No que diz respeito à energia, o maior potencial do Rio Grande do Norte está na força dos ventos. E mais: neste contexto, o estado não pode ser visto de maneira isolada. “Ele está inserido no sistema energético brasileiro e essa energia eólica tem como papel atender ao mercado interligado do Brasil”. A afirmação é do Secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura Filho, que esteve em Natal representado o Ministro Edison Lobão na XVI Conferência Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais.
Para ele, no processo de expansão da energia eólica, o RN está em uma posição privilegiada. E isso ele fala baseado em estudos técnicos realizados pelo Ministério. “O nosso atlas eólico identificou uma grande quantidade de possibilidades de implantação deste tipo de energia preferencialmente no Rio Grande do Norte. Também na Bahia, no Rio Grande do Sul e no interior do Espírito Santo. Há outros lugares, mas estes são os principais”, ressaltou.
O maior benefício, no entanto, não está na energia gerada que pode servir como fonte de consumo dos potiguares no futuro, mas em criar uma alternativa de investimento no estado muito favorável, com a criação do emprego, não só na implantação das usinas, mas na operação e manutenção delas. “A energia não é exclusiva do estado, mas é aqui que ficam os investimentos”, reforçou. Aliado a isso, obviamente, ainda está o desenvolvimento de uma fonte limpa, renovável e pouco emissora de gases do efeito estufa.
E a energia eólica, segundo ele, está se tornando cada vez mais viável. Antes considerada cara, se aproximou dos preços das principais fontes da matriz energética brasileira. E os motivos para justificar este sucesso são muitos. O primeiro seria o desenvolvimento tecnológico.
As torres mais altas e o aumento da capacidade dos geradores otimizam a produção, elevando o custo-benefício.Além disso, o Rio Grande do Norte, assim como outros estados brasileiros, têm ventos de janeiro a dezembro, característica que deixa o Brasil bem a frente da Europa, por exemplo. “Os ventos da região do Brasil em particular no RN são muito favoráveis, que além da intensidade têm um direcionamento muito formidável. Uma usina aqui é muito mais viável do que seria na Europa”, defendeu.
E o potencial energético do estado não é só para o vento, mas para o sol também. E Altino, que é responsável por toda a parte de energias renováveis do ministério, acredita que o desenvolvimento desta energia a partir dos raios solares também siga os caminhos percorridos pelo vento. Mas ainda pode demorar muito.
“O ministério tem feito uma série de estudos e entende que a energia solar é uma energia do futuro. O que aconteceu com a energia eólica certamente vai acontecer com solar. O problema é que a energia solar ainda representa custo acima daquele que seria razoável para a inclusão no sistema elétrico brasileiro”, explicou.
O fato é que o Brasil possui uma demanda permanente por uma energia de baixo custo e já há várias fontes de geração diversificadas que têm preços muitos favoráveis. “Eu faço referência a algo entre R$ 100 e R$ 150 reais o megawatt. Já a energia solar custa mais de R$ 300. Então precisamos ter muito cuidado para que o movimento desta fonte não venha a contribuir para a elevação do custo da energia”, ressaltou.
Como um grande conhecedor de toda a matriz energética brasileira, Altino também traçou um histórico do serviço de fornecimento no RN. Como um estado pequeno, não foi difícil atender todo o território potiguar com ei ciência. “O Rio Grande do Norte é um estado que historicamente sempre recebeu a sua energia elétrica através das linhas de transmissão da Chesf.Então foram projetadas linhas da Chesf através das Usinas de São Francisco, Paulo Afonso, Sobradinho, Itaparica. E estas linhas atenderam todas as capitais da região Nordeste e as cidades do interior. E o Rio Grande do Norte tinha esse suprimento assegurado, com uma confiabilidade boa e um custo bom na energia”.
Fontes renováveis são complementares
Apesar do incentivo ao desenvolvimento das fontes renováveis, de acordo com o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do MME, vai chegar o momento em que a saída será recorrer à energia nuclear. Fontes renováveis serão apenas complementares. A explicação é que a base energética do Brasil está consolidada sobre a hidroeletricidade, e vai chegar o momento em que a força das águas já não será mais suficiente. “Nós poderemos manter a alternativa hidrelétrica, dependendo do desenvolvimento econômico, até 2025 ou 2030. Não mais que isso”, atestou.
O Brasil tem o terceiro maior potencial hidroelétrico do mundo, são cerca de 260 mil megawatts – o maior é a China com 360 mil megawatt. Deste potencial, no entanto, cerca de 80 mil MW estão localizados em terras indígenas e demarcadas, parques nacionais ou reservas florestais. “Não significa que seja impossível aproveitar, mas na legislação atual não se pode nem estudar as possibilidades”, ressaltou.
Resta ao Brasil, então, utilizar apenas os 180 mil MW restantes. Os outros países em que problemas semelhantes aconteceram, segundo Altino, agiram diferente: usaram todo o seu potencial achando apenas depois uma solução para a questão ambiental. E a partir da impossibilidade de novas hidrelétricas, é preciso encontrar uma fonte energética com mesma força e desempenho.
E neste contexto, segundo o secretário, só há três possibilidades: gás natural, carvão mineral e a energia nuclear. No entanto, por serem, respectivamente, nobre demais e com forte emissão de CO2, estas duas primeiras fontes são descartadas. Já a terceira é a grande saída, e, segundo ele, não pode “ter a porta fechada para esta possibilidade dentro de uma visão de longo prazo”.
Por outro lado, ele defende que é uma ilusão pensar que “nós vamos atender nosso país continental que precisa de 7 mil megawatts por ano, com energia eólica, solar e biomassa. Elas tem uma importante participação complementar , mas tem que aparecer uma fonte que substitua a eletricidade”, defendeu.
Opção nuclear
Altino Ventura critica que queiram comparar o Brasil com a Europa. E entende que o brasileiro não pode pagar por uma energia cara. A Alemanha, segundo ele, investe na solar porque tem condições para isso. Já o brasileiro tem uma renda baixa e a sociedade não pode custear uma energia mais cara. Além disso, ele aponta que a energia nuclear está cada vez mais segura, dado o desenvolvimento tecnológico.
E se a energia nuclear tomar a frente de nossa matriz energética, o Nordeste poderá participar efetivamente deste processo. É que estudos feitos pelo Ministério de Minas e Energia confirmam que a região tem vocação natural e condições para receber este tipo de usina.“Mas dentro desta proposta de longo prazo. Não existe nenhuma decisão de novas usinas nucleares além de Angra III que está sendo construída”, concluiu Altino.
Conferência da Unale
Altino Ventura Filho foi um dos palestrantes do XVI Conferência Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais. O secretário de Planejamento, na verdade, estava representando o Ministro de Minas e Energia Edison Lobão.
O evento ocorreu no Centro de Convenções de Natal, de 29 a 1º de maio. Organizado pela União Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais (Unale) e a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte (ALRN), A XVI CNLE teve como tema principal “Matriz energética e alternativas para o futuro”.
O evento é considerado o maior encontro parlamentar da América Latina. A conferência se constituiu em um grande fórum de discussões e troca de experiências. Esta edição reuniu como palestrantes o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o ex-ministro das Minas e Energia, Shigeaki Ueki, o senador Roberto Requião e o economista Ricardo Amorim.
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