Coluna do Barbosa

Carlos Alberto Barbosa é jornalista, natural de Natal (RN), formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desde 1984. É ainda autor do blogdobarbosa e assina uma coluna no portal Nominuto.com​

O falecimento do Estado Democrático de Direito

12 de março de 2016

Usando uma definição bastante pertinente do colega Ailton Medeiros, quando disse nas redes sociais que lamentava “o falecimento do Estado Democrático de Direito” e sentenciava – sem trocadilhos – que “os responsáveis por isso são juizes e promotores travestidos de justiceiros”, devo dizer que concordo com ele.

É justo pagarmos o Judiciário mais caro do mundo para que em questões extremamente delicadas, que implicam sérias consequências para o país na avaliação internacional, se façam ações “inadvertidas” e se cometam “equívocos” em prejuízo sempre de uma mesma parte?

As ações midiáticas protagonizadas nos últimos dias por promotores e juizes nos levam a fazer este questionamento. Senão vejamos:

O pedido de prisão preventiva de Lula feito por promotores do Ministério Público de São Paulo foi necessário?  Está claro que não, e isso não é apenas eu que digo. Juristas ouvidos pela imprensa confirmam. Para Lula depôr, não é necessário mantê-lo preso; bastaria uma nova condução coercitiva. Outras acusações podem configurar falta de educação – mas não crime. Sobre as manobras políticas, não há provas na denúncia, além de um pedido feito ao Conselho Nacional do Ministério Público, já julgado em desfavor de Lula.

Prendê-lo preventivamente, a meu ver, é acelerar um processo que precisa ser conduzido com cautela e serenidade.

Nos parece que há hoje no Brasil uma espécie de Regime de Exceção do Judiciário, o que é muito perigoso para a democracia. Veja-se o caso que aconteceu esta semana em Natal (RN).

Em resposta ao pedido de uma promotora, um magistrado emitiu sentença proibindo o presidente da Fundação de Cultura do Estado José Augusto (FJA), Joaquim Crispiniano Neto, de participar de uma manifestação no domingo em favor ao impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e obrigando-o a se apresentar no Comando da Polícia Militar neste dia. Decisão se deu a partir de postagens feitas pelo presidente da Fundação José Augusto (FJA) em que ele incitou violência contra imprensa em rede social. Detalhe: Crispiniano é filiado ao PT e, portanto, difícil acreditar que ele fosse a essa manifestação.

Pois muito bem, caro leitor. Antes mesmo da sentença que lhe foi imposta, Crispiniano Neto, que é escritor e jornalista, divulgou nota reconhecendo que cometera excessos nas redes sociais, nota essa tornada pública através da mídia onde dizia:

– Reconheço que atuei em tom acima do normal nas redes sociais em resposta ao excesso de provocações e de manipulação que ora atingem o partido a que dediquei a minha vida e os meus sonhos desde um ano antes de ser ele oficialmente fundado.

Minha relação com a imprensa, instituição com que convivo por dentro, há quatro décadas, sempre foi cordial e civilizada, mesmo tendo que exercitar por todas estas décadas, diariamente a mensagem de Evelyn Beatrice Hall, tão confundida como sendo de Voltaire: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você está dizendo, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”. 

Como se observa, nem o direito de expressão garantido pela Constituição Federal, está sendo respeitado pelo “Regime de Exceção do Judiciário”. É como diz Ailton Medeiros: “lamento o falecimento do Estado Democrático de Direito”.

Tenho dito!

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