Empreendedores individuais evoluem para categoria de microempresa no RN

27 de agosto de 2012

Deu no caderno cotidiano do DN Online:

Ivanise exige cuidado e atenção redobrada para entregar produtos de qualidade no ateliê. Ao mesmo tempo Ericson aplica o conhecimento de informática para colocar mais um software em funcionamento. Um pouco mais distante, Magnos coordena construções de casas populares no interior. Apesar de atuarem em segmentos distintos, os três personagens têm muito em comum. Decidiram abrir os próprios negócios, formalizaram as empresas há dois anos e em 2012 deram um novo salto. Com motivações diferentes, mas em prol do crescimento como microempresários, deixaram de ser Microempreendedores Individuais para se transformarem em Microempresários.

Ivanise da Silva começou a empreender no ramo de lavanderia, montou um ateliê e agora o transformou em microempresa. (Foto: Diário de Natal)

Para ficar mais claro, como Empreendedor Individual é possível ter até um funcionário e faturar até R$ 60 mil por ano. A transformação em Microempresa abre novas possibilidades. Nessa categoria o faturamento pode chegar ao teto de R$ 360 mil e o microempresário tem liberdade de ampliar o quadro de funcionários. A migração tem motivações distintas. Existem casos em que o rendimento do negócio ultrapassa o valor máximo permitido. No entanto, a mudança também acontece pela necessidade do empreendedor em contratar mais gente e ampliar a atuação. Além do EI e ME, existe ainda a categoria Empresa de Pequeno Porte, que tem como limite o faturamento anual de R$ 3,6 milhões.

Independente dos motivos ou das categorias envolvidas, a migração mostra um processo de ascensão dentro do universo de mais de 83 mil empresas formalizadas no Rio Grande do Norte. Do total de negócios formais do estado, em torno de 40 mil são optantes do Simples Nacional, o regime tributário de arrecadação, cobrança e fiscalização no qual estão Micro e Empresas de Pequeno Porte. Somando com os mais de 33 mil Empreendedores Individuais, chega-se ao número de 73 mil pequenos negócios no RN, cerca de 88% das empresas formalizadas em solo potiguar.

Dentro do universo de pequenos empresários estão Ivanize, Ericson e Magnos, protagonistas de histórias distintas, mas que guardam semelhanças nos trajetórias e um objetivo em comum: crescer. Uma meta que requer cuidados, sobretudo do ponto de vista financeiro e jurídico, como explica o gerente da unidade de Orientação Empresarial do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/RN), Edwin Aldrin da Silva. Ao mesmo tempo, conforme as empresas crescem e migram de categoria, novas oportunidades surgem e um novo leque de perspectivas é aberto. Segundo dados do Sebrae nacional, desde a criação da figura do EI em julho de 2009, cerca de 26 mil empreendedores individuais em todo país conseguiram ultrapassar o teto de faturamento de R$ 60 mil e são hoje microempresários.

Família embala negócio no ramo da informática

Ericson Marques trabalhava com informática em uma empresa quando começou a prestar serviços de manutenção de computadores. Como não tinha condição de receber clientes dentro da própria casa, ele fazia 90% dos serviços a domicílio. Quando em menos de um ano o potencial do negócio despontou, a empresa sem nome, que mais tarde se chamaria ESA Informática, passou a ter atenção exclusiva. Já contando com a ajuda do pai, Edson Marques, na manutenção de algumas máquinas, o empreendedor convidou o irmão Ederlando para trabalhar na empreitada.

Na nova residência foi montado um escritório para atendimento. Sem contar com os inúmeros serviços avulsos, Ericson fechou contrato com algumas empresas. “O foco principal era a parte de redes e manutenção de computadores”, explica o microempresário, que exalta a divulgação boca a boca como chave para o aumento da carteira de clientes. “É o que move qualquer empresa. A prestação de um bom serviço, por um bom preço e a qualidade no atendimento. Tudo isso ajuda a divulgação a crescer”, afirma. Nesse meio tempo uma parceria com a TS Informática, empresa nacional que desenvolve sistemas para empresas, alavancou de vez a ESA.

Como representante da TS no estado, a EAS atraiu cada vez mais clientes. “Quando comecei com EI tinha três clientes com contrato assinado, além dos avulsos. Hoje são 32 empresas conosco”, detalha. Foi crescendo na instalação e manutenção de softwares que a empresa potencializou os resultados. “Se pensarmos do começo, o faturamento subiu de 500% a 600%”, conta o empreendedor que revela o interesse de empresas de maior porte. “São clientes que nos querem fornecedor, mas precisamos de uma estrutura melhor para atendê-los”, ressalta Ericson, para quem o crescimento tem de chegar passo a passo.

Com o faturamento “escapando” do teto de R$ 60 mil e a demanda pedindo novas contratações, Ericson deixou de ser Empreendedor Individual para se tornar Microempresa em 2012. “Temos cinco contratados, mas com perspectiva de dobrar até o fim do ano. É preciso pensar grande, com ousadia”, afirma. Ainda em processo de mudança para um novo endereço, o empreendedor em breve quer montar um pequeno call center para atender a clientela. “Meu projeto é ter uma estrutura de atendimento aos nossos clientes e continuar no segmento de manutenção, exatamente o que me colocou no mercado”, planeja o fundador da ESA Informática.

Crescimento na capital e interior do estado

Começou como lavanderia, ganhou um ateliê e agora é Microempresa. A história do negócio de Ivanise da Silva Paixão nasceu no momento em que ela voltava do trabalho e prestou atenção no funcionamento de uma lavanderia. “Vi que era um trabalho que só precisava de mim e de outra pessoa”, recorda. Formalizada e franqueada da Splash, Ivanise não via as coisas evoluírem, e buscando um desafogo financeiro montou um brechó, que depois virou o Renovo Ateliê. Apostando em profissionais experientes no ramo de confecção, a empreendedora vê hoje o negócio evoluir.

Com as novas contratações, Ivanise migrou do Empreendedor Individual para Microempresa. No último mês o ateliê faturou 80% a mais, enquanto a lavanderia subiu 20%. “Está engatinhando ainda, mas vai melhorar”, almeja a proprietária do Renovo Ateliê. A principal aposta é no fator qualidade. “Estamos buscando trabalhar com poucos serviços para explorar a qualidade, algo que vem com bastante atenção e tempo”, conta. Além de aumentar o faturamento, a expectativa é gerar um equilíbrio financeiro maior entre a lavanderia e o ateliê.

Construção

A cerca de 210 quilômetros do ateliê de Ivanise, o ex-gesseiro Magnos Kelly Alves comemora a evolução do negócio na construção civil do município de Assu, mas com muito serviço a fazer. “Antes trabalhavam eu e um ajudante e agora são seis pessoas. Chegamos a fazer três trabalhos simultâneos”, conta. Uma das chaves para impulsionar o negócio foi a demanda trazida pelo Programa Minha Casa, Minha Vida. As obras nas casas populares fizeram o faturamento dobrar, forçando a passagem para a categoria de Microempresa.

O trabalho autônomo iniciado há oito anos virou empresa formal em 2010, quando Magnos teve oportunidade de assistir palestras no Sebrae/RN. Atualmente o ex-gesseiro tem uma média de 20 serviços por mês. Assim como Ericson e Ivanise, o empreendedor aposta na qualidade. “Invisto na qualificação dos meus funcionários e sempre busco profissionais experientes no mercado”, conclui Magnos.

Transição tem de ser cuidadosa

Assim como em qualquer mudança dentro de um negócio, a transição entre categorias requer cuidados aos empreendedores. De acordo com o gerente da unidade de Orientação Empresarial do Sebrae/RN, Edwin Aldrin, quando por algum motivo a empresa contrata um segundo funcionário ou tem perspectiva de superar o teto do faturamento, o primeiro passo é procurar um contador. “Isso para que se comece a fazer todo o recálculo do imposto, pois agora ele passa a pagar de acordo com o faturamento”, explica.

Enquanto no Empreendedor Individual existe uma taxa mensal que varia até R$ 37 dependendo do segmento, na Microempresa o custo da formalização varia de acordo com o rendimento da empresa no mês. As Microempresas e Empresas de Pequeno Porte são separadas em 20 diferentes faixas, cada uma com uma alíquota diferente. A primeira delas vai até R$ 180 mil e condiciona o microempresário a pagar uma taxa de 4% sobre a receita bruta. A alíquota também varia de acordo com os segmentos. Para indústria, oíndice é de 4,5%. Quem trabalha com serviços tem 6% de impostos. “Dependendo do faturamento você cai em um degrau”, resume Aldrin. Se um empresário do comércio fatura R$ 2 mil por mês, ele pagará R$ 80 de taxa, por exemplo.

O gerente do Sebrae/RN ressalta ainda que o empreendedor deve estar atento quando estiver extrapolando o faturamento. “Se o teto for ultrapassado e ele continuar pagando como EI, é sonegação de imposto. Quando a Receita Federal descobre é cobrado retroativo e há uma multa pesada”, alerta. Embora o empreendedor só possa migrar em janeiro do ano seguinte, o pagamento como Microempresa deve começar antes para evitar problemas mais tarde.

Aldrin lembra que nos casos de migração por contratação de funcionários deve haver uma avaliação cuidadosa para saber da real necessidade do negócio. “Já vimos avaliações equivocadas. É preciso pensar que são mais custos, tanto com salário de funcionários, quanto com a taxa”, observa. Para fazer a migração, também é exigido o trabalho de um contador, que deve ser escolhido com cuidado no entendimento de Aldrin. “O contador está para a empresa como o médico está para a família. Ele pode salvar ou matar a empresa”, conclui.

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