Micro e pequenas empresas ganham força no RN

1 de abril de 2013

Notícia publicada no caderno Economia do Novo Jornal:

Mais de 100 mil micro e pequenas empresas do Rio Grande do Norte estão prontas para se beneficiar da Agenda de Desenvolvimento e Competitividade do Governo Federal para incrementar a atividade no país. Será um passo importante para a economia do RN, único estado do país que não tem uma política industrial, atesta Amaro Sales, presidente da Federação das Indústria do RN (Fiern).

Foto: Tribuna do Norte

Foto: Tribuna do Norte

A Agenda de Desenvolvimento e Competitividade foi lançada em nível estadual, na semana passada, pelo Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio (MDIC) em Natal durante o Fórum Estadual das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte do RN. O objetivo é promover o debate para implementar ações de médio e longo prazo, a partir desse ano até 2022. O Governo Federal estabelecerá parcerias com os governos estaduais, prefeituras e entidades representativas para priorizar ações em conjunto visando beneficiar as micro e pequenas empresas. Participam da Agenda o MIDC, o Sebrae/RN e Fiern.

O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Rogério Marinho, disse que o Governo do Estado começou a fazer sua parte antes mesmo do lançamento da Agenda. Até o final do ano vai implantar em todos os 167 municípios do RN, a Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim) para facilitar, entre outras coisas, processos de abertura e fechamento de empresas, sem burocracia e com rapidez. De início, a Redesim será implantada em 70 municípios. O dever de casa inclui ainda, explica o secretário, a ampliação do teto do Supersimples para R$ 3,6 milhões.

O movimento liderado pelo Governo Federal, com adesão importante do RN, frisa Rogério Marinho, vai permitir que os municípios liberem a maior quantidade possível de serviços. Por isso é necessário que os gestores estejam por dentro do que há na lei das micro e pequenas empresas. “Isso vai alavancar os pequenos e micronegócios”, prevê.

Além da implantação da Redesim e da ampliação do teto do Supersimples, em breve o Governo do Estado vai lançar o programa de Compras Governamentais para as empresas desse porte. “Será o terceiro pilar para desenvolver e aumentar a competitividade das empresas desses portes”, anuncia Marinho.

Hoje, 97% da economia do RN é gerada pelas micro e pequenas empresas (MPEs), destaca o presidente da Fiern, Amaro Sales. As grandes empresas empregadoras, ressalta, têm o seu potencial, porém, dos 126 mil empregos gerados pela indústria em solo potiguar, mais de 100 mil estão no ambiente das MPEs.

“Entendemos que o RN precisa dar atenção a essa micro e pequena empresa”, completa Amaro Sales. Segundo ele, é preciso dar o agendamento necessário ao comércio, à industria, à agricultura e o transporte, para que se possa encontrar a solução rumo ao desenvolvimento e fugir do atraso. A Fiern está insistindo com o agendamento do desenvolvimento e da competitividade porque entende que o direcionamento, quanto às suas competências, melhora a economia do Estado. Ele explica que desde que assumiu a Federação das Indústrias, essa busca é incessante.

No momento em que se tem um agendamento positivo para a micro, pequena e grande empresa, o objetivo de concretizar o projeto sonhado de um planejamento para o futuro do Estado, enfatiza Sales, será atingido.

Já o presidente da Federação do Comércio do RN (Fecomercio), Marcelo Queiroz, acredita que a Agenda do Desenvolvimento e Competitividade pode dar um novo impulso na economia do Estado através da desburocratização nos processos de constituição e baixa das empresas e até incentivar o início de negócios com o comércio exterior.

Agenda de Competitividade não basta 

Amaro cobra agendamento para indústria. (Foto: Humberto Sales)

Amaro cobra agendamento para indústria. (Foto: Humberto Sales)

A Agenda de Desenvolvimento e Competitividade para o Rio Grande do Norte, que não depende das grandes empresas para movimentar a economia, poderia ser um fator favorável, mas não é, afirma Edwin Aldrin. Hoje, no Estado, o emprego é mantido pelas microempresas, que basicamente possuem quatro empregados. E o microempreendedor individual, dono de empresa que trabalha por conta própria e se legaliza como pequeno empresário, não pode ter participação em outra empresa como sócio ou titular. Mas por cada contrato de trabalho ele tem que pagar um salário mínimo ou o piso da categoria a que ele pertence. É tudo tão complexo que o micro ainda tem que contratar um contador para dar conta da complexa legislação, complementa Edwin Aldrin.

Outro fator negativo do microempreendedor no RN é que ele perde em competitividade porque não há grandes empresas que absorvam seus serviços ou produtos. O Estado não atrai empresas de maior valor agregado como as do setor da indústria pesada que empregam engenheiros, arquitetos, pessoas mais qualificadas, analisa o gerente do Sebrae. Segundo ele, as coisas ficam mais difíceis para o setor produtivo porque o RN e Natal não têm conseguido manter sua infraestrutura. Apesar de a população crescer e a arrecadação se ampliar, as coisas não andam porque faltam investimentos, critica.

Há dois tipos de empreendedores: o que monta uma empresa por oportunidade e o que faz isso por necessidade. No primeiro caso, o empreendedor faz pesquisa e procura se informar sobre o mercado. Aquele que abre por necessidade, geralmente, o faz porque tem capital disponível para abrir uma empresa como uma forma qualquer de ganhar dinheiro. Um erro, pois sem orientação e conhecimento de mercado acaba entrando para os índices de mortalidade das empresas.

Apesar das condições adversas da legislação trabalhista, a cada ano aumenta a arrecadação do Supersimples, o simples nacional. Um sintoma de que cresceu o número de empreendedores e também porque a tributação está mais eficiente.

Ao longo dos anos, o índice de mortalidade das micro e pequenas empresas têm sido menos acentuado, atesta Edwin Aldrin. A taxa de mortalidade é de dois anos, segundo dados de 2011, um padrão nacional. No RN, 62% das empresas abertas sobrevivem até dois anos, média abaixo da nacional que é de 73%. O único setor onde o Estado tem uma melhor performance que a maioria nacional é a construção civil com taxa de sobrevivência de 65% entre as empresas cadastradas no Sebrae.

Legislação emperra desenvolvimento

A falta de competitividade é um grande gargalo para as micro e pequenas empresas no Rio Grande do Norte. O problema impede o desenvolvimento e a Agenda de Desenvolvimento e Competitividade pode abrir novas possibilidades de negócios, prevê o gerente da Unidade de Orientação Empresarial do Sebrae/RN (UOE), Edwin Aldrin Januário da Silva.

O Sebrae acompanha as 48.708 micro e empresas de pequeno porte através da opção que estas fizeram pelo Simples, a forma diferenciada e desburocratizada de pagamento de impostos. Apesar disso, explica Edwin Aldrin, falta competitividade para o setor.

São 42.452 micro e 6.256 pequenas empresas que apesar da crise econômica mundial em 2012, foram as únicas empregadoras com saldo positivo no RN. Esse setor empregou no ano passado 16.682 trabalhadores enquanto as grandes deram baixa em 2.720 carteiras de trabalhadores, as médias em 1.374 e as pequenas em 323. No rastro dos pequenos negócios, em 2012, os empreendedores individuais, aqueles que têm apenas um empregador, somaram 38.355.

O gerente da UOE diz que os programas criados pelos governos nos diversos níveis promovem o acesso ao crédito, a inovação, a modernização dos parques industriais e o uso de novas ferramentas, mas estas são medidas que esbarram em um vilão: as leis trabalhistas.

Edwin Aldrin explica que a legislação trabalhista no país é lenta e defasada em relação às novas tendências mundiais que buscam competitividade. Essas leis no Brasil são leoninas porque oneram o empregador, descreve. Apesar de o Simples ter reduzido muitas dificuldades impostas aos micro e pequenos negócios, acaba perdendo para a legislação. “Falta uma legislação que leve as empresas à competitividade”, constata.

Enquanto o Brasil estiver entre os países com maior taxa de impostos e taxações, além de outros encargos como 13º, férias, como exige a lei, dificilmente programas como a Agenda do Desenvolvimento serão uma resposta à altura de seus propósitos.

O engessamento imposto pelas leis trabalhistas aumenta o custo de produção, aponta o gerente do Sebrae. Ele compara o mercado nacional com o chinês, menos exigente com relação aos rigores impostos no Brasil com suas leis protecionistas para o lado do empregado.

As causas apontadas acima por Edwin Aldrin têm levado o país a perder sistematicamente em competitividade ao longo dos anos. Segundo ele, a redução das tarifas de energia elétrica promovida pelo Governo Federal, é positiva para as empresas. Mas, se por um lado aumenta a competitividade, por outro, o Governo não avançou muito porque não mexeu nas leis trabalhistas. Os entraves para o empregador continuam os mesmos. Uma pequena empresa paga os mesmos encargos e impostos que uma grande e ambas estão sujeitas aos mesmos rigores em sua aplicação.

Delivery saudável

Montar seu próprio negócio é sempre um desafio mesmo para quem vem de uma família de empresários. Este é o caso de Rodrigo Dowsley. Formado em administração hoteleira nos Estados Unidos, onde estudou de 1991 a 1997, foi durante o curso que ele percebeu sua verdadeira vocação, o ramo de alimentação.

Rodrigo Dowsley sempre gostou de cozinhar para os amigos e a mãe foi um espelho nesse sentido porque era uma exímia chefe de cozinha. No curso de hotelaria, as matérias sobre culinária lhe despertavam mais atenção. Com o pouco capital que dispunha, ele resolveu ir adiante na proposta de abrir um negócio na área de gastronomia.

Mas, com tantos restaurantes por aí, Dowsley optou pelo ramo de delivery e em um nicho um pouco mais sofisticado, o de comidas mais saudáveis como saladas. Tudo que aprendeu no curso de hotelaria e o que viu nos Estados Unidos serviu de modelo para a elaboração de seu cardápio diferenciado. “A maioria só pensava em abrir um fast-food e eu preferi a alternativa de um ramo que aliasse qualidade, praticidade e vida saudável”, explica.

O Chef House Quality Delivery, sua empresa, não para de segunda a sexta das 11h às 17h. Ele não conta quanto gastou para montar seu negócio, mas explica ter sido um terço do que gastaria com um restaurante tradicional. Na hora de arregaçar as mangas e trabalhar para ele mesmo, os exemplos do pai, o empresário Alcione Dowsley, proprietário do Motel Tahiti que fez muito sucesso em Natal na década de 1980, principalmente pelos pratos servidos no local, foram um plus.

Quando percebeu que o negócio havia emplacado e precisava melhorar sua produtividade, Dowsley resolveu procurar o Sebrae para aumentar sua participação de mercado sem aumentar os preços de seus produtos nem repassar a conta para a clientela. Foi um desafio, mas ele conseguiu gerir melhor o seu negócio que hoje conta com oito funcionários, exalta o microempresário que apostou também na entrega mais eficiente.

SPA urbano made in Currais Novos

A curraisnovense Adla Emília de Macedo, 32, tornou-se microempresária por acaso. O marido montou a clínica Saúde Stúdio ao lado de uma tia, não se adaptou e pediu ajuda a ela.

Adla e o marido fizeram um plano piloto do curso do Sebrae/RN com a intenção de abrir um restaurante. No meio do curso perceberam que o melhor seria abrir uma clínica que tivesse o diferencial de unir fisioterapia com estética. O negócio, no Alto da Candelária, tem uma clientela exigente desde que começou a funcionar há oito meses.

“No futuro seremos um SPA urbano”, projeta a empresária que comanda uma equipe de 12 fisioterapeutas e duas esteticistas e já pensa em agregar mais valor com um salão de beleza, além de serviços como um dia de noiva com direito a limousine para levar a futura esposa da clínica direto para a igreja. Hoje, ela oferece pacotes de beleza com massagem, tratamento facial, banhos aromatizados. Em abril pretende voltar ao Sebrae para aprimorar os novos horizontes onde pretende chegar com o seu negócio.

Decoração no bairro

A rua Aníbal Brandão, em Nova Parnamirim, ainda era de barro quando a arquiteta e urbanista Celi Maia Saldanha, 39, resolveu abrir a loja Detalhes Decoração há um ano e oito meses.

Da inauguração até o momento, Celi Maia Saldanha diz que o crescimento do negócio foi no patamar de 100%. Com apenas uma funcionária, ela se divide como vendedora de seus produtos e arquiteta de interiores que faz consultoria no piso superior da loja. “Atendo, faço compras e administro”.

Os produtos que vende são adornos para decoração. Muitos dos negócios são feitos on-line. O cliente manda fotos do ambiente e ela orienta a melhor peça para decoração. Poderia estar em um dos shoppings da cidade pela qualidade dos produtos que vende, mas preferiu ficar no bairro onde mora. Foi lá que conquistou sua cliente, hoje, espalhada por toda Natal.

Ficar em Nova Parnamirim também beneficiou sua clientela. Por não pagar aluguel, luvas e outras taxas que os shoppings exigem, pode vender os adornos por preços mais em conta. Por causa disso, hoje os clientes “cruzam” Natal para chegar a sua loja ou ela faz o inverso.

O Sebrae orientou que ela fizesse uma pesquisa de mercado para saber o perfil do negócio que pretendia abrir. E conjugou a loja com o escritório de arquitetura. A rua esburacada lhe beneficiou. “Por causa dos buracos, os clientes passavam de carro devagar e podiam ver sua loja”. Agora, pretende voltar ao Sebrae para novos projetos.

EMPRESAS NO RN

126 mil entre grandes, pequenas e micro

100 mil são micro e pequenas empresas

Número de empregos por faixa em 2012
Microempresas contrataram
16.682

Grandes empresas demitiram
2.720

Médias empresas demitiram
1.374

Pequenas empresas demitiram
323

Arrecadação de empresas através do Simples
2008 – R$ 138 mil
2009 – R$ 171 mil
2010 – R$ 344 mil
2011 – R$ 383 mil
2012 – Até junho R$ 204 mil
(a projeção para o ano todo é de mais de R$ 400 mil)

Empreendedores Individuais (que têm apenas um empregado)
Natal= 13.727
Mossoró = 3.489
Parnamirim= 3.398
Caicó= 1.183
Assu = 921
São Gonçalo do Amarante= 762
Currais Novos= 713
Ceará-Mirim= 671
Macaíba= 545
Pau dos Ferros= 505

Total dos 10 maiores= 25.913

Total RN = 38.355

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