Exportações e importações do Rio Grande do Norte: o retrato de uma economia subdesenvolvida

14 de novembro de 2015
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Joacir Rufino de Aquino
(Economista, professor e pesquisador da UERN)

José Aldemir Freire
(Economista e chefe da Unidade Estadual do IBGE no RN)

 

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) divulgou no início do corrente mês os dados preliminares da balança comercial do Rio Grande do Norte (RN) referentes a outubro, com destaque para as exportações que cresceram 73% em relação a igual período do ano passado. Nos primeiros dez meses de 2015 (janeiro/outubro), de forma agregada, o estado já exportou um valor correspondente a US$ 258,5 milhões, o que representa um acréscimo de 33% da cifra comparativamente a 2014, quando as vendas externas somaram US$ 193,7 milhões.

A publicação dos referidos números causou euforia no âmbito da imprensa estadual e de alguns setores do governo ligados à área econômica. Argumentou-se que o RN estaria superando a crise e ingressando em uma nova fase de crescimento. Entretanto, o bom desempenho das vendas externas registrado até agora, motivado em grande medida pela desvalorização recente do Real, não é motivo para nenhuma festa antecipada. Por conta disso, vale a pena verificar com mais atenção os indicadores publicados para evitar conclusões apressadas e até mesmo equivocadas.

É importante anotar, em princípio, que o valor das exportações potiguares tem apresentado grande dificuldade de expansão no período recente, ficando sempre abaixo do montante registrado em 2008, quando a crise internacional abalou fortemente os principais mercados compradores do mundo. Além desse aspecto, a balança comercial norte-rio-grandense tem registrado déficits, ou seja, exportações menores que as importações, em vários anos da série analisada (2010, 2013 e 2014).

Por outro lado, não se deve esquecer que o RN é um estado primário-exportador que ainda ocupa uma posição marginal no comércio internacional. Historicamente, exportamos produtos agrícolas e minerais semimanufaturados e importamos bens intermediários e de capital de maior valor agregado. Em 2014, por exemplo, nada menos do que 56% de nossas vendas externas se resumiram a frutas frescas e castanhas de caju. Outra parte significativa adveio da comercialização de óleo bruto, sal marinho, pescado, produtos têxteis e minérios. Já as importações, que correspondem ao somatório das nossas compras no exterior, se concentraram, como geralmente ocorre, em produtos manufaturados, máquinas e equipamentos.

Isso significa que muito mais do que mostrar uma suposta vantagem comparativa do RN a ser comemorada, os dados do MDIC revelam uma base produtiva exportadora precária e uma expressiva dependência tecnológica, características essenciais de economias subdesenvolvidas, tal qual consta nas páginas de qualquer bom Manual de Ensino dedicado à matéria. E o pior: a situação tende a se agravar, uma vez que a importação de produtos manufaturados cresce anualmente, ocupando o espaço deixado pela indústria local. Assim, com a nossa pauta de exportação atual, assentada em recursos naturais de baixo valor agregado, é difícil avançar e superar o atraso que caracteriza a economia estadual.

O que fazer, então, diante do quadro apresentado? Parece óbvio que o RN necessita aumentar suas exportações tradicionais. Mas isso não é suficiente. O maior desafio do estado é diversificar e agregar valor aos produtos comercializados por meio do incremento da industrialização. Isso porque não adianta apenas exportar contêineres e mais contêineres de melão a troco de um punhado de chips de computador. Desde os anos 1950, os estudos pioneiros da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL) apontam que o caminho mais viável para superar a estrutura subdesenvolvida é o incentivo à indústria. Só assim, os países ou regiões pobres podem melhorar seus termos de troca, exportando produtos de maior valor agregado relativamente aos produtos primários oriundos da agropecuária e do setor mineral.

Nesse sentido, o exame apurado de nossas contas externas sinaliza que é preciso urgentemente a formalização de uma política de desenvolvimento industrial capaz de aumentar a competitividade da economia potiguar. Note-se que o fortalecimento da indústria é um imperativo não só no que diz respeito ao setor exportador, mas à economia do estado como um todo. Atualmente, basta uma visita rápida a qualquer supermercado ou loja de departamento para perceber que boa parte dos produtos que consumimos é proveniente de outros lugares fora do solo norte-rio-grandense. Dessa forma, a integração e o adensamento das cadeias industriais locais e a atração de novos segmentos produtivos, com destaque para as áreas de Ciência e Tecnologia (C&T), energias renováveis e logística aeroportuária, figuram como ações estratégicas visando reduzir a dependência de importações e melhorar o saldo de nossas transações comerciais com o resto do mundo.

*Artigo originalmente publicado no Jornal “O Mossoroense”, em 13/11/2015.

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