“Como é difícil acordar calado/ Se na calada da noite eu me dano/ Quero lançar um grito desumano/ Que é uma maneira de ser escutado”. Me utilizo de um refrão da música “Cálice” de Chico Buarque e Milton Nascimento para me reportar a pelo menos duas notícias veiculadas na manhã desta sexta-feira (4).
A primeira trata de um “regabofe” para juizes em um resort cinco estrelas em Arraial d’Ajuda, distrito de Porto Seguro, na Bahia. O lugar é paradisíaco. Detalhe: o evento tem como um dos seus patrocinadores a Veracel Celulose, empresa dos grupos brasileiro Fibria e sueco-finlandês Stora Enso, instalada no Sul da Bahia. Ela já foi condenada na primeira instância do Judiciário nas áreas ambiental, trabalhista e fiscal, e em segunda instância por causa de imposto devido ao miserável município baiano de Belmonte.
A segunda notícia diz que o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte terá que decidir se as investigações contra deputados estaduais potiguares com “fortes indícios de envolvimento delitivo” irão transcorrer em 1ª ou em 2ª instância. A determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin se refere ao processo decorrente da Operação Dama de Espadas, deflagrada pelo Ministério Público do RN em agosto de 2015 para investigar um esquema de desvios de recursos na Assembleia Legislativa.
O curioso é que de acordo com a decisão proferida pelo desembargador Cornélio Alves, relator do caso, como um grande número de desembargadores – 9 dos 15 que compõem a Corte de Justiça – alegaram suspeição, ou seja, não se julgaram neutros para julgar o caso, a remessa dos autos foi feita ao STF. E agora retorna ao TJRN. Na decisão da Ação Ordinária 2.038, Fachin determina que todo o material de cunho criminal da Dama de Espadas seja remetido ao TJ “para análise e decisão acerca da pertinência ou não da cisão dos autos investigativos”.
Como se observa, caro leitor, o título da música “Cálice”, que quando foi lançada era um protesto velado contra a ditadura militar e que é um jogo de palavras que mostra a ambiguidade entre “cálice” e “cale-se”, retrata bem a realidade de hoje quando, da mesma forma que a música de Chico e Milton era um protesto contra os governos militares, como cidadão e jornalista devo protestar também contra os equívocos da Justiça.
Finalizo com outro refrão de “Cálice”:
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
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