Coluna do Barbosa

Carlos Alberto Barbosa é jornalista, natural de Natal (RN), formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desde 1984. É ainda autor do blogdobarbosa e assina uma coluna no portal Nominuto.com​

O PT paga um preço alto por ter quebrado paradigmas

6 de agosto de 2015

Sei que o que vou falar vai levar a discordância de muita gente, inclusive, de amigos. Mas, a despeito do PT ter caído na vala comum dos outros partidos com alguns dos seus principais líderes envolvidos em escândalos, o que não é nenhuma novidade na política brasileira, fato é que o Partido dos Trabalhadores está pagando um preço alto demais por ter quebrado paradigmas.

Primeiro com Lula, um metalúrgico e sindicalista, retirante do Nordeste e com apenas o segundo grau incompleto, que chegou a Presidência da República numa eleição histórica. Depois com Dilma, a primeira mulher a ser eleita presidenta, depois de ter sofrido horrores na ditadura militar lutando pela democracia.

O discurso do ódio, sobretudo da elite brasileira, demonstra claramente o que estou a dizer. Escândalos envolvendo políticos neste país varonil sempre ocorreram. Quem não se lembra do escândalo denominado de “anões do orçamento”, quando em 1993, uma CPI investigou 37 parlamentares por suposto envolvimento em esquemas de fraudes na Comissão de Orçamento do Congresso Nacional. O relatório final de Roberto Magalhães (PFL-PE), pediu a cassação de 18 deles, mas apenas seis foram para a degola.

Quem não se lembra do escândalo do Sivam no governo FHC? O Projeto Sivam – Sistema de Vigilância da Amazônia foi concluído pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República em agosto de 1993. Segundo o governo, o sistema se destinaria a preservação do meio ambiente na Amazônia, ao combate ao narcotráfico, à melhoria das condições de segurança da navegação aérea e fluvial, fiscalização das reservas indígenas, guarda das fronteiras e apoio a outras atividades governamentais.

Porém, ao dar início à consecução do projeto, o governo não abriu concorrência pública alegando sigilo dos dados relativos à aquisição de tecnologia e equipamentos de comunicação. Contraditoriamente, o governo enviou um dossiê sobre o Sivam para 16 embaixadas em Brasília. Depois da dispensa da concorrência pública, para um contrato no valor de US$ 1,4 bilhão o governo escolheu o consórcio liderado pela Raytheon Company, uma empresa americana. A negociação para formação desse consórcio e para que ele fosse o escolhido, teve a interferência direta de Bill Clinton, presidente dos EUA, e de Ronald Brow, secretário de Comércio daquele país. Este senhor esteve no Brasil um mês antes do anúncio do resultado da “concorrência”. Brow tratou do assunto com autoridades brasileiras.

Em seguida o grupo Esca-Engenharia de Sistemas de Controle e Automação S/A, de São Paulo, se associou à Raytheon. No mesmo período o Senado Federal foi acionado, e, numa sessão extraordinária conturbada, na qual o regimento interno foi violado, aprovou-se em regime de urgência um projeto autorizando o governo federal a contrair um empréstimo no valor de US$ 1,4 bilhão, destinado à implantação do Sivam. O relator do projeto foi o senador Gilberto Miranda, PFL-AM, um cidadão denunciado por suposta participação em diversos escândalos de corrupção. Ele foi denunciado na CPI que investigou a corrupção no governo Collor, como membro do “esquema PC”, no escândalo dos precatórios e no envolvimento num esquema de corrupção da prefeitura de São Paulo.

Fico apenas nestas citações para dizer que o maior pecado dos governos do PT – Lula e Dilma – foi o de ter quebrado paradigmas numa sociedade conservadora e machista. Esperavam que o PT ficasse apenas nos dois governos Lula – 8 anos, portanto -, mas com a eleição de Dilma e a sua posterior reeleição, a elite brasileira orquestrada pela oposição tucana, claro, tenta promover o terceiro turno com um impedimento da presidenta. Óbvio que a Lava-Jato tem um peso nisso tudo. Mas, repito, o principal fator foi a quebra de paradigmas, o que a sociedade conservadora não aceita. Daí, a sustentação dos escândalos envolvendo nomes do PT para se tentar chegar a Lula e a Dilma, retratada nas capas da Veja, que semana sim outra sim “derruba” o governo. Aguardemos, pois, qual será a manchete da Veja, no próximo fim de semana. Imagino assim: “Enfim, pegaram Lula”. Seria um orgasmo conjunto de toda a Redação da revista e, claro, da elite brasileira.

A conferir!

 

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