Governo do RN anuncia barragens subterrâneas para aliviar seca

27 de fevereiro de 2013

Notícia publicada no caderno de Cidades do Novo Jornal:

O secretário da Agricultura, da Pecuária e da Pesca (Sape), José Simplício de Holanda, considerou infundadas as críticas que a Federação da Agricultura do Rio Grande do Norte (Faern) dirigiu ao Governo do Estado, acusado de não tomar medidas estruturantes para permitir a convivência dos produtores rurais com os efeitos danosos da seca.

Foto: www.blogdojeovalima.com

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De acordo ele, o governo tem executado medidas para atender às necessidades de quem vive nas áreas rurais, principalmente, os pequenos produtores. Explicou, por exemplo, que está aguardando a abertura do orçamento do Estado, em março, para iniciar a construção de 2.600 barragens submersas no semiárido potiguar. Segundo Holanda, o Estado já tem 660 dessas barragens, que representam uma forma de combater de forma permanente os efeitos da seca severa que atinge o Rio Grande do Norte.

Lembrou que o programa de ampliação das barragens submersas conta com um orçamento de R$ 20 milhões, parceria do Ministério da Integração e Governo do Estado, que vai exigir contrapartida de R$ 800 mil. De acordo com o secretário, esta é uma obra estruturante e assegura uma solução permanente no combate aos efeitos da estiagem.

Nos últimos quatro anos, explicou, foram construídas 660 barragens submersas que aproveitam bacias hidrográficas de pequena dimensão, como riachos. É feito um barramento interno nas áreas escolhidas que, através de uma tecnologia simples de escavação e colocação de lonas especiais, retém o fluxo da água acumulada para irrigação em épocas secas.

As barragens só podem ser construídas em períodos secos porque as chuvas prejudicam as escavações. O programa faz parte da extensão rural do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do RN (Emater), alvo de críticas de agropecuaristas durante a Expedição Retratos da Seca, promovida pela Faern, que percorreu dias 22, 23 e 24 passados as áreas mais críticas atingidas pela seca.

O presidente da Faern, José Vieira, produtores de leite e derivados e agropecuaristas reclamaram que a assistência técnica e extensão rural da Emater não têm qualidade e estão distanciadas das necessidades atuais da categoria.

De acordo com o secretário José Simplício de Holanda, que também é agropecuarista da região Oeste, a reclamação tem procedência com relação à qualificação, mas o Governo do Estado está capacitando e ampliando o quadro técnico para atender às necessidades do homem do campo. Foram incorporados ao quadro da Emater, através de concurso público, 132 técnicos, que estão recebendo treinamento para execução dos trabalhos em dez regiões do RN.

Entre outras ações do governo, citou que o programa de sementes vai distribuir 450 toneladas de grãos de milho, sorgo e feijão em 150 municípios do Estado, beneficiando 42.500 produtores rurais de pequeno porte, principalmente. As sementes ficam armazenadas em 1.200 Bancos Comunitários, locais que funcionam como depósitos, e são distribuídas imediatamente à ocorrência das primeiras chuvas para dar tempo ao agricultor plantar e garantir a germinação. Cada Banco tem até 30 associados que recebem 11 kg de grãos (4 kg de milho, 4kg de feijão e 3 kg de sorgo).

Segundo o titular da Sape, a distribuição começou semana passada na região Oeste, onde caíram as primeiras chuvas e a distribuição deve ser concluída até a primeira quinzena de março no Agreste, período em que deve iniciar a quadra chuvosa nessa região. A entrega de sementes, explicou, obedece ao regime de chuvas de acordo com o deslocamento da zona de convergência intertropical, que influencia o regime de chuvas na região Nordeste.

No RN, as chuvas começam pelo Oeste, que tem sua quadra chuvosa a partir de fevereiro, já seguindo uma tendência das precipitações do Piauí, onde a zona de convergência começa a atuar em dezembro. Na semana passada houve precipitação em alguns municípios como Pau dos Ferros e Apodi. Por isso, o governo tratou de fazer a distribuição das sementes que estavam nos Bancos Comunitários.

Volumoso

O secretário de Agricultura disse que, por causa da seca severa, várias medidas estão em execução pelo Governo do Estado. Os criadores vinculados ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), segundo ele, são o alvo preferencial das ações. Está se concluindo a distribuição 7.800 toneladas de volumoso (ração animal) para 3.200 pequenos agricultores.

O volumoso, alimento de baixo teor energético com fibras, ajuda a manter os animais, principalmente em épocas de estiagem, quando eles precisam de grandes volumes de alimentos. São divididos em secos e úmidos. Podem ser a cana-de-açúcar ou bagaço de cana triturados. Foi limitado a distribuição de volumoso para quem tem até dez animais, 30 caprinos ou 30 ovinos.

Muitos dos pecuaristas que foram visitados pela Expedição Retratos da Seca disseram que sequer sabiam da existência do programa de volumoso. O secretário explicou que quem não sabia da existência do programa era quem não estava sendo beneficiado, no caso, os médios e grandes. Toda a atenção foi voltada para os pequenos, disse.

O programa de volumoso é uma parceira do Governo do Estado com o Ministério da Integração nas ações de combate à estiagem. O Governo Federal destinou, para este ano, R$ 2,6 milhões para a compra de volumoso. A intenção, explicou o secretário, é ampliar o programa para atender ao dobro, ou seja, chegar a 6.400 beneficiados. Da mesma forma, a parceria com o Ministério garantiu R$ 4 milhões para a compra de concentrado (torta de algodão e soja).

A preocupação do governo com os pequenos é em razão de estes não terem capital para comprar o volumoso. “Quem tem rebanho grande tem que correr o risco”, disse o secretário, sobre as críticas da falta de assistência que os grandes proprietários fazem ao Governo.

As perdas e os danos da seca

O pecuarista e advogado Raimundo Nóbrega Filho, um dos oito irmãos donos da fazenda Pedreira, na zona rural de Caicó, disse que vai processar o Estado por impedir a transferência de seu rebanho para Marabá, no Pará. É para lá que a família leva o gado de Caicó em época de estiagem. Os prejuízos causados pela seca em sua propriedade, disse, só serão recuperados em 30 anos.

Segundo ele, o decreto do governo assinado ano passado impediu que o rebanho da fazenda saísse do Estado. O Ministério da Agricultura determinou que o RN e a Paraíba criassem essas barreiras por serem consideradas áreas de alto risco para a aftosa. Em 2011, o rebanho bovino da Pedreira era de 1.200 cabeças.

Como foi impedido de transportar o gado para o Pará, ele perdeu, por causa da seca, 500 cabeças avaliadas em R$ 600 mil. Agora, vai pedir uma indenização de R$ 1 milhão ao Estado.

Na propriedade, tudo em volta da casa construída há mais de 160 anos, é desolador. O açude de 17 milhões de metros cúbicos secou, há dificuldade de compra de alimentos para o gado e se não chover nos próximos meses, ele não vai ter que se desfazer de pelo menos 100 animais. O gasto mensal com o rebanho é de até R$ 45 mil e 90% desse montante é gasto com alimentação dos animais.

Mais de 100 bovinos estão no cemitério de animais da propriedade. As carcaças ficam expostas. Há vacas mortas às margens do açude e para completar, o ano passado não conseguiu trabalhadores dispostos a plantar capim.

Nova campanha contra aftosa começa em abril

O secretário de Agricultura do Estado, José Simplício de Holanda, disse que o governo deve iniciar em abril a segunda etapa de vacinação contra a febre aftosa e a outra dose deve ser aplicada em maio, obedecendo a norma de duas vacinas anuais com a sorologia, que é a coleta de sangue dos animais em amostras para verificar a sanidade.

As barreiras, disse o secretário, foram temporárias porque houve uma indefinição sobre o risco da febre aftosa, o que levou Pernambuco e Ceará a impedirem a entrada de gado do RN naqueles estados. Com a pressão do Ministério da Agricultura, o RN e a Paraíba tiveram que impor as barreiras sanitárias para que saíssem da classificação de alto risco da aftosa.

Sobre a intenção do pecuarista de Caicó, Raimundo Nóbrega Filho, de entrar com ação com pedido de indenização contra o Governo do Estado, ele disse que cada um é livre para fazer o que quiser, mas lembrou que todas as medidas tomadas com relação a aftosa foram bem intencionadas.

De acordo com o secretário, no ano passado 81% das propriedades rurais com gado vacinaram seus animais. O rebanho bovino do RN, antes da seca, era de 1,7 milhão de cabeças, de caprino 430 mil e de ovino, 550 mil. A produção caiu de 30% a 35%, notificou ele.

Pecuarista de Severiano Melo, no Alto Oeste, o secretário explicou que desde 2002 deixou de criar bovino. “Onde se cria um bovino se cria de 8 a 10 ovinos e caprinos”, comentou. Enquanto um ovino entre 10 kg e 12 kg custa 150,00, um bovino de 1 mil kg custa R$ 1,2 mil.

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