Por falta de fio de aço, médico fecha cirurgia torácica com nylon no RN

18 de janeiro de 2013

Notícia publicada no portal G1 RN:

O desabastecimento de insumos levou um médico a terminar uma cirurgia torácica com fio de nylon no maior hospital público do Rio Grande do Norte. A cirurgia foi há duas semanas e foi gravada em vídeo pelo cirurgião Jeancarlo Cavalcanti, que também é presidente do Conselho Regional de Medicina do estado. No vídeo, ele reclama da falta de fio de aço.

“Fio de aço? Como é que eu vou fechar aqui, ó? O tórax está aberto aqui, ó, tenho que fechar isso aqui com fio de aço. Eu não tenho fio de aço para fechar isso aqui. Como é que eu vou fechar este paciente? Não tem como eu fechar. No Walfredo Gurgel não tem fio de aço. O paciente está aberto e eu não tenho como fechar. De quem é a culpa disso? Fio de aço custa muito barato”, diz o médico no vídeo.

Médico cirurgião e presidente do Conselho Regional de Medicina do RN, Jean Carlo Cavalcanti. (Foto: Tribuna do Norte)

Médico cirurgião e presidente do Conselho Regional de Medicina do RN, Jean Carlo Cavalcanti. (Foto: Tribuna do Norte)

O paciente que levou uma facada no peito foi operado às pressas no hospital Walfredo Gurgel. “Resolvi gravar para mostrar à população a nossa realidade”, disse o médico à equipe de reportagem da Inter TV Cabugi.

No hospital Walfredo Gurgel são atendidos por dia em média 400 pacientes. É o maior pronto socorro do estado.

Duas semanas depois da cirurgia, segundo os funcionários da farmácia do hospital, continua faltando fio de aço na unidade hospitalar. O mesmo ocorre com antibiótico e remédios para pressão alta.

A diretora do hospital, Fátima Pereira, nega e diz que já tem o fio de aço. “No dia seguinte nós adquirimos o material”. Sobre o desabastecimento  de outros itens da farmácia, o secretário de saúde do RN, Isaú Gerino, disse que foi provocado pelo fechamento de alguns laboratórios para férias coletivas. “Acredito que no máximo em 15 dias isso será resolvido”.

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Sesap estuda ação contra médico

Notícia publicada no caderno Natal do Novo Jornal:

A Secretaria Estadual de Saúde estuda enviar uma representação ao Conselho Federal de Medicina contra o atual presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte, Jeancarlo Cavalcante, por conta da gravação divulgada em rede nacional onde um paciente é mostrado em meio a uma cirurgia. No vídeo, o presidente do Cremern denuncia a falta de fio cirúrgico para “fechar o paciente”. “Um representante de um órgão fiscalizador, como é o Conselho de Medicina, não poderia jamais expor um paciente daquela forma. O jurídico está estudando a representação”, disse o secretário estadual de Saúde, Isaú Gerino.

O vídeo foi divulgado pelo Jornal Hoje, da Rede Globo, na tarde de ontem. Jeancarlo Cavalcante diz durante a gravação: “O paciente está aberto e não tenho como fechar. O Walfredo Gurgel não tem fio de aço”. A imagem do tórax do paciente aparece desfocada. Mesmo assim, a Secretaria de Saúde considerou o episódio como um “deslize ético”. “Não é legal”, limitou-se a dizer o secretário estadual de Saúde, Isaú Gerino.

Ontem no início da noite, ouvida pela TRIBUNA DO NORTE, a governadora Rosalba Ciarlini afirmou que ficou chocada com a filmagem. “Achei antiético o profissional parar a cirurgia para fazer uma filmagem. Se não tinha o fio de aço porque então começou a cirurgia”, criticou Rosalba Ciarlini. A governadora disse que essas denúncias estão acontecendo em represália à decisão do governo de cobrar o cumprimento da carga horária. “Mas todo funcionário”, retrucou ela, “tem que de cumprir sua carga horária. Se não concordam com o salário e se não querem cumprir horário, podem sair”, disse a governadora.

A Sesap questiona o conteúdo da denúncia. Para o secretário, seria possível terminar a cirurgia utilizando um outro fio, que não o fio de aço. “Acho que eu ensinei errado. Eu fui professor do presidente do Conselho de Medicina na residência. Ele deve ter faltado essa aula”, disse Isaú. E complementou: “Qualquer cirurgião sabe que é até melhor fechar com um outro material, o fio prolene. Ele (Jeancarlo cavalcante) disse que queria marcar uma reunião comigo e talvez aí eu possa ensiná-lo novamente, para ver se ele relembra”.

A governadora também estranhou o fato do médico usar fio de aço na cirurgia, quando, segundo disse, existem técnicas mais adequadas. Isaú Gerino completou: “o que acontece é que estamos presenciando um embate político entre médicos e gestão. Por isso acontecem esses fatos”, disse ele.

De acordo com o secretário, o nível de abastecimento dos hospitais da rede pública tem melhorado. “Quando assumimos o nível de abastecimento era baixo, mas hoje no Walfredo é cerca de 60% ou 70%. Já em outros hospitais como o Santa Catarina está em 95%”, diz. Para Isaú Gerino, o mais adequado é continuar trabalhando junto aos diretores de hospitais para conservar o abastecimento das unidades em níveis aceitáveis.

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE falou com o presidente do Conselho Regional de Medicina, Jeancarlo Cavalcante, acerca das declarações do secretário de Saúde. Jeancarlo disse que a Sesap “tem o direito de fazer a representação, caso acredite ser a decisão correta”. “Se isso acontecer, eu vou fazer a minha defesa. Não houve exposição. Preservei tanto visualmente quanto documentalmente a identidade do paciente. Nem mesmo o nome foi divulgado”, argumentou o presidente do Cremern.

Acerca das demais considerações do secretário, Jeancarlo Cavalcante  disse que foi de fato aluno de Isaú Gerino. Mas negou que houvesse outra possibilidade para “fechar o paciente”. “Ele foi mesmo meu professor, mas de cirurgia geral. Minha especialidade é cirurgia torácica e não é possível fazer o procedimento sem fio de aço, porque naquele caso era preciso fechar o esterno (osso localizado no tórax) do paciente. Não sei se o secretário sabe que incisão foi feita. Mas qualquer cirurgião de tórax pode confirmar o que estou falando”, replica o presidente do Cremern. Segundo Jeancarlo, foi necessário usar um fio inadequado no paciente e no outro dia uma nova cirurgia foi realizada para pôr o material correto. O procedimento aconteceu há cerca de duas semanas.

Bate-papo

Isaú Gerino, secretário de Saúde do RN

O que o senhor acha da divulgação do vídeo após a publicação da portaria de corte de ponto?

Acho que eu ensinei errado. Eu fui professor do presidente do Conselho de Medicina na residência. Ele deve ter faltado essa aula.  Qualquer cirurgião sabe que é até melhor fechar com um outro material, o fio prolene. Ele (Jeancarlo Cavalcante) disse que queria marcar uma reunião comigo e talvez aí eu possa ensiná-lo novamente, para ver se ele relembra.

O corte do ponto continua?

É uma determinação. A determinação continua. É preciso bater o ponto e não somente o médico, mas todos os profissionais. Não tem como cobrar de todos os profissionais menos o médico. O tratamento deve ser igualitário. Estou me cadastrando para bater o ponto também, para dar o exemplo. Há um movimento grevista, mas só 10% da categoria aderiu. Quem aderiu, terá o ponto cortado. E se continuar assim infelizmente teremos de iniciar um procedimento administrativo para punição.

Como está a questão do abastecimento?

Quando assumimos o nível de abastecimento era baixo, mas hoje no Walfredo é cerca de 60% ou 70%. Já em outros hospitais como o Santa Catarina está em 95%. a nossa pretensão é melhorar cada vez mais.

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