Deu no caderno Natal da Tribuna do Norte:
Os 17 pacientes entubados do setor de reanimação, anestesiados e sem sedativos, receberam na noite da quarta-feira a medicação para serem induzidos ao sono e permanecem à espera dos leitos de UTI. “Como recebemos o Fentanil 2 ml e Dormonid, estes pacientes já estão sedados”, disse a diretora geral Fátima Pereira, que reafirmou que na UTI cardiológica, havia a ameça de suspensão do serviço e transferência de pacientes, caso o material não chegasse.
Além dos sedativos e anestésicos (Sevorane e Neocaína), o hospital foi abastecido ainda com antibióticos, como Minorem e Aztreonam – usados no tratamento de infecções. De acordo com dados do Departamento de Farmácia do Hospital, o estoque é equivalente a 44% da capacidade com a nova entrega. Contudo, faltavam álcool e hipoclorito para desinfetação dos ambientes e aparelhos. A previsão de dispensa dos produtos por parte da Unicat, informou a chefe do setor de farmácia, Carla Magalhães, era até a manhã de hoje.
Plantonistas denunciavam ainda a falta de reagentes para exames laboratoriais fundamentais para a realização de cirurgias, como o CKMB – enzima usada para diagnosticar casos de infarto – e Amilase – empregado no diagnostico de pancreatite, além de drenos e tubos endotraqueal (cano de entubação) e a má qualidade de materiais simples, como seringas. “Este abastecimento anunciado pelos gestores é uma falácia”, disse o chefe da neurocirurgia, o médico Luciano Araújo. “É preciso avaliar se medicamentos e insumos recebidos são adequados a utilização correta e em quantidade suficiente, o que não é”, acrescentou Araújo.
O cirurgião Edésio Macário, ex-diretor da unidade, lamenta não haver uma padronização de material. “É preciso que as compras obedeçam uma especificidade dos produtos necessários para cada tipo de procedimento e paciente”, disse. A não participação de técnicos nos processos de licitação para aquisição do material é uma das causas do “desabastecimento e mau uso dos recursos para saná-lo”, observa o cirurgião Bosco.
Corredores
Nos corredores, a situação na tarde de ontem era ainda mais crítica que no dia anterior. Ao todo, 112 pacientes estavam em macas – nove a mais. “Os Pronto-Socorros do Município não estão recebendo. Hoje (ontem), o de Cidade Satélite ficou fechado porque não tinha segurança e o das Rocas (Hospital dos Pescadores) está atendendo só 30%. Tudo desagua aqui e não temos para onde encaminhar”, afirmou a diretora geral Fátima Pereira. Neste período eleitoral, observa a diretora, “coincidentemente, aumenta o fluxo de ambulâncias do interior”, disse. “Só hoje (ontem), foram 16 (ambulâncias), que ocupam as nossas macas e quando o Samu chega, acaba ficando preso por ter que ceder”, disse.
Entre os 48 pacientes da Ortopedia que continuam aguardando transferência, está o aposentado Manoel Jesuíno de Lima, 83 anos, que deu entrada na quarta-feira, com fratura no fêmur. “É uma situação dolorosa vê-lo nessa maca no chão, em meio a sujeira, sem nem perspectiva de vaga. Além da idade ele é cardíaco merecia prioridade”, disse a nora Damiana Lúcia de Oliveira, moradora de São Paulo do Potengi.
Postos de saúde de Natal estão fechados
A greve dos servidores públicos municipais está afetando o atendimento médico em pelo menos dois postos de saúde da capital potiguar. As unidades médicas que possuem pronto-atendimento nos bairros Cidade Satélite e Mãe Luiza estão fechadas. O motivo é a greve promovida pelo Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Natal (Sinsenat). Entre os servidores que suspenderam as atividades, estão os guardas municipais, responsáveis pela segurança dos postos.
No início da manhã de ontem, funcionários da “Unidade de Saúde de Cidade Satélite II” chegaram ao local com a expectativa de iniciar mais um dia de trabalho. No entanto, a tentativa foi mais uma vez frustrada devido à ausência dos guardas. Desde o último domingo, a rotina é essa. “A gente chega e espera os guardas. Se eles vierem, trabalhamos, caso contrário, vamos embora”, disse a recepcionista da unidade.
De acordo com Tânia Lopes, coordenadora do posto, a Guarda Municipal não está cumprindo a escala de plantão definida pelo comando da greve. “Eles nos passaram a escala, porém, infelizmente, os guardas não estão aparecendo”, contou. Tânia explicou ainda que o posto já foi assaltado algumas vezes e os profissionais ameaçados por pacientes. “Sem o segurança, ninguém quer ficar aqui. Já apontaram arma na cabeça de um médico e até mesmo um portão de ferro foi roubado. Infelizmente a insegurança é grande”.
Com o fechamento da unidade, cerca de 400 atendimentos deixam de ser realizados diariamente. Os pacientes que chegam ao local são encaminhados para o Hospital Deoclécio Marques, em Parnamirim. “É o local mais próximo daqui que realiza atendimento”, disse uma técnica de enfermagem que não quis se identificar. Tânia Lopes informou que o comando da Guarda Municipal iria enviar um guarda na noite de ontem. “Se chegar mesmo, vamos abrir hoje [ontem] à noite”.
As portas para os pacientes também estão fechadas na “Unidade de Saúde de Mãe Luiza”. Na frente do prédio, uma faixa avisa que os servidores estão em greve. Na porta principal, um aviso explicita que desde o último sábado, dia 11, não há atendimento à população. “Informamos à comunidade que neste final de semana (11/08 e 12/08), esta unidade de saúde estará FECHADA por falta de condições operacionais”. As “condições operacionais” inexistentes, segundo a assessoria de imprensa da secretaria Municipal de Saúde (SMS), são os guardas municipais.
A dona de casa Maria Neribalda, moradora do bairro Morro Branco, está há dois dias sentindo febre e dor de cabeça. Ontem, resolveu procurar um médico. Foi primeiro ao posto de saúde de Nova Descoberta. Lá, não conseguiu atendimento. “Disseram que eu tinha que marcar e só havia vaga para a próxima semana”, disse. Com a negativa, resolveu ir ao posto de Mãe Luiza. Novamente não foi atendida. “Não sabia que estava fechado. Agora, vou voltar para casa. Não tenho outra opção. O jeito é esperar ficar boa”.
MP pede multa de 10 mil por desabastecimento
O MPRN ingressou na Justiça com petição para fixar multa de R$ 10 mil, por dia, para o secretário estadual de Saúde, Isaú Gerino; a governadora Rosalba Ciarlini; e o secretário de Planejamento e Finanças, Francisco Obery Rodrigues Júnior pelo descumprimento de decisão judicial referente ao abastecimento da rede hospitalar do Estado. A petição foi protocolada nos autos da Ação Civil Pública, de número 0116296-56.2012.8.20. 0001.
A decisão, em caráter liminar, do dia 6 de junho, determinava “a imediata aquisição dos insumos e medicamentos em falta nos hospitais da rede estadual, regularizando o abastecimento da rede hospitalar estadual no prazo máximo de 20 dias, sob pena de bloqueio imediato do valor necessário a aquisição direta pelos diretores dos estabelecimentos”, diz o texto. “Passados mais de 40 dias do prazo fixado, nenhuma providência concreta de abastecimento da Rede Hospitalar foi adotada pelo Réu, perpetuando o caos que já estava instalado nos grandes hospitais Regionais do Interior e da Capital”, traz ainda o documento.
De acordo com a petição, assinada pela promotora da saúde Iara Pinheiro, foi constatado que o percentual de abastecimento do HWG caiu, mesmo após a decisão da Justiça. Segundo dados do Conselho Regional de Medicina (Cremern), em meados de julho, este percentual correspondia a 34%. E, 30 dias após, em nova vista do Cremern, o estoque de medicamentos, materiais e insumos reduziu para 32%.
O relatório do Conselho mostra que a situação se repete no Hospital Giselda Trigueiro onde inúmeros medicamentos também estão em falta, com evidente comprometimento do tratamento dispensado aos portadores de doenças infecto-contagiosas. “Não há, pois, como duvidar do descaso do Poder Público Estadual quanto à decisão judicial proferida na ação em referência, ensejando a necessidade de adoção de providências mais severas para compelir ao cumprimento.”, traz a petição da representante do Ministério Público.
A inclusão do Secretário Obery Rodrigues foi justificada pelo fato de a Sesap não possuir autonomia orçamentária-financeira real, ficando sempre a depender da Seplan para recebimentos de recursos do Orçamento geral do Estado (OGE) para gastos e investimentos sanitários.
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