No coração dos engenhos: confira roteiro de passeio histórico em São José de Mipibu

6 de setembro de 2013

Notícia publicada na Tribuna do Norte:

Aldeia jesuíta e vila colonial no século 18, rico pólo canavieiro no 19, e simpático recanto interiorano dos dias atuais. Em  300 anos de história, São José de Mipibu acumulou uma série de qualidades  que podem ser vistas facilmente, seja em seu centro urbano, ou nas redondezas rurais onde seculares engenhos fincaram suas moendas e fizeram o progresso deste município a 31 quilômetros da capital potiguar. O passado marca uma bela presença no roteiro de história e arte de São José, inspirando o comércio de peças antigas, as artes plásticas, festas, e o turismo histórico. Uma acessível viagem pelo tempo.

Vila colonial no passado, Engenho Lagoa do Fumo guarda em seus traços 203 anos de história.

Vila colonial no passado, Engenho Lagoa do Fumo guarda em seus traços 203 anos de história.

Em sua época áurea, São José de Mipibu chegou a ter 32 engenhos em funcionamento. Deste período, o que melhor guarda as características daquela época é o Engenho Lagoa do Fumo. Localizado a cinco quilômetros do centro da cidade, ainda respira os ares e a aparência de 1810, ano em que foi construído. A propriedade pertenceu à família de Miguel Ribeiro Dantas, o poderoso Barão de Mipibu. Com a morte do barão, o engenho foi vendido para o coronel Felipe Ferreira em 1897, cujos descendentes administram  o local até hoje.

Leda Souza Ferreira e Murilo Ferreira, atuais proprietários,  cuidam do engenho como uma jóia preciosa, e querem que outros  também possam admirar essa beleza. A família já realiza uma tradicional festa de São João há 15 anos na propriedade. Informalmente, também já cedeu o espaço para a realização de casamentos. “A ideia é usar o engenho como um local para a realização de eventos fechados, como aniversários, casamentos e confraternizações de empresas”, explica Leda.

Engenho Olho D’água é um dos mais antigos do Rio Grande do Norte, com 240 anos de histórias.

Engenho Olho D’água é um dos mais antigos do Rio Grande do Norte, com 240 anos de histórias.

Visitas ao engenho por agendamento, em grupos pequenos, também são atividades que os proprietários querem desenvolver. “Serão como aulas de passeio, onde vamos informando sobre a história da propriedade e suas particularidades. Mas não pretendemos colocar refeições, café ou almoço, dá muito trabalho e não é nossa intenção”, ressalta Leda. O engenho é a atração por si só.

Passeio ao século 19

O Engenho de Lagoa do Fumo é um documento fiel do Brasil colonial e rural. A casa-grande de 203 anos conserva a estrutura original. É uma ampla construção térrea de tijolos, telhado (original) de duas águas, e diversos ambientes divididos segundo a arquitetura da época. A extensa varanda e seus janelões são naturalmente arejados. Os armários internos, instalados nas paredes, ainda estão conservados. A poucos metros está o engenho, apenas com a fachada conservada, junto com a imponente chaminé. A moenda foi trazida da Paraíba – a original se perdeu no tempo. Ao lado da casa-grande, a capela de São Pedro é uma construção mais “recente”, de 1919.

O engenho de cana-de-açúcar funcionou até 1963. Durante esse tempo chegou a produzir as cachaças Soberana e Riqueza, muito

Uma acessível viagem pelo tempo. (Foto: Aldair Dantas)

Uma acessível viagem pelo tempo. (Foto: Aldair Dantas)

apreciadas pelos degustadores de uma caninha artesanal. Hoje em dia, a propriedade é usada apenas para a criação de gado nelore. O uso do engenho como cenário de passeio cultural e área para eventos é uma ideia nova, que os proprietários ainda querem aperfeiçoar. “É um lugar muito antigo, e exige cuidados especiais para ser trabalhado. Queremos que o engenho continue do jeito que ele é”, conclui Leda.

O Engenho do Forró

Um dos engenhos mais antigos de São José de Mipibu é o da fazenda Olho d’Água. Foi criado em 1773 pelo português Miguel Ribeiro Dantas, avô materno do Barão de Mipibu. O conjunto arquitetônico conta com uma bela casa-grande construída posteriormente à primeira em 1851, galpões de 1920, moenda, e chaminé. Esse sítio histórico foi reavivado devido a realização do Forró da Olho d’Água, grandes festas mensais que atraem pessoas da capital e de outros estados. Atualmente o forró está sem calendário fixo.

A estrutura foi adaptada para receber as festas, com a inclusão de duas palhoças e um bar.  Localizado a pouco mais de dois quilômetros da cidade, o engenho também manteve até 2003 a atividade produtora de cachaça artesanal, a Berckmans – tradição na área desde 1921. Mesmo com a produção momentaneamente parada, ainda é possível achar a caninha em estoque. A fazenda também já produziu no passado açúcar mascavo, mel de engenho e rapadura.

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