Consumidor potiguar: novo momento, novos hábitos

27 de outubro de 2014

Confira notícia publicada na Tribuna do Norte:

Renata Moura e Cledivânia Pereira
Repórteres e editoras

Enquanto o mercado econômico precisa de índices, taxas e séries históricas para analisar o momento e qual a tendência para o futuro, a  aposentada Ivanilda Nobre, 71 anos, é bem prática: “Subiu o preço do que compro para colocar na mesa, sei que tenho que tomar providência para não sofrer no mês seguinte”. A renda da aposentada – que vive em uma casa com dois netos – tem como prioridade as compras do supermercado. E nos últimos meses, os hábitos da família estão mudando de forma mais acentuada. “Carne? Nem pensar! Muito cara, ultimamente”, diz.

Ir com menor frequência aos pontos de venda, comprar maiores volumes do essencial e deixar de fora ou substituir produtos como lanches prontos, leite pasteurizado e derivados e empanados viraram rotina para consumidores em Natal, na região Nordeste e no Brasil.

Um estudo da Kantar Worldpanel, especializada em consumo, confirma as mudanças de hábito este ano. E tanto o varejo quanto a indústria nacional e local já sentem os efeitos disso.

Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada este mês mostra que as vendas no setor de hipermercados, supermercados, alimentos, bebidas e fumo registraram, nacionalmente, queda de 1,7% em agosto, amargando o primeiro resultado negativo para o mês desde 2004 e o segundo pior da série histórica iniciada em 2001. Em toda a série, apenas o ano 2003 também teve variação negativa, com queda de 5,7% em agosto. A pesquisa não aponta a situação em cada estado, mas a Associação dos Supermercados do Rio Grande do Norte (Assurn) confirma que o cenário no estado é semelhante ao do país.

O consumidor está mais seletivo na hora de fazer a lista de compras: O mais caro perde espaço. (Foto: Alex Régis)

O consumidor está mais seletivo na hora de fazer a lista de compras: O mais caro perde espaço. (Foto: Alex Régis)

Para o economista e chefe do IBGE no RN, Aldemir Freire, a queda do setor nacionalmente, em relação ao mesmo mês do ano passado, não pode, porém, ser tomada como uma tendência que irá prevalecer nos próximos meses. “Acredito que o menor ritmo de crescimento da economia, o nível de endividamento das famílias, as restrições ao crédito e o aumento dos preços dos alimentos possam estar na raiz dessa desaceleração”, explica.

Bate-papo – Eugênio Medeiros
Economista, representante da Assurn e diretor da RedeMAIS

A desaceleração no consumo e da geração de empregos atinge as vendas no supermercado?
Sim. A retração no emprego, o endividamento das famílias, o aumento da inflação mesmo dentro da meta do governo, além da cautela natural do consumidor, diante da perspectiva de crise, levam o consumidor a reduzir o consumo.

Que produtos já tiveram suas vendas alteradas?
O primeiro impacto nos ditos supérfluos (mesmo que não sejam), tais como iogurtes, sucos industrializados, refrigerantes; além da substituição de marcas mais caras. O aumento no preço da carne e aves, por motivos exógenos, está fazendo com que o consumidor diminua o consumo ou substitua por outras alternativas.

Caiu a velocidade das vendas?
Temos observado que o cliente que tinha se habituado a ir ao supermercado quase diariamente diminuiu sua frequência de visita. Não tenho um dado preciso, mas, estimo que essa visita tenha diminuído entre 5% e 10%.

Houve queda em anos anteriores?
Até o anos passado vínha-mos obtento crescimento real acima da inflação. Essa realidade do momento não se repetia pelo menos nos últimos 4 anos.

Nesse cenário, qual é o desafio para fabricantes e o comércio?
Dentro dessa realidade, a indústria terá que se esforçar muito para manter-se competitiva, não aumentando preços, operando com o menor custo operacional possível, fazendo um trabalho de ponto de venda muito ativo, tudo isso sem perder qualidade, e o varejo seguirá a mesma tendência, mas, quem não for eficiente, pode não suportar a pressão. Será preciso esforço redobrado para que o consumidor em especial a classe média, não abandone seus novos hábitos de consumo, senão vai ter que remar tudo de novo.

Embutidos: Os substitutos da carne
A aposentada Ivanilda Nobre, 71, sempre cuidou das compras da casa. E as mudanças econômicas do Brasil nas últimas duas décadas não alteraram o hábito que herdou dos pais: fazer uma única grande feira no mês e, se possível, comprar até fardos de alimentos não perecíveis. ”Gosto de comprar tudo para o mês e pagar logo as compras… não gosto dessa história de prestação e cartão de crédito”, declarou. Além da compra do mês, Ivanilda volta pelo menos mais uma vez ao supermercado. “No meio do mês, venho (ao supermercado) comprar a ‘mistura’ e as verduras para a segunda quinzena”. Esta semana, as escolhas para a chamada ‘mistura’ de Ivanilda foram salsicha e mortadela de frango. “Carne? Nem pensar! Muito cara, ultimamente. Os embutidos são mais baratos e posso variar mais. Tenho dois netos adolescentes que gostam mais desses lanches”, explicou. Frango e peixe são as outras opções da aposentada.

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