Presidente nacional do Democratas, o senador José Agripino Maia articula as alianças para o pleito 2012, focando também na disputa da eleição estadual de 2014. Ele confirma que a campanha municipal funcionará como “ensaio geral” o pleito seguinte. O senador enaltece a aliança do DEM com o PMDB e o PR e considera natural a candidatura à reeleição da governadora Rosalba Ciarlini. Ainda sobre a eleição estadual, ele cita os deputados federais Henrique Eduardo Alves (PMDB) e João Maia (PR) para o pleito, embora prefira não comentar sobre as posições que esses ocuparão na chapa majoritária. Sobre a eleição de 2012, o senador José Agripino Maia admite que a tendência é o Democratas apoiar a candidatura do deputado federal Rogério Marinho, em Natal. No entanto, o senador ainda vê possibilidade de uma união entre o PMDB, PP, PR, Democratas e PSDB com um candidato único a prefeito da capital potiguar. A fórmula para isso já encontrou: seria feita uma pesquisa e o candidato dessas legendas mais bem colocado ficaria como o escolhido do grupo. Mas na mesa de negociação, José Agripino disse que o PMDB não aceitou o critério. Para a eleição de Mossoró, o líder do Democratas confirmou que delegou a tarefa de escolher a candidata à governadora Rosalba Ciarlini e o ex-deputado Carlos Augusto Rosado. Analisando o cenário nacional pós-denúncias contra o senador Demóstenes Torres, que era filiado ao DEM, José Agripino afirmou que o partido “sai sofrido, mas com o discurso robustecido”. O líder partidário nega qualquer projeto de fusão com o PSDB e acredita que os pleitos 2012 e 2014 devolverão ao Democratas “no mínimo, o tamanho que era antes da criação do PSD”. Ao responder sobre o governo Rosalba Ciarlini, o senador admite que a administração não está como “ele gostaria”, mas credita isso ao desequilíbrio financeiro com que Rosalba Ciarlini encontrou a gestão. Confira a entrevista que o senador José Agripino Maia concedeu à TRIBUNA DO NORTE.
O Democratas volta a ficar trincado no episódio envolvendo o senador Demóstenes Torres?
Não. De forma alguma. Foi um episódio duro, uma decepção para o Brasil e para nós do Democratas. Diria que para nós a decepção foi dobrada porque convivemos com Demóstenes durante mais de oito anos e não fazíamos a menor ideia de que ele poderia estar envolvido com os fatos que estão denunciados. Agora, o que é importante para o partido? É você manter sua linha de coerência e o discurso, a postura. No episódio Arruda (ex-governador do Distrito Federal que foi denunciado por corrupção), o Democratas teve atitude que nenhum outro partido até agora repetiu. O PT trata como uma estrela de primeira grandeza José Dirceu, que é o andarilho do Brasil inteiro e está costurando as aliança do PT nas eleições. José Genoíno é assessor de Ministério. Waldomiro Diniz é festejado na sua volta ao partido. Esses mensaleiros todos, para citar apenas alguns, além de não expulsos, são festejados pelo partido. Acho isso uma indignidade perante o país, perante a sociedade. Ela (a sociedade) se espelha muito nos exemplos que são dados. E o exemplo político que o PT dá com seus mensaleiros é o da impunidade e da conivência. O mensalão está aí, o julgamento dos mensaleiros estará em pauta no Supremo Tribunal Federal e o Brasil vai ver quem é quem. O Democratas expulsou José Roberto Arruda. O Democratas, no caso de Demóstenes, logo no primeiro momento, quando as evidências ficaram claras, tomou uma postura de criar as condições de imposição a Demóstenes, que era um dos nosso melhores quadros e em quem nós confiávamos tanto, para o pedido de desfiliação. O partido mantém o discurso, a coerência, a consistência, que outros não têm. Eu não vi nenhum outro partido tomar atitude no tempo em que o Democratas tomou. O Democratas não esperou, antecipou-se aos fatos e tomou uma posição. O partido, no episódio Demóstenes, sai sofrido, mas sai com o discurso robustecido. É o único que tem condição, no Brasil, de dizer que se envolver líderes seus, de primeira, segunda ou qualquer grandeza, não hesita em fazer a limpeza em nome da não convivência com improbidade e da formulação programática defensável. E um dos nossos princípios é a defesa da ética.
Mas numericamente, no Congresso Nacional, o Democratas teve baixas. Perdeu o líder, que era Demóstenes Torres, e vários deputados no processo de criação do PSD. O DEM é um partido em definhamento a ponto de colocar em risco a existência e representatividade?
Absolutamente. É preciso que se reconheça que as perdas que o Democratas teve recentemente para o PSD foram as que ocorreram porque o partido, pela sua essência, insistiu no posicionamento correto de se manter na oposição. É muito fácil correr para o Governo, que foi o caminho que o PSD escolheu, quando se criou uma legenda nova com vários políticos que queriam se aproximar do Governo). Insistimos no posicionamento claro de ficar na oposição. E no Democratas ficou a essência do partido. Perdemos 17 deputados e um senador. Mas ficou a essência. Os mais votados do partido ficaram. Nesse momento está ocorrendo que nunca tivemos uma pré-campanha municipal com tanta perspectiva de vitória como temos agora pelos nossos valores e pelos exemplos que nossos valores têm dado. ACM Neto (deputado federal) é o ponteiro na eleição para prefeito de Salvador, João Alves é ponteiro na eleição para Aracaju, Mendonça Filho está na disputa real em Recife, Moroni Torgan se dispõe a ser o candidato a prefeito de Fortaleza e está bem posicionado. Em Macapá, o deputado Gabriel Columbe está em primeiro lugar. Fora cidades importantes, onde nós esperamos ganhar a eleição, como Mossoró, Caruaru, Vila Velha, Feira de Santana… Aí você remete a eleição de 2014. Em 2014 nos espera a volta de Marco Maciel ao Congresso Nacional, de Heráclito Fortes, de Paulo Souto, de José Carlos Aleluia. Eles perderam eleição majoritária, mas, com certeza absoluta, se elegerão deputados federais e até trarão outros parlamentares. O partido hoje é muito mais forte em São Paulo do que era.
Muito se falou na imprensa sobre fusão do DEM com o PSDB…
Na hora que ocorrem fatos como esse de Demóstenes Torres fragiliza o partido e gera esse tipo de comentário, que não passa disso: comentário. Como você pode pensar em fusão, considerando as perspectivas das eleições de 2012? Nossa expectativa é venturosa nas eleições municipais, é de fazer mais prefeitos do que temos hoje. Vamos fazer prefeitos de capitais, onde não temos nenhum hoje. Como você vai antever um futuro promissor imaginando uma fusão que seria conclusão de definhamento? A fusão ocorreria se não tivéssemos essa expectativa de fazermos mais prefeitos. Quando se fala em fusão, se fala em expectativa de resultado negativo na eleição municipal. Nossa expectativa é termos na eleição municipal um resultado muito melhor do que temos hoje. Ao invés de fusão, nossa expectativa é de crescimento do Democratas.
O senhor acredita que os órgãos de fiscalização e controle têm sido mais rigorosos com os adversários do Governo do que aqueles que são de partido da base de apoio?
Isso as investigações vão mostrar. No caso recente de Demóstenes, ele foi objeto fundamental. Eu temo e vou trabalhar como líder de oposição para que não aconteça o que temo: que o Governo tenha aderido à CPI (de Carlinhos Cachoeira) para criar um fato político e tirar o foco do julgamento do mensalão. Isso não vamos permitir. Vamos querer que a investigação aconteça por inteiro, no campo público e privado. Se existem empresas que estejam corrompendo o processo, têm que ser também objeto de investigação. Agora não quero fazer nenhum pré-julgamento e dizer que a Polícia Federal está mais atenta às figuras da oposição do que às do Governo. Ela (a investigação) deve ocorrer com isenção, sem proteger quem quer que seja, para o país saber quem é quem. Se fatos existem decorrentes das investigações não podem ser circunscritos a certos interesses. Ela deve ocorrer no âmbito completo, como vai ter que acontecer nesta CPMI do Cachoeira. Se existem empresas que tenham exercido papel de corruptoras, que se investigue tudo dentro das suas vinculações.
O único governo estadual do DEM é o de Rosalba. E pesquisas recentes apontam índice de desaprovação superior a 60%. O que acontece com o governo do DEM no Rio Grande do Norte?
Isso é produto do quadro que ela encontrou. Ela (a governadora Rosalba) não hesitou em mostrar o quadro de dificuldades que encontrou ao assumir e que paulatinamente vem sendo enfrentado e superado, agora com dificuldades. Você pode me perguntar se ela já equilibrou as dificuldades orçamentárias. Isso ainda não ocorreu. Mas ela está avançando, ela começa a avançar. Tem exemplos que apontam para sucesso. O que confio é no padrão moral de Rosalba. Ela tem disposição de trabalho monumental, montou a equipe possível e está como ninguém se movimentando para conseguir recursos e poder governar. O desgaste de Rosalba, neste início, que aceito e considero como fato, é decorrente das dificuldades principalmente orçamentária que ela encontrou, que vem enfrentando, superando com dificuldade e em uma velocidade menor do que eu deseja e do que ela desejava. Acho que Rosalba, se não está bem, tem todas as condições de terminar o Governo bem. Ela guarda duas ferramentas fundamentais: ela é honesta, proba, e tem espírito público e capacidade de trabalho inigualável. Superadas as dificuldades financeiras ela fará o Governo que eu e o Rio Grande do Norte esperamos dela.
Então o senhor admite que o governo Rosalba não está bem?
Não diria que não está bem. Diria que esperávamos, e até ela própria, que não tivesse encontrado tantas dificuldades que a levasse a estar no quadro de dificuldades que ela enfrenta.
Quase um ano e meio depois de assumir o discurso da “herança maldita” não se exauriu?
Mas ela começa a apresentar resultados. De um mês para cá, ela começa a lançar adutoras, casas, construção de estradas em vários locais do Estado. O que ela precisa, na verdade, é recurso próprio, administrar o equilíbrio financeiro do Estado para melhorar a qualidade do serviço público que chega a cada cidadão. As Centrais do Cidadão, os hospitais públicos, isso exige recurso próprio, sobra para investir e prestar serviço de qualidade à sociedade. É aí onde está morando o grande problema de Rosalba. A superação do desequilíbrio orçamentário que possibilite disponibilidade de recurso próprio para que o serviço público responsável pelo Estado seja ofertado com a qualidade que o povo espera.
O governo Rosalba está há mais de um mês sem secretário de Justiça e Cidadania, e há três semanas sem secretário de Turismo. A impressão que passa é que a governadora está com dificuldade de escolher os auxiliares ou não consegue fazer o arranjo político. ..
Arranjos políticos têm. Todo governo é feito de alianças políticas. As alianças políticas com o PR, com o PMDB são fatos desejáveis até para que ela possa ter na Assembleia Legislativa número suficiente para aprovar os projetos de interesse do Estado, por exemplo, a concessão de empréstimo, o Proimport. Isso envolve a composição do secretariado com indicações que passem pela vertente política, com qualidade. Talvez o que esteja demorando é a conciliação por parte desse partidos de pessoas com indicação política com qualidade.
Então o senhor acha que os aliados não estão indicando as pessoas com a qualidade que a governadora deseja?
Não. Acho que o processo de indicação passa por um crivo. Talvez o crivo esteja sendo exercitado, a indicação política aliada à indicação de qualidade. Às vezes você consegue fazer a indicação e em um segundo está resolvido. Às vezes demora um pouco mais. O importante é não errar na escolha e não errar no crivo.
O líder do Governo na Assembleia, deputado Getúlio Rego, disse recentemente que faltam duas coisas para o Governo: diálogo com os deputados e mais autonomia aos secretários. O senhor concorda com essa avaliação?
Toda crítica construtiva pode contribuir e o objeto de Getúlio foi uma crítica construtiva no sentido de fazer com que o Governo fique atento ao que ele colocou. Não houve desafio. Houve o apontamento de fatos que o Governo precisa olhar com prioridade.
Está faltando a capacidade de articulação política do Governo?
Acho que não. Estaria havendo se não houvesse o diálogo, a crítica e a tomada de posição. A relação do líder do Governo com o Governo não é de subserviência, é de prestação de serviço com autonomia e com vontade de servir. Nem sempre você serve dizendo amém. Muitas vezes você serve discordando, apontando falhas para que elas sejam reparadas.
Eleições 2012. O DEM está fechado com a candidatura do deputado federal Rogério Marinho (PSDB) a prefeito de Natal?
Está quase na hora de ter essas definições. Mas nós nos encaminhamos sim para a candidatura de Rogério Marinho. A eleição de uma capital se decide dentro de uma campanha. Rogério, na minha opinião, é o candidato mais aparelhado e estruturado para exercer o cargo de prefeito de Natal. Ele tem conhecimento e muita vontade de governar a cidade.
E nesse palanque o senhor vislumbra quais aliados?
Eu gostaria que o PMDB, o PR e o Democratas estivessem no mesmo palanque e não abandonei essa ideia. Até porque o jogo não está jogado. Não sei quem serão os candidatos. Os candidatos que são postos nas pesquisas estão sob a perspectivas de poderem ter suas candidaturas impugnadas. Qual vai ser a perspectiva real, o quadro? Fulano pode ser candidato? Beltrana vai ser candidata? Quem será candidato de verdade? De acordo com quem possa ser candidato você pode promover arranjos novos, inclusive de juntar candidatos da base de Rosalba em torno de um só em nome da racionalidade. Claro que nesse momento os partidos dispõem de candidaturas. Se o quadro for um você pode ter um arranjo, se o quadro for outro você pode ser levado a ter outro tipo de arranjo. Eu não abandonei a minha tese de que o melhor para nós seria o PMDB, o PR, o PP, PSDB e o Democratas terem um candidato só.
Como seria essa união dos partidos em torno de um só candidato?
A proposta que fizemos há três meses foi clara e mantenho: se faria uma pesquisa por um instituto acreditado e o candidato na pesquisa preferido seria o candidato dos partidos. Eu fiz essa proposta, Rogério Marinho concordou com ela.
E o PMDB concordou?
Não, infelizmente não concordou, pelas razões que eu respeito, mas não concordou.
As candidaturas de 2014 já estão sendo articuladas?
Normal que Rosalba seja pré-candidata à reeleição. É normal a pretensão de Rosalba, que ela nunca me colocou, mas entendo como perfeitamente necessária e justificável ela ser candidata à reeleição. E dentro dos nossos parceiros a composição da chapa para vice-governador e senador será, necessariamente, a escolha dos partidos, que têm grandes nomes. No PR você tem João Maia. No PMDB, você tem Garibaldi (Filho, ministro da Previdência), que não pode ser candidato. Henrique Alves pode ser um grande candidato. Na hora certa iremos nos compor, o importante é o exercício das afinidades. E entendemos que estamos fazendo um avant-première para 2014.
E o episódio de um depoimento que vazou e teria feita referência à uma doação de campanha irregular ao senhor, está superado?
Quando você trabalha com a verdade é fácil falar. Essa doação não existiu. O que é duro é ter que explicar e justificar o fato que não aconteceu. A doação não existiu.
Preocupa o risco de investigação seletiva ou “arapongagem” contra a oposição?
Esse temor eu tenho. Eu convivo com essa possibilidade. Tenho presente essa perspectiva. Eu não quero fazer conjectura. Agora, para um democracia, um estado policialesco seria um perigo.
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