Maior complexo hospitalar do RN completa 40 anos

1 de abril de 2013

Notícia publicada no caderno Natal da Tribuna do Norte:

O jovem senhor completa hoje 40 anos de atividades. Pelo tempo de serviço, já estaria aposentado. Não fossem os pulsos que mantém seus batimentos cardíacos numa nem sempre compassada sintonia, o Hospital Walfredo Gurgel, que é o maior complexo hospitalar do estado, já teria ido a óbito diante de tantas crises enfrentadas ao longo de quatro décadas de (sobre)vida. As mesmas histórias de 1973, ano do início das suas atividades, se repetiram nas décadas seguintes e são tão comuns atualmente, que o Hospital Walfredo Gurgel não é reconhecido pelas milhares de vidas que ali se salvaram ao longo de tanto tempo.

Antiga estrutura do HWG foi ampliada com a construção do Pronto-Socorro Clóvis Sarinho. (Foto: Emanuel Amaral)

Antiga estrutura do HWG foi ampliada com a construção do Pronto-Socorro Clóvis Sarinho. (Foto: Emanuel Amaral)

E sim, pelas recorrentes crises de abastecimento, falta de profissionais, corredores que se assemelham às enfermarias coletivas dos campos de guerra e pacientes à espera de atendimento. Muitos não lembram, porém, que é dali que saem vidas salvas, mesmo diante de tantos desafios.

De 1973 a 2013, o fluxo de pacientes aumentou numa proporção inversa a dos investimentos em ampliação. Somente uma grande obra, a construção do Pronto-Socorro Clóvis Sarinho, concluída no início de 2001, foi realizada até hoje. O que serviria como uma “ponte de safena” para a obstruída artéria aorta da rede pública estadual de Saúde, quatro meses após sua fundação já apresentava os mesmos problemas de superlotação do seu vizinho adulto.

Tais dificuldades, diferente de uma enfermidade, nem sempre são curadas com um antibiótico. Os curativos feitos na infraestrutura e operacionalização do Walfredo Gurgel ao longo dos anos, parece ser a única solução para a “chaga” da saúde pública no Rio Grande do Norte, cujo estado de calamidade foi reconhecido por 180 dias em 2011 pela governadora Rosalba Ciarlini. “O hospital tem tantas dificuldades que eu me sinto uma sobrevivente. São as pessoas, são os funcionários que fazem a diferença aqui dentro”, afirma a diretora técnica da unidade, Hélida Bezerra.

Mesmo assim, ela admite que, diariamente, “muitas vidas são salvas” e é este o combustível ao qual a equipe médica e administrativa do hospital recorre para não esmorecer em meio aos percalços. Ela cita que, desde 2001, ano no qual ingressou na unidade hospitalar, assistiu aos avanços nos serviços oferecidos à população com a inclusão de especialidades médicas como pediatria, cirurgia vascular, fonoaudiologia e terapia ocupacional.

Esmeraldina Morais é, há 31 anos, costureira do HWG. (Foto: Emanuel Amaral)

Esmeraldina Morais é, há 31 anos, costureira do HWG. (Foto: Emanuel Amaral)

Ao custo mensal de R$ 1,3 milhão, utilizados para o custeio da manutenção geral, compra de material de expediente e medicamentos, além dos consertos dos equipamentos médico-cirúrgicos, o Hospital Walfredo Gurgel dispõe de equipamentos para exames médicos de alta complexidade que nem mesmo os grandes hospitais particulares tem. O tomógrafo de 16 canais e imagens em três dimensões é um deles. No aparelho, são processados até 1.700 exames mensalmente, entre tomografias e angio-tomografias. Há um outro equipamento com as mesmas características disponível no Hospital Deoclécio Marques, em Parnamirim.

Além disso, o complexo hospitalar é referência em tratamento de queimados em todo o Rio Grande do Norte. E dispõe, ainda, de equipes médicas especializadas no atendimento a casos de urgência e emergência, cuja maior demanda, atualmente, são vítimas de acidentes de trânsito, com destaque para aqueles envolvendo motociclistas.

No tratamento das doenças crônicas, o hospital se destaca no tratamento do pé do diabético, com médicos especialistas na área. Recentemente, o Walfredo Gurgel adquiriu uma máquina de endoscopia de última geração, que é a mais moderna disponível nos hospitais públicos do estado.

No limiar de um novo tempo que neste domingo começa, ao comemorar mais um aniversário, o maior complexo hospitalar do estado vislumbra dias melhores e segue, salvando vidas, em meio ao caos histórico.

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HWG: muito além da área médica

No sobe e desce das agulhas, no movimento sincronizado de mãos e pés, ela monta mais um jaleco. Aos 67 anos, a costureira Esmeraldina Morais da Silva é a responsável por uma das funções que talvez nem sejam imaginadas quando se pensa num hospital e seu emaranhado de fios, tubos, injeções e medicamentos. Há 31 anos como servidora do Hospital Walfredo Gurgel, ela presenciou vidas sendo salvas e muitas outras apagadas em consequência de acidentes ou da inconsequente violência urbana. Suas agulhas, apesar de não salvarem vidas, vestem médicos, enfermeiros, forram colchões e dão o mínimo de conforto aos pacientes anônimos que consomem sua produção.

“A gente recebe o tecido com a marca do Walfredo e do Clóvis Sarinho. Daí eu corto a peça que pode ser um lençol, um jaleco, um capote. Tudo que o hospital precisa em termos de costura”, explica a senhora. Do passado, ela relembra os tempos quais atuou como auxiliar de serviços gerais e não dispunha nem de luvas para calçar as mãos e proteger-se das bactérias em circulação no ambiente hospitalar. Depois de tantos anos de dedicação e centenas de metros de tecidos transformados em peças individuais, Esmeraldina se diz “cansada” e deverá aposentar-se ainda este ano. Ressalta, porém, que viveu momentos “alegres e tristes” no hospital e resume sua passagem pelo Walfredo Gurgel como “satisfatória”.

Com o mesmo tempo de serviço e  tendo iniciado sua jornada pelo hospital na mesma função de Esmeraldina, Maria Geralda Alves da Silva Marinho, de 57 anos, ressalta que é uma “alegria” fazer parte da equipe que trabalha no hospital. Atualmente, ela trabalha no setor de lavanderia, na qual são lavadas quase uma tonelada de peças diariamente. Geralda, como é conhecida, é responsável pela dobradura e separação das peças que saem das máquinas de lavar industriais. Do passado ela traz lembranças alegres e ressalta que “no final do mês o contracheque era gordo de horas extras”. Mas não esquece os acidentados que viu morrer pelos corredores.

Mesmo com tantas dificuldades, assistidas ao longo de mais de três décadas de trabalho no mesmo local, Geraldo afirma que é no Walfredo Gurgel que estão os melhores profissionais da medicina. Sobre o trabalho que faz hoje, ela resume que é uma “alegria”. “Eu escolheria vir trabalhar aqui se eu pudesse voltar no tempo. Esse hospital é minha vida”, diz com orgulho.

Para estudantes de medicina, o hospital é a grande escola

André Câmara Matoso faz residência médica no HWG. (Foto; Emanuel Amaral)

André Câmara Matoso faz residência médica no HWG. (Foto; Emanuel Amaral)

A cada novo paciente que entra no Politrauma, no Setor de Emergência do Walfredo Gurgel, uma possibilidade de aprendizado. Os bordados reluzentes, feitos há poucos dias, denunciam a jovialidade dos jalecos. Os olhares atentos, quase cristalizados nas observações dos médicos mais experientes, exibem o desejo de extrair, daquela aula prática, o que os livros não ensinam. Para os estudantes de Medicina e Enfermagem, médicos-residentes e estagiários, o fluxo de pacientes do Pronto-Socorro Clóvis Sarinho é ideal para o aprendizado in loco de qual, de fato, o papel da Medicina.

Há três anos morando no Rio Grande do Norte, o cearense Anderson Neves da Cruz, de 30 anos, é médico-residente no Clóvis Sarinho. A escolha do hospital se deu pela quantidade de pacientes atendidos diariamente e pela diversidade de casos que chegam a todo instante à emergência do maior complexo hospitalar estadual. “O trabalho é muito, principalmente para o médico-residente. Mas é muito gratificante”, comenta o médico-residente Anderson Neves. Sobre os problemas enfrentados diariamente no hospital, ele diz que são os mesmos pelos quais passam as demais instituições. “O Clóvis Sarinho cumpre mais do que se imagina”, relata.

obre o futuro, o médico espera que o Governo do Estado realize concurso público para que ele possa ingressar no quadro funcional do Walfredo Gurgel. “A minha expectativa é de que o hospital melhore com mais investimentos e que seja exclusivo para urgência e emergência. Aqui se ensina mais que os livros”, assegura. Anderson quer se especializar em cirurgia-geral e aplicar o que aprendeu no pronto-socorro em favor dos potiguares.

De Campina Grande, onde cursa Medicina, o estudante André Chacon veio para o Clóvis Sarinho numa espécie de intercâmbio institucional. Num internato de três semanas, ele conhecerá a realidade da emergência mais movimentada do estado. Para ele, é a hora de colocar em prática o que os livros ensinam e adquirir o know-how necessário à profissão de médico. “Quando chega a hora, você tem que colocar a teoria em prática num curto intervalo de tempo”, analisa. Mesmo com tantos problemas, o estudante destaca a qualidade do serviço prestado no hospital. “Apesar dos pesares, é um grande aprendizado com os profissionais que trabalham aqui”.

Qualidade de vida

O Cantinho do Servidor do complexo hospitalar é um local pouco conhecido por quem não faz parte do quadro funcional do Walfredo Gurgel. Lá, os funcionários tem aulas de zumba, pintura, acesso à biblioteca, aulas de coral e até tratamentos estéticos. Para a telefonista Tamízia Filgueira Gomes, que trabalha no hospital há 27 anos, as aulas de zumba funcionam como um relaxante. “A gente vê muita dor no hospital e esta aula é uma forma de relaxamento”, garante. Com a zumba, ela afirma que busca relaxar do estresse diário e ter mais qualidade de vida.

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