Na contramão do meio ambiente

9 de abril de 2012

O USO DAS sacolas plásticas nos supermercados foi proibido esta semana em São Paulo. Outros nove estados e mais o Distrito Federal devem adotar a medida nos próximos meses. Apesar de não estar incluído nessa lista, o Rio Grande do Norte chegou a dar alguns passos para implementar a regra – todos, porém, sem sucesso. Segundo a Associação de Supermercados do RN (Assurn), só a Grande Natal consome cerca de seis milhões de sacolas por mês, um gasto mensal de R$ 120 mil e de R$ 1,4 milhão por ano para os supermercados.
O Ministério do Meio Ambiente em Brasília já teria sido procurado por pelo menos dez estados que desejam adotar medida semelhante a de São Paulo, que firmou um Termo de Ajustamento de Conduta entre as empresas, Ministério Público e Governo do Estado para implantar a lei. No Rio Grande do Norte, nada ainda foi feito. Mas segundo o presidente da Assurn, Geraldo Paiva Júnior, a associação tenta abrir o debate desde 2011.
Conforme conta, em maio do ano passado o presidente da associação procurou vereadores e deputados estaduais para apresentar o que estava acontecendo no país sobre o uso das sacolinhas. E para falar, também, da importância de o Estado acompanhar o resto do país.
“Falei com alguns parlamentares para que marcassem uma audiência pública, para reunir a sociedade, os supermercadistas e todos que se interessam pelo assunto para regulamentar o uso das sacolas. Mas nada aconteceu”, reclama.
Paiva também diz que de nada adianta o setor tomar uma medida sem estar amparado pela lei. “Outros estados fizeram isso sem uma lei regulamentando e foi um fracasso. Em São Paulo mesmo, a própria lei teve que ser reaprazada para que o debate fosse ampliado”, reforça. Os órgãos ambientais, principais interessados na temática, também nunca se manifestaram, diz o presidente da Assurn. “Estamos indo na contramão da história. Enquanto boa parte do país está fazendo, o Rio Grande do Norte não acompanha. Deveríamos pelo menos abrir o debate”, defende. O assunto começou a ser debatido entre os supermercadistas locais em 2010 e, em maio do ano passado, chegou à Câmara de Vereadores e à Assembleia Legislativa por meio do representante. Segundo ele, várias matérias foram veiculadas na imprensa para alertar a população sobre o assunto, mas a discussão não progrediu.
O empresário afirma não ser contra o uso da sacola plástica e sim contra o uso indiscriminado do item. “Por ser muito barata e cômoda, as pessoas usam irracionalmente. Precisamos criar uma maneira de diminuir esse impacto na natureza e ajudar o meio ambiente”, acrescenta.
Os supermercados são responsáveis por 90% do uso de sacolas plásticas no país. Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), estados como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais estão adiantados no processo de adotar as sacolas reutilizáveis. As unidades da Federação só aguardam os desdobramentos da campanha em São Paulo para dar o pontapé inicial.
Segundo o presidente da Abras, Sussumu Honda, informou em recente entrevista, o setor tem acordo assinado com o governo federal desde o ano passado que prevê até 2015 a redução de 40% do consumo de sacolas plásticas. Na quarta-feira passada (4), o consumidor que fosse a algum supermercado de São Paulo já não encontrava os itens disponíveis. A distribuição foi proibida, depois de um período de 60 dias de adequação.

Lá, para levar os produtos para casa, o consumidor terá que optar por sacolas retornáveis de plástico, juta ou pano, caixas de papelão ou carrinho de feira, por exemplo. Quem não tiver a sua, poderá comprar uma por R$ 0,59 até fevereiro de 2013, conforme estabelece o TAC.

Em maio próximo, os mercados também passarão a oferecer uma sacola “vaivém” – o consumidor terá a opção de comprar uma sacola que poderá ser devolvida na próxima compra e, ao fazer isso, poderá receber o dinheiro de volta ou abater o valor da compra efetuada. Após os supermercados, feiras livres e padarias poderão adotar a iniciativa – a negociação está em andamento entre as associações e o Ministério Público paulista.

Somente na Grande Natal, uso de sacolinhas custa R$ 1,4 milhão por ano (foto Vanessa Simões - NJ)

SUPERMERCADOS JÁ OFERECEM SACOLAS ALTERNATIVAS
A rede Walmart, que controla as bandeiras Bompreço, Hiper Bompreço, Sam’s Club e Maxxi Atacado em Natal e Parnamirim, trabalha desde 2008 na conscientização do consumidor sobre o uso das sacolas plásticas. Foram feitas campanhas, treinamentos e informações foram repassadas para estimular os clientes a usufruir das reutilizáveis. Com isso, em pouco mais de três anos do início do trabalho, foram comercializadas cerca de três milhões de sacolas reutilizáveis em todo o Brasil.
O programa de redução de sacolas plásticas considerou também o treinamento de funcionários para evitar o desperdício das sacolas plásticas. O Walmart implantou em cada caixa há um porta-sacola que libera uma embalagem por vez, restringindo o uso indiscriminado. Ainda em 2008 a empresa também lançou o programa “Cliente consciente merece desconto”, que já concedeu mais de R$ 2,02 milhões em descontos – evitando o uso de 67 milhões de sacolas plásticas entre janeiro de 2009 e novembro de 2011. A iniciativa funciona da seguinte maneira: o cliente que não utilizar sacola plástica para embalar suas compras ganha R$ 0,03 de desconto por sacola não utilizada ou a cada cinco itens adquiridos – número de produtos que se calcula caber numa sacola plástica. A rede reconhece que apesar de não haver indicativo da proibição no Rio Grande do Norte, o assunto já é uma tendência no país. “O Walmart cumprirá a lei caso ela seja implantada no Estado”, disse o grupo por meio da assessoria de imprensa.
A rede não informou quanto gasta por mês com cada sacola plástica distribuída no Rio Grande do Norte, mas declarou que cada item custa R$ 0,03 para o grupo. O grupo Nordestão não quis se posicionar a respeito da criação de uma lei para o Estado, mas informou por meio da assessoria de imprensa que já faz uso das sacolas oxibiodegradáveis, que se desintegram em 18 meses e colaboram para a redução do nível de agressão ao ambiente. Só a título de informação, as sacolas comuns podem levar até 100 anos para se degradar.
A rede disponibiza quatro milhões de sacolas desse tipo por mês aos clientes. Planeja, para os próximos meses, uma campanha educativa em todas as lojas como forma de incentivar a utilização das sacolas retornáveis. “Em todas as suas lojas o Nordestão procura desenvolver ações que preservem a biodiversidade e os ecossistemas naturais. Além de incentivar o consumidor a adquirir as sacolas retornáveis, informa e conscientiza as pessoas sobre a importância de se reduzir a degradação ambiental”, disse por meio da assessoria de imprensa.
O grupo Pão de Açúcar, que detém a bandeira do Extra em Natal, informou por meio da assessoria que acatou a medida tomada pela Associação Paulista de Supermercados juntamente com o Governo do Estado e está cumprindo a ordem em São Paulo. Não se posicionou, porém, sobre a possibilidade de a medida se estender ao Rio Grande do Norte, nem divulgou as estatísticas locais sobre o consumo das sacolas plásticas. O Carrefour, por sua vez, vem desde 25 de janeiro tentando se adequar à decisão tomada no estado de São Paulo. As 73 unidades existentes naquele estado estão participando da campanha “Vamos tirar o planeta do sufoco”, Para atender o aumento da demanda, o sortimento de embalagens reutilizáveis foi ampliado. Os consumidores paulistas encontrarão nas lojas modelos de sacolas reutilizáveis feitas em ráfia e que suportam 35 kg, por R$2,90, além de duas opções a R$0,49. As lojas também continuarão deixando disponíveis gratuitamente caixas de papelão. Sobre o processo no Rio Grande do Norte e o consumo de sacolas, a empresa não quis se posicionar.

MAIORIA DA POPULAÇÃO CONCORDA COM O USO DE REUTILIZÁVEIS

Apesar de ainda estar longe de essa realidade acontecer no RN, o presidente da Assurn diz que quando houver uma lei regulamentando o uso das sacolas, os supermercados terão que se adequar. “Estamos aqui para servir à sociedade. O que ela pedir, nós teremos que fazer”, diz. O empresário defende, porém, que é preciso buscar outras alternativas – não se trata simplesmente de banir o uso das sacolinhas. “Os mercados terão que disponibilizar caixa de papelão, sacolas retornáveis e biodegradáveis para o cliente comprar. Outra coisa que precisamos ter em mente é que não se pode ter de graça; o consumidor tem uma racionalidade maior quando está pagando pela sacola”, diz. Atualmente todos os supermercados do Estado oferecem a alternativa das sacolas retornáveis, mas o uso voluntário é insignificante.
O que impressiona, porém, é que uma pesquisa feita pela Abras apontou que até 80% da população concorda com o fim das sacolas plásticas. “O que está faltando é uma lei para regulamentar isso. Na discussão nacional, recomendam que seja uma lei municipal ou estadual para ter força maior. Aprovar isso no âmbito nacional seria complicado”, comenta. Cada sacola custa, em média, R$ 0,02. O setor, diz Júnior, não se preocupa com o custo do produto e sim com o meio ambiente.
“Isso não representa nem 1% do faturamento das lojas, isso não nos preocupa. Estamos preocupados com as enchentes que vêm depois da seca e a quebra da produção no campo, que faz aumentar o preço dos produtos e diminuir o poder aquisitivo do consumidor. Muita gente não pensa nisso, mas a natureza começa a causar prejuízo financeiro à economia, atrapalha a condição humana e isso afeta os negócios”, finaliza.

SÃO PAULO
Um acordo entre o governo do Estado e a Associação Paulista de Supermercados (Apas) levou à suspensão de uso das sacolas plásticas nos supermercados de São Paulo no dia 25 de janeiro de 2012. A campanha foi intitulada “Vamos tirar o planeta do sufoco” e as lojas compraram mais de 100 milhões de sacolas biodegradáveis.
No início de fevereiro, depois de protestos de consumidores e representantes da indústria plástica, a Apas teve de firmar um acordo para prorrogar a distribuição gratuita por um período mais longo. Durante 60 dias os lojistas paulistas ofereceram alternativas gratuitas aos consumidores, ao mesmo tempo em que treinaram os funcionários para informar os clientes sobre o fim da distribuição. A proibição passou a valer a partir do último dia 4.

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