Produção de leite cai 40% no RN

30 de abril de 2012

Estiagem, aumento nos custos dos insumos e, principalmente, atrasos nos repasses do Programa do Leite, do governo estadual, fizeram a bovinocultura leiteira do Rio Grande do Norte brecar qualquer possibilidade de avanço. Nos últimos três anos, os produtores de leite amargaram perdas de 40% na produção, que girava em torno de 229,4 milhões de litros de leite por ano, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) em 2010. Para reverter o quadro negativo, as principais instituições ligadas à cadeia produtiva criaram um fórum de discussão na Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faern) para sugerir ações que possam minimizar os efeitos e estabelecer políticas de apoio ao desenvolvimento do segmento, que agrega cerca de 25 mil produtores.

Na próxima quarta-feira (2), às 8h, representantes do Sebrae, Faern, Federação das Indústrias do estado (Fiern), Associação Norte-rio-grandense de Criadores (Anorc), Sindicato da Indústria de Laticínios do RN e Sindicato dos Produtores de Leite vão elaborar uma pauta com sugestões de medidas e ações que possam ser implementadas. A proposta é também traçar estratégias para minimizar os reflexos da seca, considerada a pior desde a década de sessenta.

O documento será apresentado a parlamentares do estado, sobretudo a bancada federal, e governo, durante um café da manhã, que ocorrerá no dia 7 de maio. “A gente percebe que o problema é sério e merece uma união de esforços para solucionar. É preciso fazer algo urgente para que a cadeia produtiva do leite volte a crescer”, diz o gestor do projeto Leite e Derivados do Sebrae-RN, Acácio Brito.

A decisão de criação do fórum surgiu após reunião, realizada na última sexta-feira, para apresentação de um estudo feito pelo Sebrae no Rio Grande do Norte a pedido da Faern que analisa o setor entre 1996 e 2012. A pesquisa mostra a evolução dos valores pagos pelo litro do produto, comparando com o que é pago pelo mercado e pelo programa. Em 1999, o litro do leite era adquirido no mercado por R$ 0,36, enquanto o governo pagava R$ 0,38. Hoje, o custo é igual: R$ 0,80. No comparativo com os valores médios pagos no país, no RN em 1999 era superior, R$,0,36 e a média nacional era de R$ 0,26. Neste ano, há uma defasagem de 3,53%.

Iniciado em fevereiro e concluído no início deste mês, o estudo executado pela Cooperativa de Serviços Técnicos do Agronegócio também verifica a relação dos custos de produção nos últimos 17 anos. O valor dos insumos e serviços elevou-se quase quatro vezes mais (397,9%) que o ocorrido no preço do leite no período de julho de 1995 a maço de 2012. Considerando-se um período mais recente (fevereiro/2008 – março/2012), observa-se que, enquanto os custos dos insumos cresceram em 37,76%, o preço do leite atingiu, em média, um crescimento de, apenas, 21,21% – cerca de 78% dos custos.

Intempéries climáticas e atrasos de pagamento prejudicam setor

A bovinocultura leiteira potiguar começou a desacelerar nos últimos dois anos. O rigoroso período de estiagem atravessado no ano de 2010 levou muitos produtores abandonar a atividade. Nem mesmo o inverno do ano seguinte foi capaz de dar fôlego para o setor se recuperar. Somados às intempéries do clima, os atrasos no repasse dos recursos do programa do leite, que começaram no fim do governo anterior e persistiu até março deste ano, deixando a bacia leiteira potiguar sem capital de giro. Os repasses só foram regularizados neste mês, segundo o presidente da Faern, José Álvares Vieira. “Como se não bastassem tantos atrasos, estamos atravessando uma das piores secas da história”, acrescenta.

Na avaliação de José Vieira, a crise começou devido à dependência do setor produtivo do programa governamental. “Não houve um preparo dos produtores para encontrar saídas quando não houvesse a parceria do governo. Além de o programa pagar valores baixos, ainda não existe outro canal para venda do produto. A iniciativa privada ficou totalmente vulnerável”. Acácio Brito concorda com o presidente da Faern e afirma que o Sebrae, através dos projetos, tem apontado novos mercados para os pequenos produtores que atuam nesse setor. “Temos que buscar novos caminhos. Por isso, o trabalho do Sebrae tem sido de fortalecer todos os elos da cadeia produtiva e apontar novos mercados para minimizar essa dependência”.

Outro problema, apontado por José Vieira, está relacionado com a indústria de laticínios, que não recebe estímulos fiscais para processar os derivados do leite. A falta de isenção tributária deixa os estados vizinhos com um setor mais consolidado, de forma que o queijo produzido na Paraíba, por exemplo, torna-se mais competitivo que o potiguar dentro do mercado local. Além disso, o ambiente favorável fora das terras potiguares atrai gigantes do segmento lácteo para estados, como Pernambuco e Ceará.”Não temos um plano que dê competitividade à indústria de laticínios”.

Toda essa situação posiciona o Rio Grande do Norte nos últimos lugares no ranking de desenvolvimento da pecuária leiteira no Brasil, respondendo por apenas 0,2% da produção nacional de leite. O estado está longe de ser autossuficiente na produção de carne e leite, ao contrário, é importador desse último produto. “Faltam projetos de desenvolvimento da atividade leiteira no RN, além de uma articulação e prioridade para o setor agropecuário, que reúne vários itens da pauta de exportação potiguar”.

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