Comércio de rua impulsiona a expansão econômica do RN

6 de maio de 2014

Confira notícia publicada na Tribuna do Norte:

“Os nossos comércios populares precisam ser mais bem tratados.” A recomendação é do gerente de orientação empresarial do Sebrae/RN, Edwin Aldrin Januário. Mesmo com a chegada de grandes redes varejistas e da abertura e expansão dos shoppings, a maior parte do crescimento do comércio do RN registrado nos últimos 10 anos se deve à expansão do comércio de rua, que está nas mãos dos micro e pequenos empreendimentos – e representam 97% dos negócios potiguares.

Cerca de 35 mil comerciários formais trabalham no bairro Alecrim, que recebe uma visitação diária de 150 mil pessoas por dia

Cerca de 35 mil comerciários formais trabalham no bairro Alecrim, que recebe uma visitação diária de 150 mil pessoas por dia. (Foto: Alex Régis)

Não há um levantamento específico que indique o número total de estabelecimentos nos principais centros comerciais do Estado e da capital potiguar, como Alecrim e Cidade Alta. Entretanto, de acordo com a Associação de Empresários do Bairro do Alecrim (AEBA), o bairro contribui, segundo levantamento feito em 2009, com 40% da arrecadação de Imposto Sobre Comércio e Serviços (ICMS) do governo estadual. Mais de seis mil empresas estão alocadas no bairro, que completou 100 anos de existência em 2011 – isso sem contar os cerca de dois mil ambulantes que também comercializam por lá. Cerca de 35 mil comerciários formais trabalham no bairro, que recebe uma visitação diária de 150 mil pessoas por dia.

“O Alecrim apresenta uma porcentagem interessante para o comércio do Estado. É uma área grande, com muita gente circulando, principalmente das classes C e D. É um comércio que hoje é meio esquecido, mas de suma importância em termos de geração de emprego e tributos”, comenta o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do RN, George Ramalho.

Apesar de ser apenas o quarto bairro de Natal, em ordem cronológica, o Alecrim sempre demonstrou o tino comercial. Criado em 23 de outubro de 1911, com o desmembramento da Cidade Alta, possui hoje a maior feira livre da capital potiguar – a feira do Alecrim, que teve início em 1920, concentrada na Avenida Presidente Quaresma (avenida 1). Em 1936, passou a funcionar aos sábados, tradição que se mantém até hoje. “Segundo Câmara Cascudo, a feira partiu de uma pequena exposição de produtos promovida por José Francisco dos Santos e José Estevam de Andrade, na esquina da Presidente Quaresma com a Coronel Estevam”, diz o livro Memória do Comércio do Rio Grande do Norte, publicado pelo Sistema Fecomercio do RN em 2007. Foi a feira que trouxe para o bairro a característica de congregar todos os tipos de produtos.

Concorrência
“Acho que o nosso diferencial é ter uma grande oferta e a concorrência leal. Já existe um ditado que diz: se não encontrar em nenhum lugar, vá procurar no Alecrim”, cita o presidente da AEBA, Francisco Denerval Sá. O mesmo ditado foi reformulado pela cantora Nara Sá, no documentário potiguar “Cais do Sertão”: “Se não encontrar no Google, vá procurar no Alecrim”, disse a cantora no filme, lançado no ano do centenário do bairro, em 2011.

O comerciante Francisco Denerval, proprietário da Casas Sarmento (Casa das Malas) –  segundo estabelecimento comercial mais antigo do bairro, fundada pelo seu pai na década de 1950 — relata que “o maior problema do Alecrim é o desgoverno”. Desorganização que, segundo ele, é vista todos os dias pelos que trafegam no quadrilátero do bairro: trânsito congestionado, calçadas disputadas entre ambulantes e pedestres, falta de estacionamento, falta de segurança…

Insegurança é um dos principais problemas 

A insegurança é uma reclamação constante de quem vive o dia a dia do bairro do Alecrim. Não só causada pela violência, mas pelos riscos estruturais, como acidentes de trânsito e incêndios. O gerente da loja Machete Calçados, Francisco Luiz Batista, o seu Dedé, vê os problemas se avolumarem há 27 anos. “O que tá faltando ao Alecrim é organização. Todo mundo tem medo de tirar o camelô da rua, mas eles não são o problema. Cada um tem seu lugar. Mas construir um camelódromo e não manter é a mesma coisa de ada. O camelódromo é uma caixa de pólvora”, avalia o gerente da loja, que fica bem em frente ao camelódromo. “Nunca teve uma manutenção e é cheio de calçados e confecções.” De acordo com Dedé, o comércio anda fraco: a Manchete registrou uma queda de 15% nas vendas de começo de ano com relação ao mesmo período de 2013.

Já quem trabalha dentro da estrutura – construído na década de 1970, durante o governo de José Agripino, com capacidade para 480 camelôs – não reclama tanto assim da estrutura, mas da falta de segurança que toma conta de todo o bairro. “Eu estava sentada aqui na banquinha, às três da tarde, quando um cara veio, mostrou a arma e levou o dinheiro”, conta a camelô Jane Cardoso, que mantém um ponto de revenda de confecções no camelódromo há 30 anos. Segundo ela, a partir das 16h a maior parte do camelódromo fecha as portas. Quando cai a noite, falta iluminação nas ruas. Mas nem assim ela reclama muito. “Cheguei no Alecrim com nove anos. Casei, separei, trabalhei no Alecrim. Aqui a gente prospera, é povão mesmo.”, resume.

Para o comerciante Francisco Araújo, que há 18 anos trabalha como vendedor em uma loja de variedades, hoje há uma convivência pacífica entre camelôs e comerciantes. “Eles até nos ajudam a atrair os clientes. Acho que tem que investir no que é certo, na segurança do bairro”, pontua.

Bairro tem projeto de reurbanização

Nenhum desses fatores, porém, conseguiu afastar a Funerária São Francisco do bairro, no qual mantém sua sede desde 1948. Passaram por pelo menos três pontos comerciais até definirem a sua sede, localizada na avenida Presidente Bandeira (avenida dois). Na época, Natal ainda experimentava um forte crescimento populacional, impulsionado pela vizinha Parnamirim, e a falta de oferta de serviços funerários desenvolveu o instinto empreendedor do jovem Aurino Vila. Nascia a Funerária São Francisco, na avenida Coronel Estevam, 1317 – hoje o Grupo Vila, dono dos cemitérios Morada da Paz e Parque da Passagem.
Aos 67 anos, Magno Vila – um dos três irmãos que hoje gerenciam o grupo Vila – guarda no escritório certidões de óbitos de gente conhecida, algumas à mão outras à máquina de datilografar.

“Manter a nossa sede no Alecrim foi uma decisão para tentar valorizar o nosso bairro. Chega eleição, passa eleição e não vêm sequer um homem público aqui. Eu só saio daqui para o cemitério”, sentencia Vila. O grupo também investiu na construção de um hotel no bairro – o Hotel Buriti –, mas decidiu manter a tradição dos negócios. “Descobrimos que o que a gente sabe mesmo é enterrar gente.”

Tanto Magno Vila quanto o presidente da AEBA, Francisco Denerval, criticam a demora na implementação do projeto de revitalização do Alecrim. Confeccionado em conjunto pelo Sebare e a associação de empresários, o projeto prevê construção de um prédio para realocação dos camelôs, revitalização e arborização das ruas, construção de espaços de convivência , como um teatro na Praça do Relógio. O custo inicial é de R$20 milhões.  

De acordo com a secretária adjunta de Serviços Urbanos, Fátima Lima, o projeto de revitalização do bairro do Alecrim já foi analisado pelo prefeito da cidade e deve mesmo sair no ano que vem. Neste mês, a Semsur inicia um cadastramento de ambulantes do bairro para futura realocação, aos moldes do que foi feito no comércio de rua da Cidade Alta.

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