Os números não são apenas preocupantes, são absurdamente assombrosos. Somente nestes primeiros quatro meses do ano, segundo estatísticas da Polícia Civil, 980 veículos foram roubados ou furtados no Rio Grande do Norte – o que representa, por mês, uma média de 245 veículos levados pela bandidagem. São 8 por dia. Um a cada três horas.
Em Natal, onde se concentra a maior frota do estado – e consequentemente onde se contabiliza a maioria dos crimes desta natureza – os dados também são alarmantes. Ao longo dos doze meses de 2011, por exemplo, foram registrados na capital potiguar 1.012 roubos ou furtos de veículos.
Já este ano, e somente nos primeiros quatro meses, 560 proprietários já ficaram no prejuízo, fazendo a média saltar de 84,3 para 140 veículos tomados por mês. Ano passado, três veículos eram afanados por dia. Este ano, a situação também piorou: são quase cinco motoristas assaltados todos os dias, seja nas ruas ou em suas próprias residências.
Esmiuçando as ocorrências registradas de janeiro a abril deste ano no estado, levando em consideração os relatórios mensais da Delegacia Especializada de Defesa da Propriedade de Veículos e Cargas (Deprov), é possível perceber que, diferentemente do que muitos imaginam, as motocicletas não são os alvos da maioria dos roubos, situação que ocorre quando o bandido surpreende o condutor e, sob ameaça, leva o veículo embora.
E também não são a maioria dos casos de furto – quando o bem desaparece sem que o dono esteja presente. Os carros são os preferidos. Dos 980 registros de roubo ou furto de veículos este ano, constam nos boletins 558 automóveis dos mais variados modelos e tipos. As motos somam 422. E dos 560 veículos roubados ou furtados em Natal, os bandidos se apossaram de 358 carros e 202 motocicletas.
Segundo o delegado Delmontiê Falcão, não há um modelo específico de carro e/ou determinada cilindrada de moto que possam ser considerados os prediletos dos assaltantes. “Ladrão não escolhe tipo nem cor. Antigamente existia isso. Durante muitos anos o Fiat foi o carro mais roubado porque qualquer chave abria a porta. Hoje isso não existe mais. Os fabricantes investiram em alarmes e chaves codificadas”, comentou. “Mesmo assim, do popular ao importado, os bandidos roubam tudo”, acrescentou.
Porém, existe um fato inegável. Seja para vender em outras praças, desmanchar e comercializar as peças, ou mesmo para usar o veículo como transporte em outras alçadas criminosas, é a ocasião quem faz o ladrão. O roubo ou furto de veículos vem crescendo no Rio Grande do Norte pela facilidade. E não precisa ser especialista para constatar que a falta de policiamento nas ruas contribui enormemente para isso. Sem falar na falta de estrutura investigativa e na sensação de impunidade.
Delegacia especializada só tem seis policiais para investigar
Apesar da falta de policiais e da estrutura precária da Deprov, o delegado Delmontiê Falcão garante que 60% dos veículos tomados pelos assaltantes são recuperados. Não que a delegacia consiga chegar aos criminosos, mas porque a maioria dos carros e motos acaba sendo abandonada.
Os que não são largados e depenados em desmanches, são levados para outros estados. Não há estatística que revele a quantidade de veículos que as quadrilhas transportam para fora do Rio Grande do Norte. Porém, sabe-se que Pernambuco e Paraíba são os principais destinos. “E vice-versa. Os carros e as motos roubados lá são trazidos pra cá. A maioria tem a placa clonada ou os chassis adulterados”, revelou Falcão. Ainda de acordo com o delegado, hoje, em Natal, os bairros mais visados pelos ladrões que procuram um veículo para tomar são Lagoa Nova e Candelária, ambos na Zona Sul.
Nossa Senhora da Apresentação, na Zona Norte, também apresenta um alto índice de crimes contra os condutores de veículos. No entanto, a maioria dos casos naquele bairro envolve roubos ou furtos de motocicletas.
Este ano, a Deprov está contabilizando os crimes por região. Mas, se for observado o Mapa da Violência 2011, relatório elaborado pela Secretaria de Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed), é possível ter uma noção precisa e confirmar o que disse o delegado. Ano passado, em Lagoa Nova, foram tomados 89 veículos. Candelária vem em segundo, com 64 veículos roubados ou furtados. Depois surge Capim Macio, com 54 crime da mesma natureza.
Na Zona Norte da cidade os campeões são Nossa Senhora da Apresentação (101), Potengi (95) e Lagoa Azul (56). Na Zona Oeste vem o bairro das Quintas (36), Felipe Camarão (27) e Planalto (26). E na Zona Leste os bairros mais visados são Alecrim (59), Cidade Alta (29) e Tirol (20).
Oito carros roubados somente na terça-feira
Na noite da terça-feira passada, para a infelicidade de alguns moradores de Candelária, a média diária de cinco veículos roubados em Natal se mostrou verdadeira. E num curto espaço de tempo. Cinco carros foram roubados em apenas quarenta minutos. Armados, os assaltantes levaram embora um Ford KA prata (MYQ-7096), um Celta preto (MYG-5636), uma Saveiro preta (MYV-5974), um Corolla preto (MXP-8743) e uma Montana cinza (MXP-9468).
A Polícia Militar foi acionada e realizou buscas pela região. Esforço em vão. Ninguém foi preso e nenhum dos veículos recuperado. Pouco tempo depois, a mesma estatística foi superada. Por volta das 22h30 os ladrões voltaram a agir.
O assalto aconteceu em Cidade Verde, também na Zona Sul da cidade, onde o dono de um Corsa também ficou a ver navios. Com uma arma apontada para o queixo, ele se viu, da mesma forma, obrigado a entregar o automóvel de mão beijada. “Eram cinco assaltantes. Todos armados. Um deles botou o revólver no meu queixo e mandou eu dar a chave do carro”, contou a vítima. “Não tem o que fazer. Eu me tremia todo. A qualquer momento ele podia puxar o gatilho e me matar. É a pior sensação do mundo. A gente se sente um merda, um inseto”, acrescentou o rapaz, pedindo para não ser identificado.
No fim das contas, se o que aconteceu na terça-feira se repetir todos os dias, a média de carros roubados na capital vai aumentar ainda mais. Afinal, foram oito os automóveis tomados antes de a quarta-feira chegar.
Antes do arrastão em Candelária, três homens assaltaram uma casa na Rua Mogiguaçu, em Cidade Satélite, e levaram de lá dois carros importados, fora os pertences da família e mais R$ 7 mil em dinheiro.
O crime ocorreu por volta das 16h. Na casa funciona uma pequena loja para a venda de castanhas. Um dos sócios abriu a porta achando se tratar de um cliente. Maldita surpresa. Os bandidos entraram na casa e pegaram o dinheiro no escritório da loja. Recolheram relógios e celulares das vítimas e depois fugiram levando um Corolla e uma Hylux.
Até o helicóptero da polícia, o Potiguar I, foi usado na tentativa de encontrar os criminosos. Não deu certo.
Vítimas de candelária reconhecem assaltantes
Embora tenha preferido se manter no anonimato, a vítima do assalto reconheceu três dos cinco bandidos que levaram o seu carro em Cidade Verde. E não apenas ele. Outras pessoas que tiveram seus carros tomados em Candelária, e que também relataram momentos de terror na delegacia, reconheceram os mesmos suspeitos. As fotos foram repassadas com exclusividade ao NOVO JORNAL.
Segundo o delegado Delmontiê Falcão, são três jovens com passagens pela polícia, acusados de assaltos em outras oportunidades e que hoje estão soltos. Dois deles são
irmãos: Alan Diego e Halyson Philips Costa. O terceiro chama-se Ricardo Cavalcante de Lima.
Para receber denúncias sobre roubo ou furto de veículos, a Deprov dispõe do telefone 3232-6313. O número atende 24 horas.
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