Noticia publicada no Novo Jornal:
O Rio Grande do Norte pode ganhar um reforço de R$ 10 milhões na luta contra os impactos da seca. O recurso é o valor estimado para a viabilização de um projeto apresentado recentemente ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) pela Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn). O objetivo é ampliar os campos de produção de palma irrigada no estado e garantir uma reserva a mais de energia para o rebanho potiguar nos tempos de estiagem.
O projeto está sob avaliação dos técnicos federais e não entra como uma medida emergencial, mas sim como uma proposta estruturante. Caso aprovado, dever ter sua execução iniciada ainda este ano. A primeira colheita, no entanto, só acontece num prazo de 24 meses. A iniciativa garante a continuidade e valida os avanços já conquistados na produção do cacto ao longo dos últimos três anos no estado.
A palma, explicou o coordenador de pesquisa e produção animal da Emparn, Guilherme Ferreira da Costa Lima, além de ter um rendimento alto, pode substituir o milho. “Trata-se de um alimento muito rico em energia e, em função do rendimento, poderá servir como uma base para o alimento forrageiro ajudando os produtores nos momentos de crise”, destacou.
E quando se fala em palma irrigada não se deve associar à irrigação de outros produtos, como de milho e sorgo. Enquanto para estes alimentos se gasta em média 100 mil litros de água por dia na irrigação de 1 hectare (10 mil m²), para a cactácea não se gasta mais do que 75 mil litros por mês. “É só um cheirinho de água. São 7,5 litros por metro a cada 15 dias num sistema de gotejamento”, explicou.
O primeiro passo previsto no projeto é fazer uma área de 50 hectares para produzir palma e distribuir raquetes (mudas da planta) para o estado inteiro. A estimativa é de que nesta área, se produza cerca 15 milhões de raquetes por ano. Esta unidade de produção garantirá uma economia considerável para o produtor que, se quisesse plantar por conta própria, pagaria cerca de 40 centavos por cada raquete. Palmais de um hectare levam cerca de 50 mil mudas, o que representaria um gasto de R$ 20 mil.
No projeto, está contemplada a implantação de 100 unidades de 0,2 hectares em pequenas propriedades, com a irrigação e secador solar. A ideia é que estes pequenos agropecuaristas, como vão receber as raquetes através dos recursos federais, assumam o compromisso de repassar a outros produtores 25% do que conseguirem produzir. Assim, estará garantida a capilarização dos palmais em todo o estado.
Ainda se deve testar diferentes formas de captação de água, utilizando barragens subterrâneas, sistema de calçadão (área com captação de água que joga o recuso em uma cisterna) e poços de baixa vazão mesmo que a qualidade da água não seja tão boa.
Um detalhe importante é que estas mudas produzidas nos 50 mil hectares serão de espécies resistentes às pragas que comprometem a produção. Há dois tipos muito comuns de doenças: a cochonilhas-de-escama e a cochonilha-do-carmim. A primeira prejudica em menor proporção, mas a segunda já, praticamente, varreu os palmais de Pernambuco e da Paraíba. A praga é provocada por um inseto (Dactylopius opuntiae) que se alimenta da seiva das plantas e introduz toxinas que podem destruir a palma forrageira em poucos meses se não for combatida rapidamente. Em dezembro do ano passado, a cochonilha-do-carmim foi encontrada na cidade de Equador, na região Seridó, mas foi firmemente combatida e não se espalhou.
Uma pesquisa do estado de Pernambuco comprovou que há dois tipos de palmas resistentes a estas pragas, a Palma Orelha de Elefante Mexicana e a Palma Miúda, que já é usada no Rio Grande. A Gigante, presente nas pesquisas anteriores da Emparn, é suscetível e, por isso, não deve voltar a ser usada.
Com os recursos do MDA, deve acontecer também uma ampliação de um laboratório de biotecnologia no estado, que hoje só produz mudas de bananeiras. O objetivo é passar a produzir também as raquetes da palma. Guilherme explicou que se trata de uma tentativa de acelerar o processo de produção em laboratório.
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