RN espera novos frutos do petróleo

20 de maio de 2013

Notícia publicada na Tribuna do Norte:

Em meio à queda na produção e nas reservas da Bacia Potiguar e atravessando uma crise de demissões com a retirada de investidores, o setor petrolífero do Rio Grande do Norte comemora o resultado do leilão da Agência Nacional do Petróleo (ANP) realizado esta semana.

A previsão de R$ 250 milhões em investimentos mínimos comprometidos pelas empresas vencedoras dá um novo alento ao setor. O montante, segundo analistas do mercado, pode duplicar a partir das operações.

Contudo, a economia local  só deve começar a sentir os efeitos daqui a pelo menos dois anos – quando as atividades exploratórias iniciarem em campos terrestres e offshore (no mar).

A exploração no mar despertou forte interesse das empresas durante o leilão. No RN, a Petrobras operava sozinha no segmento. (Foto: Junior Santos)

A exploração no mar despertou forte interesse das empresas durante o leilão. No RN, a Petrobras operava sozinha no segmento. (Foto: Junior Santos)

Após cinco anos sem leilão, 18 dos 30 blocos exploratórios ofertados na Bacia Potiguar foram  arrematados e renderam mais de R$ 226 milhões de bônus de assinatura (valor pago pelas empresas quando da assinatura dos contratos de concessão).

Investidores pagam 1.000% a mais

Sara Vasconcelos – Repórter

O leilão realizado esta semana pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) deverá render ao Rio Grande do Norte, no primeiro momento, R$ 250 milhões em investimentos e a chegada de investidores como a portuguesa Petrogal e a nacional OGX, do empresário Eike Batista. Pelos 18 dos 30 blocos arrematados na bacia, as operadoras pagaram 1.000% a mais que o mínimo estabelecido pela ANP e terão entre cinco a sete anos, após a assinatura do contrato de concessão, para procurar petróleo e gás na Bacia Potiguar, e outros 27 para produzir.  A assinatura dos contratos está prevista para agosto.

A conjuntura deve movimentar o mercado, que desacelerou nos últimos anos devido ao declínio na produção e reservas, além da retirada de investidores. A desaceleração da atividade petrolífera no Estado provocou a demissão de  trabalhadores. Mais de 2 mil baixas foram homologadas entre outubro de 2012 e março deste ano, pelos sindicatos dos Petroleiros (Sindipetro) e dos Trabalhadores da Construção Civil (Sinduscon). A possível descoberta de novas jazidas, a partir da operação das áreas leiloadas pode ajudar a reverter os números negativos e impulsionar a produção.

Os  efeitos do leilão na geração de emprego, na aquisição de bens e serviços, entretanto, não serão imediatos, de acordo com especialistas da área. A espera será de pelo menos dois anos. Durante as atividades exploratórias a captação de mão de obra é em baixa escala, sendo alavancada na fase de produção, que depende da descoberta de novas jazidas.

Atratividade

De forma geral, a avaliação de especialistas é de que o resultado do leilão é positivo e demonstra a atratividade da Bacia Potiguar, embora madura, para novos investimentos e renovação do portfólio atual. “O setor estava precisando desta nova perspectiva concreta  de investimento no estado”, frisa o coordenador acadêmico do curso de Engenharia de Petróleo e Gás da Universidade Potiguar (UnP), Francisco Wendell Bezerra Lopes.

A rodada de licitação, explica o coordenador da Redepetro RN, Dorian Hilton Filgueira Bezerra, serve para  retirar do marasmo o setor. A Redepetro reúne empresas que atuam na cadeia do petróleo no estado.

Há cinco anos, o leilão de concessão vinha sendo adiado devido à indefinição do modelo regulatório de exploração da camada do pré-sal que só foi definido este ano. Neste período houve o fim de contratos e o fechamento de poços. “A expectativa é de novos investimentos, em um ano e meio. O leilão democratiza a exploração”, afirma Bezerra.

A longo prazo, alerta Wendell Lopes, a economia do estado tende a sofrer algum impacto e deve ter  aumento no arrecadamento de royalties.

Na 11ª Rodada foram arrematados 142 dos 289 blocos oferecidos no Brasil em 23 setores distribuídos em 11 bacias sedimentares. “Estamos muito satisfeitos. O resultado da rodada superou as expectativas, que era de  arrecadar R$ 2 bilhões em bônus de assinatura. E  tivemos R$ 2,8 bilhões. Esta rodada está trazendo expectativas de investimento da ordem de R$ 7 bilhões. Isso é grandioso”, disse a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard.

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“A rodada, isoladamente, não é tábua de salvação”

Saiu na Tribuna do Norte:

Diretor-geral do CERNE, Jean-Paul Prates. (Foto: Emanuel Amaral)

Diretor-geral do CERNE, Jean-Paul Prates. (Foto: Emanuel Amaral)

A 11ª rodada de licitações da ANP é considerada um sucesso, contudo não trará em curto e médio prazo alta previsão de contratação de trabalhadores e não poderá, por si só, reverter o declínio na produção petrolífera do Estado. Na avaliação do diretor-geral do Cerne, Jean-Paul Prates, é preciso investir na revitalização dos campos já existentes. A reversão da queda de produção depende da descoberta de novas jazidas de petróleo e é essa a expectativa a partir da operação das empresas vencedoras do leilão.

Como você avalia o resultado do leilão?

É positivo. São R$ 250 milhões em investimentos mínimos comprometidos e cada investidor deve dobrar o compromisso de investimentos. Mas o resultado da rodada de licitação não é, isoladamente e por si só, uma tábua de salvação para a Bacia Potiguar, que está se exaurindo.

O que seria?

A tábua de salvação é a continuidade da participação da bacia nas rodadas de licitações, para renovar o portfólio. É garantir a revitalização na atividade já existente da produção, os campos maduros podem ser revitalizados com tecnologia mais moderna. Esse tipo de investimento a Petrobras está fazendo, mas tem campos que permanecem fechados, com baixa produção. Deve-se estudar ainda quais campos interessam ainda a Petrobras manter e quais ela pode passar gradualmente para operadoras locais, que poderiam dar uma atenção bem maior por ser o único negócio deles e não apenas um em meio de milhares.

O que se pode esperar a partir do resultado do leilão? 

Em curto prazo, em seis meses nada vai acontecer. A assinatura dos contratos está prevista para agosto. Depois começa a etapa de exploração, devem começar estudos internos, a aquisição de dados sísmicos e em geral é feita contratação de empresas especializadas, ou seja, lá pelo final do ano deve ter alguma contratação. O ciclo da sísmica gera pouca movimentação. A perfuração com as sondas já leva as próprias equipes. Vencida essa etapa e caso as empresas tenham sido bem sucedidas na busca por petróleo e/ou gás natural, começa a etapa de desenvolvimento e Produção.

Não deve reverter a baixa de empregos?

A escala de demissão de empregos chega a 2 mil. A movimentação com a entrada de empresas nos próximos dois anos deve retomar 200 a 300 empregos, 10 a 15% das baixas. Mas Petrobras vai construir um oleoduto, daí são mais 500 vagas. A revitalização dos campos maduros, mais empregos é uma colcha de retalhos.

E reversão de produção?

Já a  reversão de produção não tem como prever. São pelo menos cinco anos para o anúncio de uma ou duas descobertas.

O resultado era o esperado para uma bacia madura?

A bacia potiguar terrestre é muito bem explorada. O fato de ser conhecida e ter muitos dados ajuda. Vai atrair investidores mais conservadores, que gostam de operar com tranquilidade, de portes médio a pequeno.

Os lances e previsão de investimentos é bem maior em relação à bacia offshore se comparada à produção em terra. Por quê? 

A produção terrestre é, tecnicamente, muito barata. O que encarece é a licença ambiental que subsidia o Programa de Gás. Já a exploração no mar demanda mais tecnologias e a atratividade é maior. A bacia potiguar offshore teve uma releitura  em relação a comparação com a  geologia do oeste africano. O tamanho das empresas que operam no mar é maior, é uma escala diferente  de negócios, vários projetos, logística concentrada. Isso faz com que essas operadoras precisem ser  qualificadas pela ANP  para participar das rodadas.

Como você avalia a participação da Petrobras?

Foi uma atuação cirúrgica de pinçar apenas o necessário em blocos para fazer uma arrumação na casa, ter os dados que eram necessários, fez a composição prevista para recompor estoque.

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Doze blocos que sobraram podem ir de novo a leilão

Tribuna do Norte:

O saldo da Bacia Potiguar, assim como no país, foi positivo, de acordo com análise da ANP. Wendell Lopes, da Universidade Potiguar, lembra, porém, que a bacia está em processo de esgotamento a longo prazo, o que pode ter intimidado alguns investidores.

“Talvez alguns dos lotes não possuíam perspectiva promissora de produção que justificassem o investimento do leilão”, analisa Wendell Lopes, e acrescenta: “isso não minimiza o sucesso do leilão”. Os doze blocos que sobraram podem retornar em leilões futuros.

Para o diretor-geral do  Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), Jean-Paul Prates, é normal que nem todos os blocos sejam arrematados e aguardem o resultados de exploração dos que foram, e a  partir da aquisição de dados pode haver interesse, para retornar nos próximos.

“Não era esperado e nem é bom um setor inteiro ser arrematado, porque poderia ocorrer de dois, três consórcios explorar  o mesmo campo e serem obrigados a unitização do bloco, a virar sócios.  Pelo contrato, não se pode depletar o reservatório em detrimento do coletivo”, disse.

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