Natalense reclama do aumento da gasolina e diz que vai reduzir viagens

31 de janeiro de 2013

Notícia publicada no caderno de Economia do Novo Jornal:

Andar de bicicleta, deixar o carro na garagem mais dias na semana ou apelar para o transporte coletivo. É assim que o natalense pode se virar para lidar com o reajuste no preço da gasolina, que já foi repassado em alguns postos da capital. O litro do combustível saiu de uma média de R$ 2,78 para R$ 2,88 (aumento de 3,6%) – a aditivada já chegou a R$ 2,98, depois do aumento de 6,6% repassado pela Petrobras às distribuidoras ontem. A expectativa do Sindicato dos Revendedores de Combustíveis do RN (Sindipostos), é que nos próximos dias todas as bombas sejam reajustadas no Estado.

O litro do combustível com preço reajustado saiu de uma média de R$ 2,78 para R$ 2,88. (Foto: jangadeiroonline.com.br )

O litro do combustível com preço reajustado saiu de uma média de R$ 2,78 para R$ 2,88. (Foto: jangadeiroonline.com.br )

Na Ribeira, em Tirol e Petrópolis, principalmente nas Avenidas Prudente de Morais e Hermes da Fonseca, a maioria dos postos ainda não tinha modificado os preços na manhã de ontem.

Somente dois – pertencentes à rede de postos Cirne – haviam mexido nas tabelas. O presidente do Sindipostos, Antônio Cardoso Sales, diz que não há uma estimativa sobre quando o aumento irá chegar definitivamente às bombas, nem quanto a gasolina irá subir ao consumidor final, mas sabe que até amanhã os clientes estarão sentindo o bolso pesar mais.

“O percentual de aumento vai depender do que as distribuidoras irão repassar. Pode ser mais ou menos que esses 6,6% repassados pela Petrobras, e ainda tem os impostos. Não sabemos se as distribuidoras irão absorver uma parte desse aumento ou repassá-lo todo para nós”, acrescenta.
O reajuste do preço na bomba depende do estoque de combustível que cada dono de posto tem em seu estabelecimento. Possivelmente o que vai acontecer é que o repasse só será feito a partir da próxima compra de combustível. Geralmente, os postos fazem a compra de uma a duas vezes por semana e não há um dia fixo para isso.

Sales diz que o aumento é ruim tanto para o consumidor quanto para os donos de postos. Segundo ele, o reajuste vai se refletir diretamente numa queda no volume de vendas, principalmente da gasolina. Ainda não dá, porém, para estimar quanto. O empresário só não acredita que os consumidores vão migrar para o etanol, já que o período é de entressafra da cana-de-açúcar e os postos estão com o combustível em alta – segundo a pesquisa do NOVO JORNAL, o etanol está variando entre R$ 2,20 e R$ 2,42.

“Este mês de janeiro tivemos um aumento significativo do etanol, então não sei se ele será a opção mais viável para o consumidor. Ele vai ter que fazer as contas”, diz.

Fazendo o cálculo, o preço do etanol tem que ser até 70% o da gasolina para se tornar mais vantajoso. Sendo assim, levando em conta esse novo preço da gasolina, o etanol teria que custar R$ 2,01 para ser a melhor opção para o motorista. A entressafra, por sua vez, segue até abril. A expectativa do Sindipostos é que depois disso os valores voltem à normalidade.

O diesel, por sua vez, recebeu incremento de 5,4% nas refinarias e já sofreu alteração nesses dois postos citados pela reportagem. Neles, o litro do combustível está em R$ 2,15.

Consumidores fazem planos de economizar

“O consumidor vai ter que ir para a ponta do lápis para ver o que é mais viável. Mas acredito que uma parte da população irá deixar o carro em casa para conter as despesas”. A fala do presidente do Sindipostos, Antônio Cardoso Sales, revela a experiência de outros reajustes.
É isso o que vai fazer a autônoma Socorro Trindade, que possui dois automóveis em casa. O gasto semanal da família é de R$ 200 com os dois veículos; um deles fica com o marido o outro é para ela e os filhos. “Vamos ter que deixar um na garagem e nos virar só com um. É um absurdo que um estado produtor de petróleo tenha uma das gasolinas mais caras do país”, reclama. O filho de Socorro, o estudante Arthur Trindade, conta que este mês esteve em Recife e lá viu que o combustível está custando R$ 2,65 o litro.

“Lá, mesmo antes do aumento, já era esse preço. Não dá para entender porque aqui em Natal é tão caro. Não tem outro jeito, senão pagar”, lamenta.

O empresário Rogério Pessoa também lamentou o incremento anunciado pelo governo e ontem aproveitou que o Posto Cais na Ribeira ainda não havia aplicado o reajuste para completar o tanque do carro. Pessoa irá diminuir as saídas no veículo porque não terá condições de arcar com a despesa. “É um absurdo que a presidente num dia anuncie a redução da conta de energia e no outro o aumento da gasolina. Eu vou deixar de andar de carro, só sair quando for mesmo necessário”, diz.

O aumento também vai atingir as empresas. O técnico em manutenção de motores industriais, Luis Carlos Fernandes, diz que a empresa onde trabalha vai diminuir o número de visitas aos clientes. “Tem gente que a gente visita três vezes por semana. Agora só vamos uma”, conta. Ontem ele veio até a Ribeira encher o tanque do carro no Posto Cais, que ainda praticava R$ 2,72 para a gasolina. Colocou 35 litros no automóvel e pagou R$ 96. “Preciso rodar 200 quilômetros com isso. Vou ter que fazer uma mágica”, acrescenta.

Para atender seus clientes, a empresa de Fernandes gasta R$ 400 em média por semana. Agora, os gastos irão aumentar significativamente. “Somos um estado produtor e temos a gasolina mais cara do Nordeste, não dá para entender. Ficamos impotentes diante desse povo. Agora irei trabalhar com itinerários abreviados e reduzir o número de visitas aos clientes. Eles é que irão perder com isso”, acrescenta.

O administrador do posto na Ribeira, Lucindo Santos, diz que ainda não tem informação de quando o estabelecimento irá alterar o preço. Enquanto a placa mostra R$ 2,72 para o litro da gasolina, as filas seguem se formando no local. “Pelo menos hoje (ontem) sabemos que o preço ão muda”, disse.

Na subida da Ribeira para Petrópolis, o posto Cirne alterava os preços quando a reportagem do NOVO JORNAL chegou ao local. A equipe foi impedida de fotografar e conversar com frentistas e a gerente, mas ainda ouviu do administrador João Bosco Soares que ia doer no bolso o aumento do preço. Ele gasta uma média de um tanque de gasolina por semana e agora terá que fazer as contas para saber o que fazer para não comprometer tanto o orçamento com combustível. “Acho que terei que rodar menos”, diz.

A bancária Maria Alice Medeiros diz que já anda muito de bicicleta pelas ruas de Natal. Ontem pela manhã ela ainda conseguiu abastecer o carro com o preço antigo, mas diz que agora irá aumentar a frequência com que anda de bicicleta. “É um absurdo, mas a gente não tem muito o que fazer”, reclama.

MP descarta nova campanha popular 

O promotor de Defesa do Consumidor, José Augusto Peres, não acredita que o aumento do combustível possa provocar uma nova campanha #CombustivelMaisBaratoJa, iniciada em 2011 nas redes sociais e endossada por Ministério Público, ONGs e Promotoria de Defesa do Consumidor, que acabou gerando uma investigação sobre o aumento abusivo de preço na capital.

Na opinião dele, a campanha surgiu naquela época porque não havia justificativa para o aumento praticado nos postos de Natal. “Dessa vez houve uma justa causa para o aumento. A situação é bem diferente daquela que a gente vivenciou”, opina. Na época abriu-se uma investigação sobre a possibilidade de existência de cartel e para descobrir a razão do incremento nos preços, mas a investigação parou quando surgiu uma lei revogando o artigo da Lei 8.137/1990 que classificava como crime o aumento abusivo de preço.

“A lei estabeleceu em maio de 2012 que não é crime aumento abusivo de preço, então isso quebrou nossas pernas. Não pudemos mais continuar com a investigação”, conta.

Para reduzir os gastos com combustíveis, o promotor diz que recorreria a uma bicicleta caso se sentisse seguro nas ruas de Natal. “Como um cidadão que consome muita gasolina, se pudesse, eu andaria mais de bicicleta, mas fui desaconselhado pelo setor de segurança do Ministério Público”, revela.

O NOVO JORNAL percorreu dez postos de combustível nos bairros da Ribeira, Petrópolis e Tirol e constatou que apenas dois alteraram os preços na manhã de ontem. Os dois pertencem à rede Cirne (Avenida Prudente de Morais e Ribeira) e alteraram o valor do litro da gasolina de R$ 2,78 para R$ 2,88 – a aditivada ficou em R$ 2,98. O diesel nesses postos está custando R$ 2,15, enquanto o etanol está R$ 2,42. Três postos da Ribeira e todos os outros nas Avenidas Prudente de Morais e Hermes da Fonseca ainda vendiam o combustível a R$ 2,78 na manhã de ontem. A expectativa é que até amanhã todos os postos da cidade já estejam com as tabelas reajustadas.

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