Deu no Diário de Natal desta terça-feira, 03/05:
Cerca de 40 pacientes morreram entre a última sexta-feira (27/04) e a quarta-feira (02/05) no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel (HWG), maior hospital público do Rio Grande do Norte, por complicações em seus quadros clínicos decorrentes da falta de medicamentos e condições de trabalho para os servidores prestarem o devido socorro. As informações são do diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde do RN (SindSaúde), Marcelo de Melo. A direção do hospital, no entanto, confirmou o óbito de 16 pacientes no período. A situação problemática do Walfredo ganhou repercussão na mídia nacional na última terça-feira. Um dia antes, o Ministério Público Estadual (MPE) havia realizado uma inspeção na unidade, constatando uma série de irregularidades que devem ser formalizadas em relatório. A crise na saúde pública potiguar também passa pela paralisação dos médicos e demais servidores da área.
O Walfredo Gurgel se encontra sem diretoria geral a cerca de quinze dias – nesse período as diretorias administrativa, financeira e de enfermagem estão respondendo pelo hospital. A reportagem do Diário de Natal esteve no hospital na manhã de ontem e constatou que, mesmo com a pouca movimentação, pacientes faziam filas em macas espalhadas pelos corredores do HWG aguardando atendimentos e transferências. Como é o caso do paciente Antônio Pereira de Melo, diabético e que aguarda há 20 dias em uma maca por uma vaga no Hospital Ruy Pereira (antigo Itorn). Ele reclama da demora no atendimento, das filas e péssimas condições dos banheiros. O paciente diz que até a troca de um curativo é difícil com a greve dos servidores da saúde, que dizem não ter tempo para o atendimento básico nem para a troca do soro, restando aos pacientes esperar. “A gente vem tratar de uma patologia e corre o risco de pegar outra aqui”, relata ele.
Desabastecimento
Para o diretor do SindSaúde, Marcelo de Melo, os problemas de superlotação e atendimento no Walfredo Gurgel não são novidade. Marcelo conta que faltam medicamentos como sedativos, anestésicos, antibióticos e anticoagulantes, dificultando o trabalho dos profissionais que nada podem fazer. “A gente está lidando com a vida humana, essa situação tem que ter um basta”, diz ele.
O diretor do sindicato diz que faltam também itens básicos como lençóis no hospital e os pacientes, principalmente idosos, têm que contar com a ajuda da família para trazer casacos e lençóis de casa para que não morram de frio com o ar condicionado do hospital à noite.
Quanto à série de greves que a saúde vem acumulando, o dirigente sindical diz que as negociações com o governo não avançam. As principais reivindicações do SindSaúde são salariais, melhores condições de trabalho, a contratação imediata dos concursados e a oposição à terceirização dos serviços de saúde pública.
O Sindicato dos Médicos do RN (Sinmed) também vem trabalhando com apenas 30% do seu efetivo, devido à atrasos no pagamento e condições de trabalho inadequadas. Segundo seu presidente, Geraldo Ferreira, a crise na saúde está consolidada. “O lixo acumulado nas paredes do Walfredo Gurgel é um retratode como a saúde pública vem sendo tratada pelo governo, como lixo”, enfatiza ele. O presidente do Sinmed afirma que a greve vem sendo feita com muita cautela para que não traga risco de vida à população que precisa de socorro. “Estamos abertos às negociações financeiras, mas o que não pode ocorrer é ver o hospital se tornar uma casa de mortes”, finaliza Geraldo. Na tarde de hoje, o Sinmed deve se reuniu com o governo para negociar as causas da greve e discutir os rumos da saúde público no estado.
Lixo
Parte do lixo acumulado foi retirada, mas ainda há acúmulo. Segundo o então titular da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), Domício Arruda, o contrato com a empresa que presta o serviço de coleta foi regularizado. De acordo com o secretário, ainda na segunda-feira fora retiradas cerca de três toneladas de lixo comum do local e o restante deveria ser removido até o fim da tarde de ontem. Domício Arruda disse ainda que o acúmulo de lixo foi um problema pontual e que não deverá se repetir.
Nota da editora deste site: A saúde pública agoniza no RN… E, como se não bastassem todos os problemas que se acumulam, greves, atrasos, desabastecimento, acúmulo de lixo, agora a Secretaria de Saúde não tem mais titular… que deixou o cargo depois de ser constrangido por uma emissora de televisão, por conta de uma entrevista não concedida.
Talvez isso tenha sido somente o estopim. Mas nos faz pensar no real papel da imprensa: se é ser difusora das informações, ou algoz, que além de apontar, também julga e condena. Independente de quem sejam os verdadeiros “culpados” pela situação caótica da saúde, a tarefa de definir isso não deveria ser da imprensa. Esse é o papel dos gestores. Foi pra isso que nós, cidadãos, votamos e os colocamos no lugar onde estão. Se não agem como gostaríamos, nossa “arma” deve ser o voto, e não a caneta ou o microfone. Um erro não justifica outro… Mostrar um fato é uma coisa. Utilizar a força da imprensa para obrigar os governantes a agirem, ou para “corrigir” situações que consideramos injustas é outra. E é perigoso… Estamos deixando nossa seara para invadir a seara alheia. E abrimos a guarda para que façam o mesmo conosco. Em vez de solucionar um problema podemos estar fomentando outros, muito maiores, e que serão atribuídos a nós, imprensa.Além disso, se vamos entrar em um cabo de guerra, medir forças com o poder público, qual o tempo que teremos para nos dedicar à nossa real função? Aquela com a qual sonhamos e para a qual fomos preparados? Não se trata de ser “alienados”. Falo em “imparcialidade”, a velha e boa palavra tão debatida nas universidades e cada vez mais esquecida no mercado de trabalho. Lógico que temos opinião! Mas não somos juízes. Somos jornalistas!
E enquanto isso, na saúde pública os problemas se acumulam…
E o que importa, a grande questão, é que quem usa o serviço não são as mesmas pessoas que fazem cobranças, nem as que ‘admitem/demitem’, tampouco as que gerenciam os recursos… Essas, certamente, têm plano de saúde privado, ou pagam por atendimento particular. Daí fica difícil acreditar em melhorias. A tendência é que tudo continue como estava. Ou até mesmo piore. Pelo menos a curto prazo. Isso porque estamos em ano de eleição. Imagine se não fosse… (NT)
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