Financiamentos avançam no turismo de Natal

19 de novembro de 2012

Noticia publicada no caderno Economia da Tribuna do Norte:

Via Costeira de Natal: projetos previstos para a área estariam à espera de sinal verde de órgãos ambientais para sair do papel. Alguns deles também recorreriam aos bancos para serem erguidos. (Foto: Aldair Dantas)

Pró-Copa Turismo, Fat Turismo, Fungetur. A lista de linhas de crédito para o turismo é extensa e mostra que, com a realização da Copa do Mundo em 2014, vários bancos e instituições têm mirado o setor. De olho no aumento da demanda, os bancos ampliaram a oferta de crédito e mudaram as condições.

Só na Caixa Econômica Federal, o valor emprestado entre janeiro e setembro no Rio Grande do Norte subiu 35% com relação ao mesmo período do ano passado. A expectativa é emprestar R$ 46 milhões este ano, R$ 70 milhões em 2013 e R$ 100 milhões no ano da Copa – o número também inclui o montante emprestado para os turistas.

No Brasil, a meta é emprestar R$ 20 bilhões nos próximos dois anos para o setor – o mesmo emprestado nos últimos sete anos. A maioria dos recursos será usada na modernização e ampliação de bares, restaurantes e hotéis, como explica Fábio Lenza, vice-presidente de Pessoa Física da Caixa.  A média emprestada por mês para o setor saltou de R$ 18 milhões, em 2003, quando o banco passou a oferecer linhas para o turismo para R$ 600 milhões este ano. Mas não é só a Caixa que tem se destacado neste cenário. Banco do Brasil, Banco do Nordeste e Banco Nacional do Desenvolviemnto (BNDES) também têm investido pesado na oferta de produtos para o turismo.

O Banco do Nordeste (BNB), por exemplo, financiou no Rio Grande do Norte, em média, R$ 11 milhões por ano entre 2005 e 2011, para o setor de turismo, considerando apenas recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE). A demanda, segundo Sérgio José da Silva Santos, superintendente do BNB no RN, não obedece necessariamente a um comportamento uniforme. O Banco do Brasil, por sua vez, emprestou R$ 9,8 milhões entre janeiro e outubro no estado só através de uma linha de crédito: o Proger Urbano.

Já o BNDES, que aumentou a dotação do Pró-Copa Turismo, uma das principais linhas para o setor no país, vai financiar a construção do Hotel Ibis Natal, no valor de R$ 10 milhões. A operação foi aprovada ainda em 2011. O hotel está sendo erguido em frente ao estádio Arena das Dunas. O grupo Accor, que acaba de inaugurar a sua primeira unidade ibis em Mossoró, com investimento de R$ 17 milhões financiado pelo BNB, pretende inaugurar um terceiro hotel da família Ibis no estado até 2014, somando um investimento de R$ 26 milhões só na capital potiguar.

A meta do grupo, que está presente em 90 países, é atingir a marca dos 300 hotéis no Brasil até 2016. O grupo, que já conta com 158 hotéis no país, está construindo novos hotéis nas outras 11 cidades-sede da Copa. Embora o Mundial de Futebol tenha acelerado os investimentos da Accor no país, Eduardo Camargo, diretor Adjunto de desenvolvimento da Accor no Brasil, também destaca outros fatores com alavancadores da expansão do grupo no Brasil. Bom momento econômico no país, o desenvolvimento econômico em cidades intermediárias, e o crescimento do turismo de negócios e de lazer, em virtude da oferta de crédito, são alguns deles.

Hotéis aproveitam maré favorável 

Empresas locais também têm aproveitado o bom momento do crédito para investir. Este é o caso do grupo Praia Mar Natal Empreendimentos Turísticos, que investirá R$ 35 milhões na construção de um hotel quatro estrelas na avenida Salgado Filho, próximo ao estádio Arena das Dunas. Segundo o grupo, que é dono dos hotéis Praia Mar Natal e do Holiday In, 80% da obra será financiada com recursos do Banco do Nordeste (BNB), que financiou a construção do Holiday In, em Ponta Negra. As obras já começaram a ser executadas. A previsão é entregar o hotel, que terá 216 apartamentos, em março de 2014.

O setor hoteleiro, segundo bancos e entidades do setor, é o que mais toma crédito, em função do valor dos projetos. Embora os bancos esperem procura ainda maior nos próximos dois anos, para George Gosson, diretor comercial do Praia Mar Natal e vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no RN, o prazo para a iniciativa privada tirar grandes projetos do papel está ficando mais curto. “Quem queria inaugurar hotel até a Copa, já começou a construir”, observa.

George Gosson: novo hotel com prazo de conclusão em 2014. (Foto: Aldair Dantas)

“A expressiva procura do setor hoteleiro por recursos”, segundo informou o BNDES, fez o banco dobrar a dotação do programa Pró-Copa Turismo recentemente. O programa, que é considerado uma das principais linhas para o setor, aprovou entre janeiro e setembro deste ano nove operações no valor de R$ 337,6 milhões. A dotação do programa foi elevada recentemente, passando de R$ 1 bilhão para R$ 2 bilhões.  O prazo de vigência, que ia até 31 de dezembro deste ano, também foi estendido para 30 de junho de 2013. Os pedidos de financiamento ao BNDES por meio do programa já haviam superado o R$ 1 bilhão disponibilizado inicialmente. Do total de pedidos de crédito em análise ou consulta, 62,7% são para construção de hotéis. O restante é para reformas e ampliações. A linha é exclusiva para o setor hoteleiro.

Restaurantes

Outros setores também têm recorrido aos bancos para investir. O setor de bares e restaurantes é um deles. O restaurante Camarões, na avenida Roberto Freire, em Ponta Negra, pretende ampliar a área destinada a eventos ainda no primeiro trimestre de 2013. Embora aumentar o espaço já estivesse nos planos de Vânia de Araújo Bezerra, dona do restaurante, o investimento foi antecipado com a proximidade da Copa. “Está tudo ainda em fase de projetos. Ainda temos que ver qual banco financiará a obra”, afirma Vânia, que ainda não sabe quanto a ampliação custará.

Segundo Sérgio José da Silva Santos, superintendente em exercício do BNB no RN, as demandas que chegam aos bancos são pulverizadas em todos os segmentos e

Vânia Bezerra: área de eventos do restaurante será ampliada. (Foto: Aldair Dantes)

regiões do estado. “Apenas em 2012, além de Natal, outros 14 municípios do estado receberam investimentos para o setor de turismo”, afirma Sérgio. As linhas de crédito, de acordo com ele, são buscadas por empreendedores de todos os portes, que necessitam desde a implantação ou ampliação de negócios existentes até a modernização de máquinas e equipamentos.

O Banco do Brasil confirma que as linhas estão sendo muito procuradas em razão dos eventos esportivos e que a tendência é que o valor emprestado suba ainda mais com a proximidade da Copa. A redução nas taxas de juros, segundo George Costa, empresário do ramo de receptivos em Natal e presidente do Natal Convention Bureau (Natal CVB), entidade mista que capta eventos para a capital potiguar, deve continuar estimulando este movimento no estado. “O empreendedor toma empréstimo sabendo que vai ter como pagar”, afirma.

“Cidade ainda precisa se preparar”

Especialistas reconhecem o papel do investimento privado, mas não deixam de ressaltar a importância do investimento público. Para Jurema Dantas, diretora da Escola de Hospitalidade da Universidade Potiguar e presidente da seccional potiguar do Conselho Nacional das Entidades de Turismo da Confederação Nacional do Turismo, a cidade não se preparou para o evento que vai aumentar em pelo menos 80% o fluxo de visitantes na cidade. Carlos Porto, diretor do curso de Turismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, vai além e diz que não é necessário apenas criar novos acessos, como se intenciona, mas criar novas linhas de ônibus, melhorando mobilidade e transportes. Tudo ao mesmo tempo.

Itamar Manso Maciel, presidente da Associação Comercial e Empresarial do RN, instituição comercial mais antiga do estado, chega a duvidar se os empresários conseguirão aproveitar as oportunidades geradas pelo mundial de futebol. Ele se mostra receoso com as exigências da Fifa, mas também com a demora na execução das obras à cargo do poder público. “Temos mais hotéis e mais restaurantes, mas a infraestrutura da cidade não melhorou. A situação está crítica. Basta observar o orla de Ponta Negra”, completa Jurema Dantas.

A situação da capital potiguar, mesmo com todo o investimento da iniciativa privada, chega a ser preocupante, segundo a estudiosa. Matéria publicada pela TRIBUNA DO NORTE no dia 10 de novembro mostrava que Natal poderia perder os recursos para as obras de mobilidade caso não conseguisse encaminhar vários documentos à superintendência local da Caixa Econômica Federal, no intuito de liberar os R$ 270 milhões referente as intervenções no Complexo viário da Urbana e corredor viário entre a Av. Capitão-mor Gouveia e o Km-6, na zona Oeste de Natal; e em seis pontos entre os bairros de Lagoa Nova e Candelária, no entorno do estádio Arena das Dunas.

“Os recursos para Copa vão ajudar a resolver os problemas atuais da cidade. A questão é que não estamos conseguindo viabilizar as obras por pura incompetência”, afirmou Jurema Dantas, em matéria publicada pela TN no dia 13 de novembro. O prazo para resolver os problemas da cidade a tempo de receber os visitantes durante o Mundial já está muito apertado, afirma Jurema.

Momento é bom, mas há barreiras, diz setor

Apesar da euforia em relação ao crédito, alguns fatores têm limitado os investimentos do turismo no estado e no país. Os bancos exigem altas garantias e não liberam financiamento para empresas informais, afirma Francisco Soares Júnior, ex-secretário de Turismo de Natal e consultor na área. “Tem muita gente que não acessa o crédito, porque ainda não formalizou o negócio. Isso é muito comum no ramo de alimentos e bebidas. Tem muita gente que queria melhorar a empresa e não melhorou. Muita gente que deveria estar modernizando o hotel, o bar, o restaurante e não teve acesso ao crédito, porque a contabilidade da  empresa atrapalhou esse processo”, afirma. A situação, segundo Soares Júnior, não é exclusiva do RN. “Isso ocorre em outros estados”, afirma.

Para George Gosson, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no RN, as garantias exigidas pelos bancos para liberação dos recursos são as maiores barreiras enfrentadas pelo setor. Os bancos, segundo ele, exigem 130% de garantias reais do valor financiado, colocando um freio na tomada de crédito. “Digamos que uma empresa vá construir um hotel e precise de R$ 10 milhões, para liberar o recurso o banco exigirá R$ 13 milhões de garantia. É um valor muito alto. Isso acaba inviabilizando os investimentos”, afirma George, que também reclama do acesso aos recursos do BNDES. “Muito burocrático”.

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