Na região metropolitana de Natal, investimentos não acompanham expansão de bairros

12 de novembro de 2012

Notícia publicada no caderno de Cidades da Tribuna do Norte:

A comerciante Iara Alves se mudou para o Parque das Nações, em Parnamirim, há 13 anos. Segundo ela, naquela época se contava nos dedos das mãos quantas casas havia no local. Pavimentação, transporte público, posto de saúde, escola, e iluminação pública não faziam parte da realidade daquela comunidade. “Quando eu cheguei aqui morávamos minha família e os trabalhadores que estavam construindo o condomínio da Coophab. Aqui não tinha nada. Não tinha nenhum ônibus que viesse para cá.  Para vir pra casa, nós tínhamos duas opções: ou descíamos na Avenida Maria Lacerda e seguíamos caminhando – e naquela época era só mato pelo caminho, ou pegávamos uma Mototáxi no centro de Parnamirim para nos trazer até aqui”, conta. O tempo passou, outros moradores chegaram, a comunidade cresceu, mas alguns serviços essenciais ainda não existem no bairro. “Até hoje aqui não tem nenhuma escola. Já era pra ter, não é?!”, comenta Iara. É comum encontrar situações como essa, em que o poder público não consegue acompanhar o crescimento de algumas comunidades ofertando os serviços básicos.

Bairro Parque das Nações, no município de Parnamirim, nasceu distante de qualquer infraestrutura. (Foto: Magnus Nascimento)

De acordo com dados da Caern, em 2007 haviam 603 domicílios ligados à rede de água no Parque das Nações. Em 2012, são 1.388, um aumento de mais de 100%. Já a Companhia Energética do Rio Grande do Norte (Cosern) informou que no parque das Nações, de agosto de 2009 até outubro de 2012 foram realizadas 1.142 ligações residenciais no bairro. A reportagem buscou junto ao IBGE o número de habitantes da comunidade, mas o instituto não tem números específicos do bairro.

O crescimento acelerado da Região Metropolitana tem contribuído para o surgimento de áreas como o Parque das Nações, comunidades que nascem no meio do nada e vão crescendo sem a infraestrutura necessária. “Eu moro aqui há 7 anos e acho que tem muita coisa que pode e precisa melhorar, mas um dos problemas mais urgentes é a falta de transporte público. Só uma linha de ônibus atende essa comunidade e assim mesmo de forma muito precária. Eu já fiquei várias vezes mais de uma hora esperando por um ônibus, é um transtorno para quem depende do transporte público para trabalhar”, diz a recepcionista Joseane Freitas, 32 anos. Ela conta que alguns alternativos também atendem os moradores do Parque das Nações, mas que os horários não são regulares. “Os alternativos só circulam até às 18h. Depois disso eles não vêm mais até aqui, e como não há fiscalização do trabalho deles, eles fazem o horário que eles querem. Só sabe o tamanho desse problema quem usa o transporte público aqui”, diz.

A falta de transporte público também é a reclamação da operadora de caixa Michele Frutuoso da Silva, 29 anos. Ela explica que para para ir para qualquer lugar é preciso pegar um ônibus até o bairro de Cidade Verde e de lá pegar outro para o seu destino final. “Sem falar na demora do ônibus. Eles dizem que passa de meia em meia hora, mas demora muito mais que isso”, diz.

Mas a carência de serviços públicos não para por aí. Não existe sequer uma escola pública no Parque das Nações e a escola mais próxima fica a cerca de 2 km da comunidade. “Aqui tem duas creches, mas são particulares e muita gente não pode pagar. O meu filho de 10 anos estuda em uma escola pública perto da Maria Lacerda e o jeito é mandar ele de ônibus porque não dá para ir a pé por causa da distãncia”, diz Joseane Freitas. O poder público chegou a anunciar a instalação de uma escola no bairro. O terreno foi comprado, murado e uma quadra foi construída, mas parou por aí. Hoje o local está abandonado e a população reclama, inclusive, que virou ponto de encontro para usuários de drogas. “Nosso sonho é que aquela escola fosse mesmo construída. É uma área tão boa, grande, daria para fazer uma escola que atendesse toda a comunidade”, complementa.

A falta de iluminação pública, pavimentação e saneamento também fazem parte das reclamações dos moradores. Mas, apesar dos problemas apontados por eles, o parque das Nações é um bom lugar para se viver. “Eu acho aqui um bom lugar para se viver, estou satisfeita. Apesar dos problemas, o saldo geral é positivo”, diz Iara Alves. “Aqui parece uma cidadezinha do interior. As pessoas se conhecem, é um lugar tranqüilo, se tivesse um pouquinho mais de estrutura seria perfeito, mas mesmo sem a estrutura eu não penso em mudar daqui tão cedo”, concorda Joseane Freitas.

A carência de alguns serviços públicos no Parque das Nações não impede que a população reconheça que algumas áreas são atendidas pelo poder público. De acordo com o relato dos próprios moradores do bairro, o posto de saúde da comunidade funciona bem, é equipado e sempre tem a escala de médicos. A comunidade conta ainda com um posto policial que garante a segurança de moradores e comerciantes do local.  “O posto de saúde daqui é muito bom, funciona muito bem. E a segurança também não é falha, tem um posto policial e sempre tem viatura da polícia militar fazendo ronda aqui no bairro”, diz Michelle Frutuoso.

População aguarda escola, segurança, transporte… 

A secretária de Educação de Parnamirim, Vandilma Maria de Oliveira, explicou que existem três escolas e duas creches municipais nas proximidades do Parque das Nações e que a prefeitura oferece transporte para as crianças. Ela esclareceu que a secretaria de educação faz um levantamento prévio de locais que precisam de novas escolas e que já foi identificada a necessidade de instalação de uma creche no Parque das Nações. “Está prevista para o próximo ano a construção de uma creche de educação infantil no bairro. Já temos o projeto e o local definidos e a creche será construída com recursos próprios”, disse.

A prefeitura de Parnamirim também prevê investimento em pavimentação e saneamento na região. O secretário de obras de Parnamirim, Naur Ferreira, informou que o projeto de saneamento do bairro será encaminhando ao Ministério das Cidades e irá contemplar todo o bairro. O secretário afirmou ainda que foi realizada uma operação tapa buraco e está previsto para o próximo ano a pavimentação de algumas ruas do bairro. Em relação ao transporte público, Naur Ferreira informou que a licitação de transporte público de Parnamirim será concluída em breve, mas que as linhas que fazem Natal-Parnamirim são intermunicipais e, consequentemente, de competência do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem(DER). A reportagem tentou falar com o diretor do DER/RN, Demetrio Torres, mas ele não atendeu às ligações.

Para o secretário Naur Ferreira, apesar das dificuldades financeiras enfrentadas pelo município, a gestão tem conseguido acompanhar o crescimento de Parnamirim. “Nós recebemos todo ano cerca de 6 mil novos habitantes. É um desafio para a gestão acompanhar esse crescimento, mas nós estamos trabalhando para isso”, disse. De acordo com o  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 10 anos, o número de habitantes em Parnamirim passou de 124.690 para 202.456.

Oportunidade para empreendedores

Morador do Parque das Nações há 3 anos, Jorge Medeiros, 32 anos, viu na escassez de serviços da comunidade uma oportunidade de negócio: há oito meses ele abriu uma padaria no bairro. O negócio deu tão certo que ele prevê para o próximo ano a ampliação do estabelecimento.  “Eu percebi a carência desse serviço aqui no bairro, já tinham alguns mercadinhos, mas nenhuma padaria.  Está dando tão certo que nós estamos investindo em outra unidade aqui mesmo no bairro. Nós estamos crescendo junto com o Parque das Nações”, conta. Ele concorda que o bairro ainda é carente em muitas áreas, mas diz que em três anos muita coisa já melhorou. “Ainda tem muita coisa para melhorar, mas nesses três anos que eu moro aqui já deu pra perceber que as coisas estão se resolvendo. O que eu percebo é que o crescimento do bairro é acelerado, enquanto o poder público vem em menor velocidade”, diz.

A pernambucana Marília Luna, 40, também viu no crescimento do Parque das Nações uma oportunidade de negócio. “Meu irmão sempre me dizia que aqui precisava de um restaurante bom,  e eu decidi apostar. Abri um restaurante e está dando certo”, diz. Para ela, o bairro ainda tem muito a crescer. “Ainda precisa de muita coisa aqui no bairro, não tem um mercado grande, mas aos poucos está melhorando a oferta de serviços”.

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