A Tribuna do Norte trouxe reportagem sobre o Assentamento Rosário, na Agrovila Canudos, que mostra as atividades de piscicultura que os assentados estão realizando e as expectativas de crescimento econômico, a partir da utilização de energia renovável. Confira a reportagem:
O investimento na cultura da tilápia não é o único “plano sustentável” do assentamento Rosário para 2015. A lista de projetos inclui ainda a microgeração de eletricidade a partir de fontes renováveis, estratégica para reduzir custos. Um projeto nesse sentido está em gestação, com perspectiva de implantação no próximo ano. A proposta é gerar energia eólica e solar para bombear a água dos viveiros de tilápia e alimentar a futura unidade de beneficiamento.
“O projeto pode reduzir em 1/3 o custo de geração da energia e, uma vez amortizado o investimento (o que se espera que aconteça em até oito anos), esse custo será reduzido a zero”, afirma Jean-Paul Prates, diretor do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), que está à frente do projeto. Pelo método usado hoje, a energia sai da rede de distribuição e alimenta três bombas d´água nos viveiros, ligadas praticamente 24 horas por dia. O resultado é uma conta de aproximadamente R$ 8 mil/mês, o maior custo de produção dos assentados.
O sistema próprio de microgeração é apontado como imprescindível também para a implantação da unidade beneficiadora de tilápias, com frigorífico, que os assentados tentam viabilizar. A previsão é que essa unidade consuma 15 vezes mais energia, o que elevaria o custo para cerca de R$ 120 mil/mês.
Jean-Paul Prates: Energias renováveis podem reduzir em 1/3 custo de geração em assentamento (foto: Junior Santos)
Investimento
A expectativa é que o projeto do frigorífico, cujo financiamento será buscado junto ao governo federal, já incorpore a solução sustentável. Já o investimento para alimentar as bombas d’água com energias renováveis, estimado entre R$ 500 mil e R$ 800 mil, poderá ser bancado por empresas geradoras de eletricidade que operam nos arredores do assentamento.
“Um percentual do investimento dessas empresas tem que ser revertido para ações sociais. As contrapartidas estavam voltadas para ações como tratamentos dentários nas comunidades, mas elas começam a exigir ações com o viés produtivo”, diz Prates.
As compensações sociais podem ser exigidas em licenciamentos ambientais ou ser pré-requisitos para obtenção de crédito, quando a instituição financeira pode condicionar parte do financiamento a alguma contrapartida socioambiental.
O Cerne pretende colocar a solução energética na “prateleira” e oferecê-la como alternativa às empresas que implantam projetos de energias renováveis no Rio Grande do Norte e precisam dar essa contrapartida.
O estado é o maior gerador de energia eólica do Brasil, o que tem a maior participação dessa fonte na matriz energética (74,56%) e o que conta com a maior potência em construção e potência autorizada, mas ainda não construída. E a região Mato Grande é a que reúne a maior fatia desses empreendimentos.
O projeto no Assentamento Rosário está, atualmente, na fase de levantamento de custos e tecnologias que serão usadas. A idéia, inicialmente, é que 70% da capacidade venha de energia eólica e o restante de energia solar. Hoje, o assentamento tem três bombas d’água, com potência somada de 20 mil kw/h mês.
Pelo projeto atualmente em estudo, a turbina, também chamada de aerogerador, teria 12 metros de torre e pás com 4 metros – cerca de 10 vezes menores do que equipamentos convencionais.Dois projetos estão em análise. O primeiro prevê a implantação de um único aerogerador para alimentar as três bombas do assentamento. A segunda opção seria implantar três aerogeradores independentes, um em cada bomba.
“Esperamos ter o projeto implantado em 2015 e em até cinco anos vemos a possibilidade de ele chegar a outros assentamentos do Mato Grande, reduzindo custos e aumentando a produtividade na região”, estima Prates.
Para a disseminação, no entanto, o poder público também precisará entrar em campo, segundo ele, com processos de licenciamento mais ágeis e linhas de crédito específicas.
Saiba Mais
O Rio Grande do Norte é o maior gerador de energia eólica do Brasil, a energia gerada a partir do vento. De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), até o dia 16 de dezembro havia em operação 1.495,6 Megawatts (MW) no estado, o equivalente a 31,42% do total do Brasil. Além disso, estavam em construção 1.131,1 MW (35,28% do nacional), e outros 2.399,3 MW esperavam o início das obras – 33,62% do total do país. Boa parte desses investimentos está na região Mato Grande, com destaque para os municípios de João Câmara e Parazinho. “No mundo inteiro se fala em energias renováveis e eficiência energética”, diz o diretor de energia eólica do Cerne, Milton Pinto. “E a microgeração ilhada, em que comunidades isoladas montam a infraestrutura e fazem sua própria geração, é uma tendência”, frisa.
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