Querido Focinho

Neli Terra é jornalista dos setores jurídico e energético (renováveis, O&G), apresentadora e diretora de TV, mãe, madrasta, esposa, filha, irmã. Gaúcha. Movida por desafios.Andarilha por natureza. Apaixonada pelos animais, sonha com um mundo onde todos convivam com respeito e harmonia.

Em Natal, vereador oposicionista garante que “O eleitor foi ludibriado”

9 de abril de 2012

Um verdadeiro pitbull quando se trata de defender a administração do ex-prefeito Carlos Eduardo (PDT), quando ocupou várias pastas, e afável no trato com as pessoas, o vereador Raniere Barbosa (PRB) disse ao O Poti que o eleitor natalense foi ludibriado com a eleição da prefeita Micarla de Sousa(PV). “Venderam uma imagem para ele e ele comprou um produto que, na verdade esse produto não correspondeu em aspecto nenhum. Realmente foi um produto de mídia e de realização nenhuma, um produto sem sustentabilidade”.

Na entrevista, Raniere critica os maus políticos envolvidos em denúncias de corrupção e disse que não se sente constrangido de, no plenário da Câmara Municipal, sentar-se ao lado dos colegas denunciados e condenados pela Operação Impacto.

Diante de toda essa onda de denúncias de corrupção, envolvendo políticos no Brasil todo, inclusive agora com um senador flagrado fazendo negócios com uma quadrilha do jogo do bicho, com que discurso os políticos vão chegar na casa do eleitor para pedir o seu voto?

Eu vou falar pelo meu mandato, pela minha conduta. Os demais pré-candidatos sem mandato terão um discurso bem mais fácil de apresentar ao eleitor porque não são homens públicos, são pré-candidatos, e os que têm mandato acredito que cada um deverá ter uma linguagem própria. O que eu falo, não de uma forma conceitual, inclusive eu fiz um pronunciamento semana passada na tribuna aqui da Câmara, e ontem (quarta-feira) fiz outro novamente, e é o que é que eu tenho destacado, é que um veículo transformador da sociedade e hoje essa transformação está acentuada e grande parte dos políticos não percebeu a mudança da sociedade, continuam num ciclo vicioso contaminado em toda hierarquia da política brasileira: desde os parlamentos municipais ao Senado Federal.

E que mudança é essa que o senhor fala?

Essa mudança é a aproximação da sociedade, essa interatividade da sociedade, que hoje cobra dos políticos e se aproximaram muito. As redes sociais são hoje um instrumento, eu diria, de fiscalização e de interatividade que aproximou muito a sociedade das causas políticas e dos políticos, fato esse que eu digo: em toda e qualquer atividade há o bom profissional e o mau profissional: há o bom médico, há o mau médico, aquele que é apenas mercenário, há o bom gari e o mau gari, o bom professor, o mau professor e, existem bons políticos e maus políticos só que a leitura que eu faço é que há uma grande contingência de maus políticos ainda viciados, estão preocupados com interesses próprios e não estão preocupados em defender o interesse público, o interesse das causas sociais e do coletivo. Então a sociedade é quem tem que fazer o préjulgamento: quem é aquele que está defendendo seus interesses próprios e quem são aqueles que defendem os interesses da sociedade e da cidade.

De que forma a sociedade pode fazer esse julgamento?

Através do voto. Por que é através do voto que você vai construir escola, é através do voto que você consegue uma pavimentação de uma rua, é através do voto que você consegue uma melhoria na educação, é através do voto que você pode construir ações propositivas e de forma ativa na ação pública do poder executivo através do poder legislativo. E o voto de instrumento, que eu digo, é a paridade da igualdade. É o momento único que todos nós brasileiros somos iguais: da Presidenta Dilma a um vereador, a um deputado, a uma governadora, ao cidadão mais simples todo voto tem o mesmo peso. Então é dessa forma que eu conceituo que, exatamente, acredito que a sociedade é que é a maior responsável por essa mudança, porque se ela escolher maus políticos, teremos políticos ainda viciados e contaminados. Se ela escolher bons políticos que realmente têm uma conduta, têm um perfil aonde ela possa fazer essa análise, avaliação de creditar confiança por que, eu digo a você: voto não se compra, voto se conquista.

Mas ainda hoje se compra voto, não é?

Pensa que se compra voto. O mau político chega com muito dinheiro pra comprar um mandato, comprando voto, mas a própria sociedade, na grande maioria a gente percebe que ele recebe mas não vota. Uma pequena fração ainda vota se vendendo, se prostitui por que também tem o mau eleitor, tem o eleitor ficha suja também, aquele que se vende, que é um prostituta que se vende para vários políticos e ele escolhe um desses. Ele não se vende só pra um não, se vende para vários. A consciência não é vendida.

Mas aí o senhor defende, então, no caso, uma Ficha Limpa também para o eleitor?

Deveria se excluir, mas não existe uma fiscalização em cima desse eleitor. Eu não vejo como poderemos investir, eu só vejo que se tivesse investimento grande na educação, iria eliminar esse tipo de eleitor, esse tipo de vício, porque o grande problema do nosso Brasil nesse combate à miséria, como a nossa Presidenta coloca e que é uma Presidenta que eu tenho muito respeito por ela, eu ainda acho muito tímido esse investimento na educação. Na nossa cidade nem se fala, não tem investimento praticamente nenhum.

Então grandes investimentos na área da educação, com a alfabetização e conscientização do grande percentual de analfabetos que ainda temos no País, seria um salto importante para filtrar esses maus políticos?

Totalmente. Por que a partir do momento que a sociedade tivesse condições, tivesse a gama de informações pela educação, seria uma sociedade mais politizada, mais esclarecida e poderia fazer uma análise melhor de quem teria condições de exercer um cargo público. Seria uma avaliação com uma ótica totalmente diferente. E, esse mau político que chegaria pra comprar o mandato, ele iria ter dificuldade de comprar porque o mau político sobrevive da miséria do povo, a miséria do povo que é o alimento do mau político.

Em nível local, nós tivemos o escândalo da Operação Impacto. Alguns desses envolvidos na Operação Impacto vão disputar mandato agora. Não era hora de se fazer uma campanha na sociedade pra se dizer o seguinte: olhe eleitor: fulano, beltrano e sicrano estão envolvidos em um processo por corrupção, não vote nele. Não seria uma iniciativa do próprio Tribunal Eleitoral fazer isso?

Veja, eu acredito que são competências distintas: do Poder Judiciário Eleitoral e do Poder Judiciário Criminal. Pela Constituição não pode existir interferência de poder, então isso aí seria inconstitucional, o próprio julgamento quem tem que fazer é a própria sociedade, se o político é merecedor ou não da confiança da sociedade. Se for julgado, porque nós sabemos que foi julgado em primeira instância, pela própria justiça há o direito de recorrer, como ocorreu e ainda está em tramitação, não foi ainda sentenciado.

O senhor não se sente constrangido de viver todo dia, no plenário, ao lado de colegas parlamentares que estão sendo investigados, que foram denunciados pela justiça pela prática do malfeito?

Veja bem, constrangido não. Porque o meu mandato eu não estou aqui para dividir e socializar com o colegiado. Aqui cada mandato é individualizado. Estou aqui para buscar ocupar um espaço e conquistar a confiança do eleitor pela realização de nossas ações parlamentares. Com relação aos meus colegas, cada um tem uma conduta própria, como se diz, é um colegiado que em alguns momentos estão discutindo algumas matérias, mas cada um tem opiniões próprias, cada um tem condutas próprias, então eu procuro ocupar o meu espaço. Com relação a fazer qualquer leitura ou análise de qualquer dos colegas que estejam envolvidos ou não, eu não faço nenhuma observação, eu procuro ocupar o meu espaço e construir o meu mandato.

Vereador, em visita aos bairros, nas suas caminhadas pelos bairros, conversando com os eleitores, o que é que o senhor tem sentido, qual é a principal queixa desse eleitor com relação à administração municipal?

Primeiro a administração municipal é um desastre. O eleitor de Natal depositou confiança numa renovação, no novo e se sentiu traído, porque é a pior avaliação de gestor da história de Natal, não sou que estou dizendo, são os números. Hoje são 19 pesquisas que já foram realizadas nesse período e identificaram que a prefeita de Natal faz a pior administração, e eu como legislador e até como ex-gestor de mais de uma pasta que fiz parte do governo, do governo Carlos Eduardo, faço uma leitura com uma precisão diferenciada, olhando a parte da administração pública, a parte de política de gestão e a parte do poder legislativo. Então realmente o sentimento da população é um sentimento hoje de mágoa, é um sentimento de revolta porque há o maior orçamento da história de Natal e que ninguém vê a contrapartida dosinvestimentos e a melhoria da nossa cidade.

vereador Raniere Barbosa (PRB) em entrevista ao Diário de Natal/O Poti.

vereador Raniere Barbosa (PRB) em entrevista ao Diário de Natal/O Poti. (foto: Edilson Braga)

O senhor entende que o eleitor, nesse caso, foi ludibriado? Ele comprou um produto e recebeu outro totalmente diferente?

Completamente. Ele foi ludibriado. Venderam uma imagem para ele e ele comprou um produto que, na verdade esse produto não correspondeu em aspecto nenhum. Realmente foi um produto de mídia e de realização nenhuma, um produto sem sustentabilidade.

Qual é a avaliação, nas suas caminhadas pelos bairros, que os eleitores fazem do legislativo municipal?

Não só do legislativo municipal, de todo o legislativo nacional. O eleitor quando olha para um político ele já vê como um corrupto, como um oportunista, ele não olha como um homem público que está ali para representá-lo e melhorar a qualidade de vida dele. Eu fiz um pronunciamento há poucos dias aqui: a metáfora do você, a parábola do você, que o eleitor tem que depositar confiança em alguém que seja como ele, que tenha um perfil parecido com o dele. É aquilo que eu digo: votar em você mesmo, é você delegar confiança a alguém que seja parte de você, ou um pouco de você. E é essa metáfora do você que o eleitor tem que entender. Por isso que ele tem que buscar pessoas que se identifiquem parcialmente com ele e que conquiste a confiança dele. Eu sempre digo que o mau político surge na hora que você tem o voto branco e o voto nulo. Votar branco e votar nulo é permitir a sobrevivência e a existência do mau político.

Falando em mau político, a Ficha Limpa ainda deixa muito a desejar? Ela não deveria ser aperfeiçoada?

Eu acredito que a própria Ficha Limpa, como a Lei de Fidelidade Partidária deve ser revista, porque eu acho que poderá ser muito mais ampliada, ser muito mais transparente mas, independente disso, a Lei da Ficha Limpa foi um grande avanço. E que partiu a iniciativa da sociedade. Vale destacar isso.

O Sinduscon/Consult divulgou esta semana, mais uma pesquisa de opinião, onde mostra que quase 60% do eleitorado natalense ainda não sabe em quem votar, faltando 6 meses para eleição. Essa indecisão do eleitor é o reflexo de que ele entende que não tem um representante capacitado para ocupar uma vaga no parlamento municipal ou na prefeitura de Natal?

Parcialmente concordo e discordo, vou fazer uma leitura diferente da pesquisa que acho até oportuno e pertinente. Vou fazer uma leitura diferente da pesquisa. Fui coordenador da campanha do final da década de 80 até hoje; fui muito jovem participar na área do planejamento estratégico, na área de mobilização e o que posso colocar é que essa tem sido uma das poucas pesquisas que antecedem uma homologação, estamos há três meses de homologar as candidaturas. Tem pesquisa recente que mostra 80% do eleitorado indecisos há 90 dias da homologação. 80% tá na média, se você pegar as últimas eleições de 98 para cá. Eu gosto muito de fazer comparativos para mostrar o comportamento do eleitor, hoje já chega a 60%, e isso significa que a sociedade está mais participativa, está mais atenta.

Que outra leitura o senhor faz da pesquisa?

Outra leitura é que a pesquisa játento um viés e ela está tendo um viés na de 2008 na de 2010. Foram duas eleições que foram contempladas no primeiro turno, que o sentimento da população já estava totalmente direcionado de acordo com as pesquisas, que não foram alteradas; foram pesquisas que o viés está sempre crescente ou se estagnava, mas os adversários também não conseguiam ter ascensão. Me chamou muita atenção essa pesquisa do Sinduscon, que o ex-prefeito Carlos Eduardo, que chegou a 48,5% tem a menor rejeição e todos os adversários dele têm, na intenção de voto, maior rejeição do que a intenção de voto; isso significa que os adversários não têm oportunidade de crescer diante de um universo das amostras possíveis de crescimento porque eles têm uma rejeição maior do que as intenções de voto. Isso se deu na campanha de 2008 quando a deputada federal Fátima Bezerra tinha uma rejeição maior do que a intenção de voto, e foi demonstrado isso nas urnas, apesar de Fátima ser uma grande parlamentar. O sentimento do eleitor era outro, não se avaliava a grande parlamentar, se avaliava o momento político. Quando o eleitor vota, ele não vota muitas vezes pensando, ele vota muito pelo coração.

Em entrevista na última semana ao O Poti, o vereador Enildo Alves fez uma leitura diferente da sua em relação ao favoritismo do ex-prefeito Carlos Eduardo nas pesquisas. Ele dizia que a candidatura do ex-prefeito é muito fraca. O que o senhor diz?

Considero o vereador Enildo Alves um homem inteligente, que ler muito. Agora, essa avaliação que ele faz da candidatura do ex-prefeito Carlos Eduardo é de quem tem ressentimentos. Entendo que quando você faz o julgamento de um adversário com ressentimento, você perde em credibilidade. Eu tenho criticado muito a prefeita Micarla de Sousa pela gestão que ela está fazendo, aliás uma gestão que nunca teve em Natal. Agora, em nenhum momento eu critico a pessoa da senhora Micarla, critico a gestora.

O senhor é tido como aquele correligionário que se expõe para defender o ex-prefeito Carlos Eduardo das acusações de mal gestor. O senhor é tido como o homem de Carlos Eduardo. Se o senhor fosse o “Raniere de Micarla”, que conselhos daria à prefeita?

Diria que concorresse às eleições para ser julgada pelo povo, não fugisse do julgamento dos eleitores porque não é feio perder. Feio é se acovardar.

A prefeita disse, repetida vezes, que não recebeu apoio dos governos federal e estadual para governar. Disse que faltaram recursos para a execução de obras.

Não é verdade. A prefetura não foi contemplada com recursos federais e estaduais simplesmente porque a prefeitura não tinha um projeto para Natal.


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