Investimento prevê construção e reforma de espaços culturais em Natal

28 de março de 2013

Notícia publicada no caderno Cultura do Novo Jornal:

O Dia Mundial do Teatro não foi marcado por espetáculos grandiosos em Natal. A data, comemorada ontem, foi mais lembrada por lamentações e promessas. Logo de manhã, representantes da classe teatral fizeram um ato simbólico em frente ao Teatro Sandoval Wanderley, no bairro do Alecrim, para lembrar os quatro anos de portas fechadas ao público. O ato também marcou o anúncio da reforma do prédio, que deve começar no segundo semestre deste ano e está estimada em pouco mais de R$ 1 milhão.

Reunião na Prefeitura: críticas, apoio e anúncio de investimentos. (Foto: Ney Douglas)

Reunião na Prefeitura: críticas, apoio e anúncio de investimentos. (Foto: Ney Douglas)

O processo, agora, aguarda apenas uma avaliação do Ministério da Cultura (Minc) e do Corpo de Bombeiros para ser viabilizado. A projeção é que a licitação da reforma do Sandoval Wanderley seja deflagrada no próximo mês. O término da intervenção está previsto para dezembro.

O anúncio foi feito no Palácio Felipe Camarão, sede governo municipal, em reunião com diversos representantes da classe teatral. Segundo o prefeito, todos os recursos necessários à reforma se encontram assegurados. Serão R$ 860 mil do Minc e outros R$ 225 mil dos cofres municipais.
“O Dia do Teatro serviu para a abertura de diálogo com a classe teatral da cidade. Queremos fortalecer a política pública do setor. Mas, antes disso, existe a necessidade daquela praça cultural (Sandoval Wanderley). Não se pode permitir que continuasse abandonado do jeito que se encontra hoje”, lembrou Carlos Eduardo.

Apesar de ser ele, o cobrado, o prefeito elogiou o protesto da classe artística na entrada do teatro municipal, aproveitando para encenar seu melhor ato: reclamar da antecessora. “Foi importante, sim, para chamar a atenção. Serviu também para lavar toda a ignorância e maldade da antiga gestão com o Sandoval Wanderley”, alfinetou.

Ainda para este ano, a Prefeitura do Natal promete investir R$ 800 mil – em outra parceria com o Ministério da Cultura – na reforma do Teatro Jesiel Figueiredo, no bairro de Gramoré, na Zona Norte. O processo licitatório deve ser aberto ainda neste semestre e a previsão de entrega é a mesma do equipamento do Alecrim, no mês de dezembro.

Segundo o presidente da Fundação Capitania das Artes (Funcarte), Dácio Galvão, o órgão gestor da cultura em Natal ainda trabalha para concluir dois cines-teatros. Os equipamentos, nos bairros de Lagoa Azul e Felipe Camarão, custarão R$ 250 mil, cada. As obras estão em curso e tem prazo de conclusão também para dezembro. “A ideia é fortalecer toda a estrutura para o teatro em Natal. A cidade necessita, com certa urgência, a abertura de novos espaços culturais”, completou.

A atriz Titina Medeiros, do grupo Clowns de Shakespeare, falou sobre a necessidade da construção de novas praças para o teatro e da manutenção das já existentes. “O artista potiguar não deve pensar onde será melhor para trabalhar fora de Natal. Nós queremos ter condições de trabalho para exercer nossa profissão aqui, em Natal”, completou.

Artistas se unem na lavagem do teatro

O Dia Mundial do Teatro foi de movimentação no coração bairro do Alecrim. Munidos com vassouras e material de limpeza, representante da classe artística fizeram a lavagem dos acessos e da calçada do espaço Teatro Sandoval Wanderley. Os artistas chamavam a atenção do poder público em favor da reforma do espaço.

Segundo a atriz Bárbara Cristina, a atividade demonstrou a união dos movimentos culturais da cidade em torno da reabertura do Sandoval Wanderley. “Este palco foi minha escola e encontrá-lo assim, fechado e sujo, é muito triste. O ato foi importante para reunir aqueles que se mostram interessados na revitalização deste teatro”, disse.

A lavagem foi coordenada pela Rede Potiguar de Teatro, uma entidade que congrega diversos grupos e coletivos artísticos do Rio Grande do Norte. Segundo o ator, produtor e diretor da Casa da Ribeira, Henrique Fontes, e um dos representantes da entidade, a ação procurou pressionar o município para a reforma. “Todos os grandes representantes do teatro potiguar fizeram história aqui neste teatro. Não reabri-lo é um crime”, asseverou.

A atriz Quitéria Kelly, que, desde janeiro é a diretora do Teatro Sandoval Wanderley, também apoiou o movimento. “Para mim, é muito triste ver isso aqui. Antes de ser uma gestora, eu sou artista e fui criada aqui, neste palco. Meu compromisso é tornar esta praça aberta, novamente, ao público”, afirmou.

A diretora lembrou que a reforma vai servir para recuperar toda a estrutura elétrica e hidráulica, iluminação, som e proteção acústica. Um novo conjunto de cadeiras será instalado sem modificar a estrutura do palco semiarena – o Sandoval Wanderley é único no Rio Grande do Norte com este tipo de formato. “É uma característica que não pode ser modificada”, afirmou Kelly.

Ações urgentes no Sandoval Wanderley

Uma demanda que deve ser resolvida com a reforma é a acessibilidade. O teatro não tem estrutura para receber pessoas com algum tipo de deficiência física ou motora. “Até temos uma rampa, mas ela se inicia com uma escada”, comentou a diretora do espaço.

Outra questão é que o imóvel não possui saídas de emergência adequadas. A única que existe dá acesso ao muro de uma instituição de ensino, a Escola Estadual João Tibúrcio. O prédio, inaugurado em 1962, tem ainda diversos pontos de proliferação de cupins e as paredes apresentam mofo. Os banheiros estão interditados por conta das falhas hidráulicas. Atualmente, a única serventia do espaço é para ensaios da Banda Municipal.

Ontem, Gilson Matias, gestor regional da Fundação Nacional de Artes (Funarte), órgão que representa o Ministério da Cultura no Nordeste, visitou o teatro. Para ele, as reformas necessitam de “urgência urgentíssima”. “Eu vejo um teatro mal cuidado e que carece o mais rapidamente de uma reforma”, afirmou.

Ele garantiu os recursos federais para a obra, R$ 860 mil. O processo está sendo avaliado pelo setor jurídico do Ministério, mas existe uma pendência na regularização fundiária do imóvel. “Após esta etapa, a reforma será liberada para a licitação. Estamos trabalhando para que isso ocorra o mais breve possível. A cidade prescinde deste gigante da cultura”, exagerou. A perspectiva é que as obras se estendam por até seis meses.

História

Corria o ano de 1962 quando o então prefeito Djalma Maranhão resolveu transformar uma biblioteca pública em um teatro. Surgia assim o “Teatrinho do Povo”. Dois anos depois, com o início da ditadura militar, o espaço que se dedicava à exibição de peças populares foi fechado.
O palco só reabriria em 1972. Acabou mudando de nome para homenagear o dramaturgo potiguar Sandoval Wanderley, que havia falecido naquele mesmo ano. Já nos anos 2000, mais especificamente entre 2005 e 2006, o Teatrinho viveu uma boa fase através de shows pelo Projeto “Pixinguinha”. Em 2009, a cortina se fechou novamente e a estrutura foi interditada pelo Ministério Público e pelo Corpo de Bombeiros, que detectaram falhas na estrutura, principalmente com relação à acessibilidade.

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