Fazer parte do semiárido devia ser um ponto positivo para a economia do RN

26 de fevereiro de 2013

Texto do colunista Marcos Aurélio de Sá do Jornal de Hoje:

– No debate que se estabelece, pela enésima vez, entre as lideranças do empresariado rural, autoridades públicas e a classe política do Rio Grande do Norte sempre que os terríveis efeitos das grandes secas periódicas se abatem sobre o semiárido nordestino, ninguém parece dar importância a um fato transcendental: o de que qualquer sugestão de solução se torna pura perda de tempo e de recursos financeiros se teimarmos na manutenção do nosso secular e fracassado modelo de exploração agropastoril.

Foto: 360graus.terra.com.br

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– Os exemplos internacionais são abundantes a nos provar que é mais do que viável fazer agricultura e pecuária nas regiões geográficas quentes e mal servidas de chuvas, desde que haja como recorrer a fontes alternativas de água.

– A ciência agronômica prova a todo instante que a incidência de mais horas de sol por ano sobre determinados territórios acaba acelerando e multiplicando o processo germinativo do solo, ao contrário do que acontece nas zonas frias e temperadas do planeta, onde só é possível o plantio e a colheita em curtos períodos sazonais.

– O êxito quase secular da pecuária no Texas e da produção de alimentos na Califórnia, unidades da federação norte-americana inseridas entre as de economia rural mais pujante e desenvolvida do mundo, são as melhores evidências para provar que a escassez de chuvas (e até sua falta quase absoluta) não é justificativa para pobreza, miséria, fome, sede, destruição ambiental, convulsões sociais e outros tantos males, como boa parte da nossa gente pensa e apregoa.

– Em tempos mais recentes, a exploração de terras áridas ou semiáridas da Austrália, de Israel, da Turquia, do Egito (e de outros países do Norte da África), bem como do Sul da Espanha, para fins de exploração agrícola mediante uso de tecnologias de irrigação, de correção e adubação do solo, de seleção de variedades aperfeiçoadas de sementes adaptadas a cada microclima e resistentes a pragas, está demonstrando que o que falta à agricultura do Nordeste brasileiro é, tão somente, copiar os bons exemplos de outros povos, o que inclusive pode ser conseguido sem maiores custos, pois em boa parte eles são fruto de tecnologias de domínio público.

– O nosso Rio Grande do Norte, embora possua mais de 90 por cento de sua área territorial no semiárido, é um dos Estados nordestinos proporcionalmente mais favorecidos por reservas de água doce armazenadas em grandes barragens e, mais ainda, depositadas em seu subsolo. Com o detalhe de que, ao contrário dos seus vizinhos (Paraíba e Pernambuco, por exemplo), o Estado possui grandes extensões de terras permeáveis que se prestam muito bem à irrigação, as quais, somadas, ultrapassam mais de um milhão de hectares.

– Da zona litorânea potiguar, a partir da fronteira com a Paraíba até a fronteira cearense (com tabuleiros que cobrem distância superior a 400 quilômetros com largura que varia de duas a cinco léguas), até as ricas várzeas do Vale do Açu e as extraordinárias terras da Chapada do Apodi, cerca de um milhão de hectares se encontram inteiramente disponíveis para receber investimentos em agricultura irrigada, bastando que, para isso, o Poder Público – que tanto joga dinheiro fora com políticas paliativas ou emergenciais que apenas eternizam o problema da seca em nosso meio – se disponha a estabelecer políticas efetivas de incentivo a um empreendedorismo rural moderno, fundamentado nas tecnologias que dão certo no resto do mundo e que geram riqueza e desenvolvimento.

– Transportar água em carro pipa para matar a sede da população; ampliar a distribuição dos benefícios do “Bolsa Família”; promover reforma agrária à base da instalação de assentamentos rurais onde as pessoas ainda usam a enxada como instrumento de trabalho; contratar ONGs para construir milhares de cisternas no interior; conceder empréstimos a fundo perdido a micro e pequenos produtores com recursos do Pronaf; doar milhões de quilos de sementes; cortar terras de graça; vender milho da Conab a preço subsidiado na tentativa de salvar os rebanhos… nada disso irá mudar a trágica realidade do nosso semiárido.

– Só não vê quem não quer… ou quem prefere continuar usufruindo das vantagens eleitorais que a manutenção do nosso povo na miséria proporciona a políticos corruptos e desavergonhados.

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