Agricultores mostram como podem sobreviver na escassez do semiárido

26 de dezembro de 2014

Saiu no Novo Jornal:

Manga, cajá, acerola, maracujá, goiaba, mamão e melão, graviola, frutos do suor de sertanejos de pele queimada que insistem em viver da agricultura, apesar da seca, algoz do semiárido. Na escassez da comunidade rural Povoado Cruz, em Currais Novos – a 180 km de Natal -, um grupo de moradores plantou o empreendedorismo e fez brotar do solo renda para mais de 30 famílias.

Os frutos, antes desperdiçados ou comercializados sem valor na feira, transformaram-se em polpas, sem adição de água nem ingredientes químicos. Puras e fortes como o povo do sertão, as Polpas da Cruz alimentam o sonho compartilhado por Inês, Inácio, Francisco, José e Isaac: manter irrigadas as raízes no campo, sem precisar fugir para a cidade em busca de um sustento.

A ação de produzir os frutos e beneficiá-los é feita através da Associação Clube de Mães e Jovens Tereza Celestina Dantas, que já foi contemplada por investimentos do Banco Mundial em 2004, 2006, 2009, e agora se prepara para receber mais uma bolada de recursos, através do programa RN Sustentável, que injetará em todo o  estado 540 milhões de dólares, propiciando do desenvolvimento das pequenas cadeias produtivas nos próximos cinco anos.

Devem ser aplicados na expansão da produção de polpa da associação, ainda no próximo ano, cerca de R$ 280 mil, valor máximo previsto no edital para subprojetos de economia Solidária. Com o dinheiro, a comunidade espera substituir as máquinas de extração do miolo das frutas, já obsoletas, e ampliar a capacidade de armazenamento da polpa. Muitos frutos têm uma única safra anual, e para que a associação tenha polpa o ano todo é preciso aproveitar integralmente tudo o que é produzido em cada período de colheita.

arta Jussara de Araújo ajuda a família trabalhando no beneficiamento das frutas; por hora de trabalho, recebe R$ 3 reais. (Foto: Ney Douglas)

arta Jussara de Araújo ajuda a família trabalhando no beneficiamento das frutas; por hora de trabalho, recebe R$ 3 reais. (Foto: Ney Douglas)

A situação atual é preocupante. Com a câmara fria já cheia, muitos agricultores vinculados à associação estão perdendo a produção, que já não está muito boa em razão da escassez de água. Dos 30 membros que plantavam os frutos, apenas 11 continuam produzindo. Só Issac Fernandes, 44, já perdeu mais de 20 caixas de manga por não ter como beneficiá-la. Vender a produção excedente, conta ele, não é vantagem. Uma caixa de manga comercializada em feiras livres sai a R$ 3. Transformada em polpa, vale mais de R$ 100.

Ainda assim, Fernandes conta que a produção de polpas pela associação só veio ajudar ao agricultor. Nascido e criado no sítio, ele diz que a situação já foi bem pior. De 50 caixas produzidas, apenas cerca de 10 eram comercializadas nas feiras e todo o restante se perdia. “E quando a câmara maior vier, vai ser melhor ainda porque não vai se perder mais nada. A renda do agricultor já é muito pouca, não pode existir desperdício”, assinalou.

Com os recursos já garantidos, os agricultores estão apelando para o Sagrado Coração de Jesus, padroeiro do povoado, pedindo chuva. Sem água, a produção não tem como ser mantida. “Rezar é o jeito que tem”, assinalou Fernandes. Em sua propriedade, há dois quilômetros da sede da associação, ele conta que já produziu goiaba e acerola, entre outros produtos.    “Mas com essa seca, o rio que eu tinha secou. E até as mangueiras já estão em decadência. Se não chover rápido, elas vão morrer também”, lamentou, preocupado com um futuro breve sem chuvas. “A minha vida é aqui e minha vontade é continuar no sítio. Não queria sair daqui nunca. Mas se tiver que sair para sobreviver, vai ser o jeito”.

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