SustentHabilidade

Jean-Paul Prates é advogado e economista. Especialista em energias e recursos naturais. Foi secretário estadual de energia do RN (2007-2010). Senador-Suplente de Fátima Bezerra (RN). Presidente do CERNE e do SEERN. Trabalha e investe em projetos relacionados a energia renovável, petróleo/gás, infra-estrutura e sustentabilidade. LinkedIn: jpprates.

Confirmado o Hub dos Correios em Natal

24 de setembro de 2015

Ontem, em primeira mão e oficialmente, em entrevista a Diógenes Dantas no Jornal 96, o diretor dos Correios no RN, José Alberto Brito, comunicou que o novo Centro de Tratamento do Correio Internacional (CTCI) da empresa ficará mesmo em Natal/SGA, mais precisamente no Aeroporto Internacional Aloisio Alves, em São Gonçalo do Amarante. Portanto agora é oficial: o hub dos correios será em Natal. E isso deve ser celebrado como uma importante conquista, e anunciado aos quatro ventos pela importância que isso tem para a decisão de outras empresas, inclusive a LATAM.

INICIATIVA – O diretor também informou que a iniciativa desta proposição iniciou-se pela então deputada Fátima Bezerra, em 2012. De fato,  a confirmação da sede já havia sido dada pelos Correios em ofício enviado à Senadora Fatima Bezerra na semana passada. Ao seu estilo,  ela chegou a divulgar na sua página. Este documento traz informações relevantes: o hub dos Correios terá capacidade instalada (na sua fase plena) para até 40.000 encomendas por dia, acima do movimento do centro localizado no Rio de Janeiro. O cronograma prevê seu funcionamento a partir do final de 2016. Eu apostaria em 2017, para ser mais seguro em função de haver ainda por finalizar os ajustes contratuais quanto à locação de área no aeroporto e termos contratuais com as empresas envolvidas no projeto.

HUB – Esta confirmação é importantíssima para a definição também do hub da LATAM e de outros que certamente não desejarão se distanciar de Natal se forem lidar com distribuição e manejo de cargas. Portanto, eu diria que esta é a verdadeira ‘pá de cal’ na decisão quanto ao hub da LATAM. Como afirmei há vários meses atrás, somente uma hecatombe tira o hub da LATAM de Natal.

DEMANDA – O ofício dos Correios é claro: “Como decorrência da possível criação de um HUB Aéreo do Grupo LATAM no Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, a equipe técnica do DEINT vislumbra a oportunidade de utilização das linhas e rotas aéreas para transporte da carga postal, além é claro, deste fato atrair novas companhias aéreas para a Região Nordeste, como por exemplo, Lufthansa e TAP/AZUL já amplamente divulgada nas mídias.”

RESGATE – Portanto, noventa anos depois de receber o primeiro serviço aeropostal internacional do Brasil (partindo de Paris com trajeto ainda parcialmente coberto por embarcações, a partir de Dacar) e oitenta e sete anos depois de ser o ponto de chegada da primeira travessia aérea comercial do Atlântico Sul (Jean Mermoz, 1930), Natal voltará a ser o hub postal internacional do Brasil, com atenção especialmente voltada para as regiões Nordeste e Norte do país.

HISTÓRIA – Desde priscas eras, Natal é considerada a “encruzilhada do mundo” (quem tiver interesse pode procurar o documentário do mesmo nome, no Vimeo, integralmente reproduzido), tendo sediado as mais relevantes empresas de correio aeropostal do mundo, mesmo antes de sua conhecida participação como “Trampolim da Vitória” durante a 2a Grande Guerra, pelos mesmos motivos geográfico-logísticos. A decadência desta era têm diversas e nenhuma explicação, ao mesmo tempo. o fato é que Natal perdeu esta condição e agora pode começar a recuperá-la.

Se antes o problema era a autonomia das aeronaves, que fazia com que Natal se configurasse como o ponto central de reabastecimento e transbordo mais eficiente para vôos para a Europa e para os EUA, agora a geografia nos favorece em virtude da vantagem quanto à conservação de combustível, uma conta cada vez mais relevante para o negócio.

E-COMMERCE – A escolha de Natal pelos Correios que, segundo o mesmo ofício técnico, detém 45% da logística de e-commerce nacional e internacional no Brasil, tem repercussões econômicas extremamente importantes para o Estado.

Na prática, imagine que você compre alguma coisa na Amazon, Alibaba ou em qualquer outro comércio eletrônico internacional. Este pacote hoje é despachado para um dos três Centros de Tratamento do Correio Internacional (CTCI) existentes – no Rio, São Paulo ou Curitiba, i.e. 3-4 horas de vôo a mais para o Sul; é remanejado (operação que pode levar bem mais do que um dia, especialmente se for sujeito a aduana mais severa e pagamento de taxas especiais) e re-despachado para o seu destino final no Nordeste ou Norte do país. São no mínimo 8 horas podendo se estender a vários dias de diferença em relação à chegada aos destinos norte-nordestinos.

EXPORTAÇÕES – Por outro lado, imagine o ganho que isso representará para os potenciais exportadores da região. Estados como o Pará, Amazonas, Maranhão, Ceará, o nosso Rio Grande do Norte, a Bahia, Pernambuco e outros são exportadores de vários itens com altíssima demanda reprimida: têm potencial de produção, mas não encontram viabilidade logística para exportar. É o caso do artesanato, dos alimentos altamente perecíveis (crustáceos, moluscos e pescados), produtos de alto valor agregado, eletrônicos, tecnologia de ponta.  Imagine a ligação direta entre a Zona Franca de Manaus e Natal, para exportação via aérea. Imagine o impulso de atratividade que ganham as ZPEs norte-riograndenses (Assu e Macaíba), com uma conquista destas. A ZPE tem altíssimos incentivos para a produção destinada a exportação. Porque não funcionaram até agora? Alguém tem alguma dúvida de que são gargalos logísticos graves que as impedem de se viabilizar?

Nesta quinta-feira, falei sobre o assunto no Jornal da 96: clique aqui para o áudio.

Na próxima terça, falarei mais sobre as repercussões desta conquista para o RN e sobre a re-invenção do correio postal em pleno mundo da internet.

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