A saída para reverter o quadro de desaceleração verificado na economia local seria estimular a exportação e não a importação, afirma o professor da pós-graduação de Economia na UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte – e coordenador do Grupo de Pesquisa e Estudos em Espaço, Trabalho, Inovação e Sustentabilidade, William Pereira.
Ao analisar a perda de ritmo do estado – apresentada ao longo das duas últimas semanas em matérias da TRIBUNA DO NORTE e no domingo passado em reportagem especial sobre a indústria – ele contestou o modelo importador adotado pelo governo estadual e afirmou que todas as economias que cresceram apostaram na exportação. Para William, o Import RN, projeto que incentiva a importação através do Porto de Natal, não será a tábua de salvação da economia potiguar. Na visão do professor, é preciso produzir e exportar mais. Mas não só commodities, produtos não manufaturados.
De acordo com Pereira, o Estado precisaria agregar valor aos produtos, o que poderia ocorrer com o reforço da industrialização. Ao longo das últimas semanas, vários indicadores foram divulgados colocando o RN numa situação desconfortável. Estudo do Sebrae, por exemplo, apontou queda da participação potiguar na geração de empregos formais no Nordeste e nas exportações. No setor industrial, também houve perda. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego mostram que o desempenho da indústria de transformação potiguar foi o pior em nove anos. O RN foi o único a fechar o ano com saldo de empregos negativo na região. “Toda economia que procurou crescer se concentrou na produção e exportação”, afirma o pesquisador. A alternativa, segundo William, seria atrair novas indústrias e fortalecer as já instaladas, através da concessão de incentivos, formação de mão de obra especializada e investimento em infraestrutura. Concessão de terrenos para instalação de distritos industriais e instalação de água, energia e telecomunicações serviriam como ‘iscas’ para atrair novas indústrias.
Para Obery Rodrigues, secretário de Planejamento e Finanças do estado, o Import RN tornaria o porto mais competitivo e não prejudicaria a economia local. O ex-governador Geraldo Melo não comentou a implantação do projeto e preferiu não dar ‘receitas’ de como alavancar a economia. Mas opina que tudo o que gera crescimento do produto interno bruto deve ser estimulado. “Não posso, porém, deixar de ver a situação com preocupação. Mas tenho certeza de que as autoridades estão tão preocupadas como eu”, disse. A equipe de reportagem tentou entrar em contato com o secretário de Desenvolvimento Econômico, Benito Gama, mas não obteve êxito.
Para secretário, programa também estimula vendas
O secretário estadual de planejamento e finanças, Obery Rodrigues,defende o Import RN como forma de fortalecer não só as importações, mas as exportações. Rodriguesexplica que os mesmos navios que trouxerem mercadoria também levarão, por um custo menor, apenas para não voltarem vazios. O projeto, analisa ele, colocará o porto de Natal na rota das principais companhias de navegação. Mas isso não basta.
“Precisamos modernizar nossa infraestrutura, investir em estradas, em portos”, avalia ainda ele, que já esteve à frente da pasta de Desenvolvimento Econômico.
O secretário afirma que o governo do estado tem trabalhado para alavancar a economia, mas reconhece que a margem de manobra de investimento é apertada. “Todos os estados tem limitações”, justifica.
Ele voltou a esclarecer que a queda nas exportações verificada entre 2005 e 2011 foi motivada, em parte, pela retirada do petróleo da pauta externa. Os outros itens da pauta de exportação, segundo ele, não sofreram quedas expressivas.
Apesar de ponderar que o cenário não é tão ruim quanto parece, o secretário disse assistir com preocupação a enxurrada de produtos chineses no mercado nacional e potiguar. “Este avanço afeta principalmente a indústria têxtil no país e sobretudo no RN, onde o segmento tem grande participação na produção industrial”.
Ele destacou que o estado tem um programa de incentivo a industrialização atrativo – o Proadi, mas que muitas vezes não compensa a desvantagem cambial.
Copa deve ajudar na recuperação do Estado
O cenário econômico no RN ficará melhor quando as obras que preparam Natal para a Copa saírem do papel, acredita o deputado estadual Getúlio Rego, líder governista na Assembleia Legislativa. O deputado diz ter recebido os indicadores com surpresa, mas acredita que quadro ruim será revertido tão logo os projetos previstos para a capital saiam do papel.
Ele destaca entre as obras e ações que devem gerar mais emprego e renda no estado, as de mobilidade urbana e os investimentos na hotelaria, “instrumentos fortes para impulsionar o desenvolvimento”. Getúlio acredita que o governo do estado não enfrentará dificuldades para tirar novos projetos do papel. “O Tesouro Nacional atestou a saúde financeira do estado em função do esforço que foi feito para conter gastos e pagar credores”. O momento, segundo ele, é de enfrentar dificuldades e desatar os nós que estão emperrando o desenvolvimento do RN.
A equipe de reportagem tentou entrar em contato com o deputado estadual José Dias, presidente da Comissão de Economia da Assembleia Legislativa, mas não obteve êxito.
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