De lá para cá, não se tem notícia da participação de um outro potiguar em Jogos Olímpicos. Este ano, só dois dos quatro potiguares com chance de ir às Olímpiadas de Londres treinam no Rio Grande do Norte, mas isso não é surpresa nenhuma para os técnicos e presidentes de federações esportivas do
estado. Um dos especialistas em transformar corredores em atletas olímpicos, José Figueiredo, revela que ao longo dos anos muitos corredores tem surgido na modalidade, mas tem i cado pelo caminho por uma série de motivos que trabalham contra a evolução do atleta. “A família admite um jovem treinando e estudando até 18 anos, depois disso a exigência é que vá trabalhar. Mas para nível de Olímpiada, não dá para trabalhar. O treinamento necessário para nível olímpico exige um dedicação especial. Se não tiver uma empresa, clube ou apoio que pague suas despesas de competição e para que possa sobreviver, acaba deixando o esporte”, avaliou.
Figueiredo, também presidente da Federação Norte-Riograndense de Atletismo, foi responsável por treinar Vicente Lenílson e Magnólia Figueiredo. “O potencial dos atletas é proporcional ao de qualquer estado. Se vai ter alguém treinando, precisa ter conhecimento e apoio. Só o potencial genético não é suficiente, é preciso treinar duro, muita disciplina e capacidade de renúncia”, ensina.
Educador físico e ex-interventor da Federação Norte-Riograndense de Handebol, André Tavares, destaca que o estado costuma revelar talentos, mas a falta de competitividade na região faz com que eles acabem perdendo a chance de se projetar nas modalidades. Ele destaca ainda a falta de um apoio
governamental aos atletas da base, para que possam realizar os intercâmbios necessários à evolução do desempenho. “O estado tem clubes falidos, federações vivem apenas de recursos das Confederações. É uma eterna política de de pires na mão.”
Raul Ferrer, presidente da Federação de Basquete, lamenta justamente a falta de clubes com estrutura para oferecer aos atletas a chance de se desenvolver. “Jogador quando se sobressai aqui ou Mossoró, vai para Minas ou São Paulo. Quem se destaca, não fica em Natal. Não paga salário, não tem clubes, e assim o esporte local não se desenvolve no alto rendimento. O orçamento é pouco e as federações estão em situação difícil. Se a CBB (Confederação Brasileira de Basquete) não ajudasse um pouco já teríamos fechado as portas”, afirmou.
[dropcap color=”#000000″ font=”georgia” fontsize=”13″]SECRETÁRIO NÃO TEM DATA PARA AÇÕES DE INCENTIVO[/dropcap]
Bolsa-atleta estadual, Lei de Incentivo ao Esporte e Fundo para o Esporte. Três iniciativas importantes e que poderiam garantir uma luz no i nal do túnel da formação de atletas de alto rendimento no Rio Grande do Norte, mas ainda não há data dei nida para qualquer uma dessas iniciativas serem efetivadas. “Estamos com projeto da Bolsa-atleta, Fundo e a Lei de Incentivo ao Esporte prontos. O Fundo já está na consultoria, depois vai para a Casa Civil e depois para a Assembleia. Mas não posso estimar quando será feito. Quem vai me sinalizar é o núcleo econômico do governo. Eu não sei quando, mas na hora adequada, vai acontecer”, afirma o secretário estadual de Esporte e Lazer, Joacy Bastos.
Ele chega a i losofar quando é convocado a analisar a ausência de políticas públicas de estado para promover o esporte no RN. “Sem o ontem, não existe nem o hoje, nem o amanhã. Esta política passa pela vontade do governante, que determina ao seu auxiliar, o secretário de Estado apenas desenvolve a iniciativa”, explicou ele.
O secretário afirma que o estado é privilegiado pela quantidade de praças esportivas construídas. Questionado sobre a falta de manutenção do Caic (Lagoa Nova), Ginásio do DED (Candelária) e Palácio dos Esportes (Petropólis), Bastos volta a lembrar a “herança maldita” advinda do governo passado e revela uma disputa interna pela grande praça esportiva localizada à margem da avenida Mor Gouveia. “A situação do Caic é lamentával, não apenas pela maquiagem e a pintura recente que foi feita. Precisa de gente, criança. Tem que ter jovens, escolares, tem que ter idosos fazendo práticas esportivas. Mas como posso fazer se o domínio não é nosso. O Ministério do Esporte aconselhou o governo a transformar aquilo num centro olímpico. Aí sim vamos fazer o atleta olímpico. Mas o prédio é da Secretaria de Educação, que tem outras ações prioritárias, e o esporte fica a mercê”, justifica-se.
Bastos lista uma série de iniciativas de apoio a competições em diversas localidades do estado, mas não aponta qualquer atividade desenvolvida pela SEEL voltada para a formação de atletas. “Não se faz atleta olímpico do dia para a noite, se faz com política”.
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