Natal – Poder público reconhece abandono do Rio Potengi

9 de julho de 2012

O “Rio Salgado”, como era chamado há 200 anos, se apresenta no século 21 desafortunado e cansado de esperar a providência pública. (Foto: O Poti)

“Há décadas o município de Natal virou as costas para o seu rio “, concorda o secretário municipal de turismo, Murilo Barros, que vê na burocracia pública o entrave histórico que alijou o Potengi de quase todas as ações que o integrassem à cidade. “Tudo na coisa pública é muito complicado quando se desenvolvem projetos que possam utilizar o potencial turístico e econômico de um patrimônio como esse”. Segundo Barros, o modo como se processam as legislações, debates e regularizações de licenças ajudam a atravancar a implementação de projetos em benefício da bacia hidrográfica.

O gestor cita como exemplo a sugestão feita à prefeitura pelo consultor urbanístico baiano Paulo Galdenzi há cerca de dois anos. O projeto contemplaria a criação de um calçadão que se estenderia da área da Marina, localizada próximo ao Forte dos Reis Magos até o Museu da Rampa, que está sendo tocado pelo governo do estado.

No local, haveria passarela, bancos, iluminação, além de uma infraestrutura que ofereceria lazer, conforto e uma bela vista aos visitantes, ligando dois pontos turísticos localizados na margem direita do rio que contaria com o apoio do Exército que tem o 7º Grupo de Artilharia sediado no local.

O secretário explica que a ideia esbarrou na regulamentação da ZPA7, área onde estaria a Marina. “O projeto da ZPA7 nunca foi votado pela câmara municipal e isso emperrou todo o processo. Faltavam também a regularização da Marina e a licença ambiental da área. A burocracia foi o grande entrave deste belo projeto”, lamenta.

Murilo Barros olha para o passado e relembra como o rio era melhor utilizado por iniciativas que beneficiavam a população também em sua mobilidade urbana. “Havia o barco Albacora que fazia travessia entre o Cais da Tavares da Lira e a Redinha, além da balsa que transportava os veículos entre as duas margens que funcionava antes da construção da Ponte Newton Navarro. Tudo foi desativado com o passar dos anos”, lamenta.

Lanchas

O gestor informa que a secretaria de turismo natalense pretende trazer de volta o projeto de travessia de pequenas lanchas para passageiros que existia na década de 70. “Estamos estudando para os próximos meses a viabilização desse projeto que terá a instalação de terminais, barcos adequados que deverão ser uma alternativa de transporte para a população.

Pedro Terceiro, diretor da Companhia Docas do Rio Grande do Norte – Codern, órgão estadual que está realizando a mais importante obra de ampliação no porto natalense, é outro gestor que também vê o abandono do Potengi. “Devemos tratá-lo melhor. A sociedade não dão cuidado que esse rio deve ter”, acrescentando que a população natalense passará a vê-lo melhor após a conclusão das obras do porto.

Murilo Barros lamentou também o deplorável estado em que se encontra o Cais da Tavares de Lira, primeiro porto da cidade. A reportagem esteve no local e constatou o nível de degradação do local, com as péssimas condições de higiene dos comércios que atuam sem nenhuma fiscalização sanitária.

Urbanismo

Por ter um trabalho engajado na história urbanística da cidade, o arquiteto Haroldo Maranhão, autor de projetos na Ribeira e Cidade Alta, alerta para o fato de que Natal é a única capital brasileira que subutiliza suas potencialidade.

“Além de não termos ações efetivas, os órgãos trabalham sem coordenação. Esse rio está esquecido há séculos. Lá deveríamos ter calçadões, atracadouros, ciclovias, parques, entre outros equipamentos de uso público”

Rio Potengi agoniza pelo descaso em Natal

Moisés de Lima, O Poti

Da casa em que morava na Cidade Alta o poeta natalense Bosco Lopes, falecido em 1996, vislumbrava as águas bravias do Rio Potengi e inspirava-se para escrever versos. O poema “Rio Grande” tocava a triste sina de um estado marcado pela pobreza, má sorte e descaso. Semelhante é o destino do rio que serviu para nomear a antiga Capitania do Rio Grande e que em séculos anteriores foi realmente pujante como meio propulsor da economia local, servindo ao transporte das mercadorias que entravam e saíam do território potiguar.

O “Rio Salgado”, como era chamado há 200 anos, se apresenta no século 21 desafortunado e cansado de esperar a providência pública, o interesse privado e a vontade coletiva de vê-lo integrado ao cenário urbano de uma cidade que deu as costas para um patrimônio natural repleto de potencialidades econômicas e turísticas.

No passado, suas águas serviram ao pioneirismo da natação, à travessia de balsas e lanchas de passageiros, aos passeios culturais, ações que foram paulatinamente desativadas pelo descuido da sociedade natalense.

Hoje gestores públicos reconhecem o esquecimento e a ausência de projetos urbanísticos que aproximem os potiguares das águas que poderiam gerar desenvolvimento sócio econômico ao estado. Sofrido pelas agressões como a ocorrida há exatos cinco anos quando toneladas de peixes foram encontrados mortos numa das piores tragédias ambientais da história do estado.

Tratado com desprezo histórico, o rio continua correndo para o mar esperando ser acolhido e melhor tratado pelo povo que o margeia.

Rio grande da morte
Rio grande sem sorte
Rio grande sem forte
Rio Grande do Norte
Rio pequeno do Norte
Rio finito do corte
Rio seco de sorte
Rio Grande do Norte
Rio sem cais sem porto
Rio você já foi morto
Rio de leito torto
Rio chorando de fome
Rio triste sem nome
Rio cansado que some
“Rio Grande” – (Bosco Lopes)

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