É tempo de livros, literatura e cultura em Mossoró

9 de agosto de 2012

Deu no caderno Viver da Tribuna do Norte:

Feira do livro mescla literatura pop, biografia, regionalismo e filosofia, com presenças de Márcia Tiburi, Lira Neto e Humberto Gessinger. (Foto: Tribuna do Norte)

Discussões sobre cangaço e  cordel, o centenário de Luiz Gonzaga, a vida de Getúlio Vargas, e a relação entre filosofia e literatura, entre outras, irão movimentar a 8ª edição da Feira do Livro de Mossoró, de 08 a 12 de agosto, agora em novo espaço.   O evento saiu da Estação Eliseu Ventania – devido às chuvas – e foi para o pavilhão climatizado da Expocenter, melhor preparado para receber a extensa programação da feira. Durante cinco dias, os visitantes terão oficinas temáticas, palestras, bate-papos, lançamentos de livros e quadrinhos, apresentações teatrais e musicais, exposições e comércio de livro, quadrinhos e cordéis. Apesar de a Feira do Livro ter sido incluída este ano na grade do Agosto da Alegria, sua agenda de atrações é montada de forma independente, conforme as sugestões e ideias de parceiros do evento, gente da educação e do meio cultural da cidade, segundo informou um dos realizadores, o jornalista Osnir Damásio.  A programação da Feira de Mossoró se dividirá entre quatro ambientes diferentes: os miniauditórios, reservado para oficinas, palestras e discussões; o Pavilhão de Livros, espaço onde as publicações serão expostas para venda; Espaço do Autor, destinado ao encontro com os escritores, que lançarão e autografarão suas obras, e o Espaço Literário, dedicado às palestras.

As manhãs e tardes serão ocupadas pelas apresentações dos muitos grupos escolares que compõem o evento, entre números de música e teatro. Neste ano, a prefeitura de Mossoró dispôs R$160 mil em cheque-livro, garantindo que as escolas poderão comprar novidades para seus acervos e alunos.

O dia de abertura do evento terá a presença do cantor e compositor Humberto Gessinger, às 20h, apresentando “Nas entrelinhas do horizonte”, seu quarto livro. Trata-se da incursão do vocalista do Engenheiros do Hawaii no terreno da crônica, a partir de seus posts num blog pessoal. O título, por sinal, foi tirado da letra de “Infinita Hinghway”, um dos maiores hits da banda gaúcha. Gessinger estará acompanhado de Robson Régis. Na quinta-feira haverá debate com João Batista Machado.

Na sexta-feira, às 19h, a convidada Márcia Tiburi discutirá a relação entre filosofia e literatura. Ela, que é filósofa e escritora, tem uma extensa bibliografia que inclui artigos, ensaios e romances, além de ser bastante requisitada para palestras e eventos literários em geral. Márcia costuma discutir filosofia, ética e educação de forma acessível e envolvente. Ainda na sexta, haverá o debate “Por que decidimos escrever?”, às 17h, com Aluísio Azevedo, Edivan Silva e Cluedivan Jânio – que também lançará  “O RN nos selos postais do Brasil”.

ESTREIA DOS QUADRINHOS

Uma novidade em 2012 é a inserção dos quadrinhos na programação da Feira. Será no sábado, às 17h, com a mesa “Heróis e anti-heróis”, a cargo dos desenhistas Geraldo Borges e Gabriel Andrade Jr., sob mediação de Milena Azevedo. Borges é desenhista da Art&Comics International e professor de animação da Universidade de Fortaleza; e Gabriel é artista exclusivo da Avatar Press. Ambos também farão oficinas.  A oficina é para ilustradores e para quem estuda desenho, seja cartoon, quadrinhos ou arte convencional. O destaque literário do sábado será o escritor e jornalista cearense Lira Neto, às 20h, conversando sobre o livro “Getúlio – Dos anos de formação à conquista do poder”, um bestseller entre os mais vendidos no país.

A feira de 2012 também aproveitou datas pontuais, como o centenário de Luiz Gonzaga, para puxar outros da seara popular/regional, como o cordel e o cangaço, que ganharam debates, exposições  e um festival. Na sexta, Gonzagão será discutido às 20h no Espaço do Autor a cargo de Xico Nóbrega, Múcio Procópio  e Kyldemir Dantas. No sábado, às 18h30, haverá a mesa redonda “Cangaço”, com o professor Joca e Honório Medeiros, sob mediação de Kyldemir Dantas. No domingo, às 20h, terá um Festival com Antônio Francisco.

Entrevista

Lira Neto, escritor,  biógrafo

“Sou um repórter da história, gosto de biografias”

Um dos políticos mais controversos do Brasil, morto há quase 60 anos, ainda é capaz de mobilizar o país. Pelo menos na lista de livros mais vendidos, caso de “Getúlio –

Foto: Tribuna do Norte

Dos anos de formação à conquista do poder”, bestseller do jornalista e escritor Lira Neto, que participará da Feira do Livro de Mossoró. Ao VIVER, ele falou sobre a enorme repercussão e sucesso de seu livro, que faz parte de uma trilogia sobre o “pai dos pobres”.

Você esperava que a bio sobre Getúlio fosse causar tanta comoção? Como explica isso?

O livro, felizmente, tem sido muito bem recebido pela crítica e pelo público. No mundo acadêmico, historiadores, economistas e cientistas políticos, renomados especialistas na chamada Era Vargas, escreveram resenhas bastante positivas. E, quase três meses após o lançamento, a obra continua entre as mais vendidas em todo o país. Venho me dedicando intensamente a esse projeto de contar a história de Getúlio de forma exaustiva, aliando uma vasta consulta bibliográfica à pesquisa minuciosa em fontes primárias. Acredito que o sucesso da empreitada é necessariamente uma decorrência do trabalho sério e consistente. Mas também creio que o grande mérito disso está na trajetória do próprio biografado, um homem controvertido, até hoje amado e odiado, que alimenta devoções e ódios, rancores e afetos.

Por que escrever biografias? 

Escrever biografias, para mim, é hoje uma forma de unir duas grandes e velhas paixões: a história e o jornalismo. Sou um repórter da história. Ao mesmo, tempo, é uma maneira de fazer grandes reportagens sem as tradicionais limitações de tempo e de espaço do jornalismo cotidiano. É promover um mergulho em nossa memória coletiva, desvendar os mecanismos de construção ideológica que está por trás dos mitos. É convidar o leitor para uma imersão radical naquilo que, historicamente, nos define e nos explica.

Como você escolhe o biografado? Depende de quais fatores?

Sempre digo que jamais biografarei indivíduos que tenham vivido trajetórias em linha reta. Gosto de escrever sobre individualidades controversas e ambíguas.

Qual biografia te deu maior trabalho para escrever?

Cada livro propõe um desafio novo e diferente. Escrever sobre José de Alencar, por exemplo, exigiu um trabalho profundo em fontes documentais raras, do século XIX. Biografar Maysa, por sua vez, obrigou-me a penetrar nos desvãos de uma alma tão sensível quanto atormentada. Compreender as contradições e ambivalências de Padre Cícero me possibilitou vislumbrar o intrincado e misterioso sentido da fé popular. Biografar Castello Branco me levou a conhecer com mais propriedade a história política brasileira do século XX, tarefa fundamental para meu trabalho atual, sobre Getúlio, obra de maior fôlego e, talvez, de maior maturidade do ponto de vista da escrita e da pesquisa.

Tem um novo biografado em mente?

Getúlio é exclusivista, absorvente, um ditador de meu tempo. Não me deixa oportunidade para pensar em mais nada. Até 2014, estarei dedicado inteiramente à trilogia sobre ele.

O que acha de eventos de literatura como este, em Mossoró? Acredita que contribui para difundir a leitura, e apresentar seu trabalho para um público maior?

Valorizo muito encontros desse tipo. Eventos assim nos permitem compartilhar uma extraordinária via de mão dupla. Para o leitor, é uma oportunidade de estar frente a frente e trocar ideias com os autores que ele já leu ou que poderá vir a ler. Para o autor, é a possibilidade de dialogar com seu público, estabelecer um canal direto e vibrante com a recepção de sua obra. É a segunda vez que estarei em Mossoró. Em outubro, estarei na Fliq, de Natal. Virei outras vezes, quantas for convidado.

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