Smartphones estão cada vez mais presentes no cotidiano do potiguar

3 de fevereiro de 2014

Notícia publicada na Tribuna do Norte:

Pare e observe ao seu redor. Eles estão em todo lugar. Nos acompanham ao dormir… quando acordamos é o nosso primeiro contato. Levamos ao banheiro e até durante as refeições. Ali, de ladinho, à prontidão de qualquer urgência, na altura de um salto, de uma pegada de mãos. E se por acaso for esquecido em casa, é aquele alvoroço. Volta, sobe ladeiras e escadas, mas é preciso apanhar o aparelho telefônico móvel. Aquele, o chamado de celular.

Este sentimento relacional do ser humano com o objeto já está causando problemas. O comportamento provocado pela dependência do celular foi recentemente nomeado como “nomofobia”, nome designado na Inglaterra para descrever o medo de ficar sem celular (no + mobile + fobia).

Ele parece imprescindível para sobrevivência humana, como uma extensão do indivíduo. Na dependência patológica, o uso excessivo está ligado a um transtorno de ansiedade, como pânico ou fobia social, afirma a psicóloga Anna Lucia Spear King, pesquisadora do Laboratório de Pânico e Respiração do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

A pesquisa é pioneira no estudo científico no Brasil. Os principais sintomas da síndrome, apontados pelo estudo, são angústia e sensação de desconforto quando se está sem o telefone e mudanças comportamentais, como isolamento e falta de interesse em outras atividades. A força da ligação é tamanha a ponto de pessoas afirmarem – na ausência do aparelho -, ouvir ele tocar, ou até sentir sua vibração.

Mesmo com tantos sentimentos contidos, a ascensão do celular dos jovens aos mais velhos é fato, especialmente dos ditos “smartphones”. Antigamente, o celular já foi chamado de “tijolão”,  mas era sinal de status e poder aquisitivo. No Rio Grande do Norte, as operadoras que exploram a telefonia celular colocaram em funcionamento mais de 1,28 milhão de novas linhas entre 2010  e 2013. O Estado já tem 4,5 milhões de celulares, com média de 137,23 linhas para cada grupo de 100 habitantes.

STATUS

Maria Clara Dantas, 16, estudante. (Foto; daisa alves,joana lima e vlademir alexandre)

Maria Clara Dantas, 16, estudante. (Foto; daisa alves,joana lima e vlademir alexandre)

Os aparelhos podem servir até como balança de grau de importância de alguém. Não importa apenas a mensagem, o uso, mas o que é comunicado, o visualizado pela sociedade. É o meio, o fato de o celular está sendo utilizado. Como dizia Marshall MacLuhan, “o meio é a mensagem”. Essa é uma das razões para o aumento do prazer falando no celular de forma a serem vistas e ouvidas.  Assim como o aparato tecnológico, e as mudanças em design do objeto, este valor-importância por ele concedido ao indivíduo também foi modificado.  Em análise dos dias atuais, a possibilidade da multíplice conectividade valoriza o detentor do aparelho, aponta Taciana Burgos, professora de Comunicação Social. “É uma mudança no padrão antropológico”, considera.  Para adolescentes, como Maria Clara, surge como sinônimo de símbolo identitário na personalização interna e externa do celular; usando capas diferentes, pendurando acessórios,  baixando toques, jogos e músicas para interagir com seus pares.

Ela acorda com o celular ao seu lado, se sai sem ele não tem descanso, a lembrança é constante: “o que estarão falando comigo no celular?”. O namoro é mais virtual que presencial. Ela mora em Natal e ele em Ceará-Mirim. Se veem apenas no final de semana, os outros dias, é mensagem e ligações. “Sei me controlar, mas sei que tenho um pouco de vício”

MULTITAREFAS

Diwillson dos Santos, 26, taxista.

Diwillson dos Santos, 26, taxista.

Escutar uma música, assistir a um vídeo, ver as atualizações do Facebook, publicar uma foto no Instagram, checar a programação cultural do dia, marcar um encontro com amigos pelo WhatssApp, chamar um táxi e até  fazer uma ligação. O telefone celular é um objeto de multitarefas.   Esta variedade de funções agrega a necessidade pelo aparelho, elevando sua oferta econômica, como também a dependência do indivíduo.  Já refém das tecnologias da comunicação, o poder de reunir as mídias eleva a potencialidade da dependência ao celular. “Nós somos dependentes das mídias, já é uma tradição”, considera a professora de Comunicação Taciana Burgos. O taxista Diwillson dos Santos, diz que o celular é hoje uma importante ferramenta de trabalho.

Pelo seu smartphone recebe chamadas para corridas. Há quatro meses ele usa o aplicativo Easy – Táxi, gratuito para baixar em qualquer telefone que possua o sistema Android. Segundo o taxista é mais uma opção para o cliente, e significa um aumento na fatura em 50% ao final do mês.

TRABALHO

Há quem use, e bastante, o celular para fins profissionais e escolares. Empresas que desenvolvem aplicativos especializados para o serviço. Escolas que despertam para a necessidade de se adequar às novas tecnologias. Às mãos mais um objeto facilitador. No entanto, há riscos, especialmente no ambiente de ensino, onde a euforia da juventude pode estar a poucos cliques de um material impróprio. Eloisa Elena, psicopedagoga, relata que no início foi difícil administrar o uso do celular em sala de aula. Passado o tempo, hoje o conceito firmado é  de acompanhar o desenvolvimento tecnológico. “Orientamos aos professores ao uso adequado em sala”, explica. O serviço de mensagens instantâneas são utilizadas também para comunicação de grupos de profissionais, a distância. Em alguns restaurantes e lanchonetes de Natal já se visualiza o uso do smartphone, com o aplicativo devido, para transmitir o pedido do cliente diretamente pelo aparelho. “Recebo minha escala de trabalho pelo celular”, detalha o garçom, Luiz Heraldo.

Ele recebe aviso sobre a escala de trabalho da semana através de um grupo de mensagem instantânea no celular. E, caso haja alterações, é o meio para comunicação. No mais, faz uso para necessidades, como transferências bancárias e par ao lazer, como ouvir música e acessar as redes sociais.

PRAZER

José Bento Neto, 47, gari

José Bento Neto, 47, gari

O universo de aplicativos superpopularizou o smartphone.  Muda-se o foco da ligação, possibilitando o envio frequente de mensagens (em texto e imagens) e jogos virtuais, tudo online, pelo uso da internet. Em 2013, o IDC, uma consultoria especialista no ramo de tecnologia, fez uma pesquisa com usuários de smartphones nos Estados Unidos. Encomendada pelo Facebook, tentava descobrir como as pessoas usavam seus celulares. Segundo os resultados, apenas 16% do tempo era empregado em ligações.  Provocada a hiperconectividade,  um de seus efeitos é o vício, explicado por estudiosos. Dispositivos eletrônicos como os celulares geram a sensação de prazer para o cérebro que se sente recompensado a cada novidade recebida. Uma mera mensagem é um pacotinho de prazer. A substância estimulante é a dopamina, enviada para nossos neurônios, gerando uma sensação agradável.  O gari José Bento Neto  usa o aparelho para se comunicar com a família e jogar, nas horas vagas.

Em casa, são ao todo 7 celulares. Um para cada um dos três filhos, e dois para ele e a esposa. O  mais caro foi R$ 1.600 e o mais barato, cerca de R$ 300. Tudo para facilitar a comunicação em família. Inclusive, todos são da mesma operadora, para aproveitar as promoções. Durante o trabalho, o celular o acompanha. Em cada intervalo para descanso, é certo um joguinho para distrair.

CONSEQUÊNCIAS

Clênia Najara Fernandes, 34, professora.

Clênia Najara Fernandes, 34, professora.

Em qualquer momento ou lugar as pessoas param para dar atenção ao celular.Enquanto andam. Enquanto se alimentam. Enquanto participam de uma reunião. E – com maior perigo – até enquanto dirigem. Frequente no trânsito, a direção utilizando o celular está em quarto lugar no ranking de autuações do Departamento Estadual de Trânsito do RN (Detran). Dirigir usando celular é passível de multa, segundo o Código de Trânsito Brasileiro, de 1997. A gravidade da infração é média: R$ 85,13 no bolso e 4 pontos na carteira de habilitação.  Recentemente, o Brasil testemunhou uma consequência fatal deste erro. O motorista de caminhão que trafegava com a caçamba levantada e derrubou uma passarela, no Rio de Janeiro, provocando a morte de cinco pessoas, admitiu que usava o telefone celular no momento da colisão. Há perigo também para pedestres. Clênia Najara Fernandes vive caminhando pelas ruas digitando mensagens. “Não vivo sem ter um smartphone”.

O dedilhar ao celular sempre  acompanha seus passos apressados. Ao se aproximar da faixa de pedestres, alguns segundos para subir a vista ao sinal de trânsito. Passagem livre para pedestre, ela atravessa, sem se dar conta do perigo de uma mínima distração. Em questão de risco, a perda do aparelho também entra na balança. “Não vivo sem ter um smartphone”.

INDIVIDUALIDADE

Em uma mesa cercada de gente, cada um olha para seu próprio celular. Estimulados pela interação sem fronteiras, o indivíduo alimenta a criação de seu “mundo paralelo virtual”. Fugindo do sentimento da solidão, o conectado limita o relacionamento presencial ao ser humano e aparelho telefônico. “A pessoa conversa com muita gente e continua sozinha, está perdendo o contato do olho a olho. Dá um clique e o outro é descartável”, resume a psicopedagoga Eloísa Elena. “É uma nova ‘neverland’. Um mundo paralelo que os computadores pessoais abriram espaço, mas eles estão amarrados às mesas. Já os celulares não tem amarras”, explica Taciana Burgos. A cada dispositivo, em cada rede social ou aplicativo, pode se escolher um esteriótipo próprio a ser apresentado. Muitos confundem o aparelho com uma companhia: “É minha companhia vinte e quatro horas”, afirma Ricardo Nascimento.

Ele acorda, reza uma oração e logo se dirige ao celular. “É minha companhia vinte e quatro horas”, relata. O dia inteiro o celular fica em suas mãos, ou bolso, ligado no fone de ouvido, a fim de escutar um programação religiosa. O celular intermeia uma relação de fé e afasta o sentimento de solidão, ao contínuo som de músicas.

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