Notícia publicada na Tribuna do Norte:
Roberto Lucena
Repórter
A maioria dos potiguares com 16 ou 17 anos não demonstrou interesse em participar do pleito eleitoral que se aproxima. Apenas 31% destes jovens exerceram o direito de tirar o título de eleitor e estão credenciados a escolher os próximos gestores do Brasil e Estado. O voto facultativo sofreu queda se comparado com a última eleição geral, em 2010. Há quatro anos, 49% da população nessa faixa etária decidiu ir às urnas. Apesar das manifestações populares realizadas em 2013, onde mudança na política era uma das principais reivindicações, esses jovens preferiram não ter que ir às urnas.
A baixa participação da juventude neste pleito também é perceptível quando analisado o número de candidatos com até 29 anos de idade que estão na disputa pelo voto. De acordo com informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Rio Grande do Norte possui apenas 22 candidatos com esta característica. O número representa 6,25% no universo de 352 postulantes a um cargo público no Estado.
Em 2010, segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), havia 125.184 jovens com 16 ou 17 anos no RN. Desta quantia, 62.496 (49%), de acordo com o TSE, tiraram o título de eleitor. Este ano, fazendo uma projeção com o número de jovens que, em 2010, estavam com 12 ou 13 anos e excluindo variáveis como mortalidade e migração, o Estado conta 117.473 jovens com 16 ou 17 anos. Deste grupo, 37.477 pessoas, o que corresponde a 31%, decidiram procurar a Justiça Eleitoral para retirar o título. Ficaram fora do pleito, quase 80 mil pessoas.
Uma delas é a estudante do 3º ano do ensino médio, Maria Clara Dantas, 17 anos. Apesar de existir a possibilidade de votar, a jovem disse que não sentiu interesse na disputa deste ano. “Eu até acompanho algumas coisas, mas não me senti estimulada em tirar o título. Todo político é corrupto”, afirma. A também estudante do 3º ano, Isabela Maia, 17 anos, não vai votar porque não possui o documento necessário. “Acabei não prestando atenção nas datas do calendário eleitoral. Quando percebi, já era o último dia e não tinha tempo. Esse ano, estou focada nos estudos”, conta.
Desinteresse pelo pleito, descredibilidade dos políticos e da política, falta de tempo ou até mesmo burocracia. A reportagem ouviu alguns depoimentos que apontavam os porquês da exclusão de participação no pleito. A maioria destoa do que foi levado às ruas durante o ano passado. Entre os meses de março e julho, milhares de jovens ocuparam os espaços públicos e exigiram mudança. Políticos eram os alvos preferidos de cartazes e palavras de ordem que reverberaram nos quatro cantos do país.
Para o cientista político e social e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Alípio de Sousa Filho, os dados apresentados pelo IBGE e TSE precisam ser analisados com cautela. O especialista acredita que o fato de as pessoas optarem pela abstenção na votação não significa necessariamente que perderam o interesse na participação política ou na política como tal. “Não vejo desinteresse generalizado pela política, mas a recusa de importantes parcelas da população em legitimar a política como é praticada por certos atores políticos hoje”, coloca.
O problema, segundo ele, não é a política, “mas as apropriações da atividade política que a distorcem”, pondera. O professor acredita ainda que se abster do processo eleitoral não é desinteresse. “É denúncia da política como instrumento para a dominação de poucos e expressão do desejo por uma política que torne possível a participação igualitária de todos no debate e na tomada de decisões”.
Votar ou não votar?
Eles estão com o título de eleitor em mãos e aguardam ansiosamente pelo dia 5 de outubro. Alguns já decidiram em quem votar. Outros, ainda analisam as propostas dos candidatos, conversam com amigos, professores e parentes para fazer a melhor escolha. Pela primeira vez, a turma de jovens de 16 ou 17 anos – a maioria estudante do 3º ano do ensino média – vai escolher os representantes políticos.
Em contrapartida, há aqueles que preferem não participar do pleito. Eles tiveram a oportunidade de retirar o título, mas – devido a uma série de fatores – não procuraram a Justiça Eleitoral. Apenas quando completarem 18 anos, e sob a obrigação da lei, vão escolher em quem votar. Em uma das escolas, a direção realizou o primeiro debate entre os candidatos a governador. Foi um momento importante para que os eleitores ouvissem as propostas. A TRIBUNA DO NORTE foi aos colégios e ouviu quais as expectativas e histórias destes jovens.
“Ainda não sei em quem vou votar. Acho meio chato acompanhar o horário político, mas, próxima semana, vou analisar as propostas dos candidatos. Vou pesquisar na internet para saber o que eles estão pensando. Acredito que os próximos governantes precisam priorizar a saúde e educação. São os principais problemas do país”.
Rebeka de Oliveira, 17 anos. Pretende ser biomédica.
“O meu voto faz a diferença. Eu tenho certeza disso. Por isso, decidi retirar meu título. Participei do debate na escola, mas confesso que não gostei da participação dos candidatos. Eles tinham as mesmas propostas, mas não disseram como vão executar as ideias. De onde vai sair o dinheiro, por exemplo. Acredito ainda que o Governo Federal precisa dividir mudar a forma de distribuição das verbas. Os Estados e Municípios precisam receber mais investimentos em áreas importantes como saúde e educação. Se você analisar, as universidades estão bem, mas a educação básica está deficitária”.
Mariah Liberato, 17 anos. Vai disputar uma vaga no curso de engenharia mecânica ou civil.
“Eu participei das manifestações ano passado, mas não tirei meu título este ano. Nós não fomos ensinados a gostar de política. Acho que falta uma disciplina nas escolas que introduzisse esse tema e, assim, despertar o interesse dos jovens. Como vou fazer o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio] esse ano, estou focada nos estudos. Não prestei atenção nas datas e, quando percebi, era o último dia para retirar o título. Fiquei sem tempo e não fui. Mesmo assim, acompanho a discussão eleitoral”.
Isabela Maia, 17 anos. Pretende ser jornalista.
“Ainda não decidi meus votos. As perspectivas não são muito boas. Não vejo a renovação dos políticos. Os candidatos são os mesmos. A gente fica sem opção. Na minha turma, a maioria não foi atrás do título. O pessoal não está interessado, mas o voto é válido. Todo voto é importante. Acho que os próximos governantes precisam priorizar a saúde, educação e segurança. São esses os maiores problemas do país”.
Vítor Barbosa, 17 anos. Vai disputar uma vaga para o curso de Direito.
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